Em 1971, a vida da campesina Nora (Marie Leuenberger) não havia sido em nada afetada pelas revoluções sociais ocorridas na Europa a partir de 1968. No interior da Suíça, a dona de casa vivia uma vida tranquila e “naturalmente” submissa ao lado do marido Hans (Max Simonischek) e de seus dois filhos. Mas quando a tranquilidade dentro de casa é ameaçada pela recusa do marido em deixar que ela volte ao trabalho, ela passa a se movimentar para lutar não apenas pelos direitos individuais, mas também pelos direitos de todas as mulheres. Esta é a história de Mulheres Divinas, da diretora Petra Volpe, que estreou nos cinemas brasileiros em 14 de dezembro.
O longa-metragem selecionado para representar a Suíça no Oscar 2018 aborda o sufrágio feminino na Suíça a partir de um microcosmo em uma cidadezinha do interior do país. Quando a sobrinha Hanna (Ella Rumpf) é presa injustamente, Nora percebe que não bastava ser favorável ao voto feminino de forma silenciosa. Era preciso exigir seus direitos em alto e bom som. Assim, com o apoio da viúva Vroni (Sibylle Brunner), ela começa a fazer campanha e organiza um evento informativo. É assim que ela encontra uma oponente – também mulher – à altura: Charlotte Wipf, integrante do Anti-politicization of Women Action Committee e chefe do marido.
Segundo a diretora, a história foi baseada em fatos reais, aos quais Petra – também roteirista da obra – teve acesso em suas pesquisas e nas entrevistas que fez com importantes exponentes da luta pelo voto feminino. “Os personagens foram inspirados pela pesquisa. Eu li uma dissertação completa sobre os anti-suffragettes – os oponentes do direito de voto na Suíça. A partir da perspectiva de hoje, é difícil entender exatamente por que inúmeras mulheres em 1971 lutaram tanto contra a votação. Muitas vezes, eram mulheres muito educadas, acadêmicas, rainhas da aldeia, que se estabeleceram muito bem e talvez simplesmente não quisessem que suas cozinheiras tivessem voz também. Quando você olha as entrevistas com eles, você pode ver o comportamento de submissão”, declara Petra Volpe. “Eu pensei que uma mulher como adversária seria mais emocionante, porque levanta mais perguntas. O antagonismo dos homens na história é um dado, reflete-se na mentalidade da época”.
O longa-metragem suíço traz de forma extremamente equilibrada doses de drama e de comédia, algo raro de se conseguir sem que o filme se transforme em um “dramalhão” piegas. O fato de ser acessível a um público bastante heterogêneo é apenas mais um dos pontos fortes de Mulheres Divinas. Afinal, em tempos de conservadorismo exacerbado, é preciso manter-se em estado de vigilância e continuar discutindo sobre a luta por direitos, sejam eles quais forem.
“Mulheres Divinas é também sobre democracia e coragem civil, um assunto muito atual. Ser capaz de votar não é claro (sic), as mulheres lutaram por isso, e é uma prerrogativa valiosa que devemos nos lembrar nestes tempos realmente difíceis. Espero que o filme inspire as pessoas a fazer o que Nora faz: lutar, resistir, elevar a voz e se fazer ouvir”, declara Petra. “Até hoje, homens e mulheres são limitados por seus papéis de gênero prescritos. Há um sexismo internalizado profundamente enraizado em nossa sociedade. Isso prejudica nossas comunidades em níveis econômicos, sociais e políticos e não funciona em favor de ninguém. Quanto mais igual é uma sociedade, melhor ela é – isso é um fato estatístico”, completa.
Mulheres Divinas
Títulos originais: The Divine Order / Die göttliche Ordnung
Direção e roteiro: Petra Biondina Volpe
Elenco:Marie Leuenberger, Maximilian Simonischek, Rachel Braunschweig
Distribuição:Mares Filmes
Gênero: Drama
País: Suíça
Ano: 2017
Duração: 97 minutos