A direção do Correio Popular comunicou ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, nesta quinta-feira, 28 de janeiro, que a empresa não vai pagar nenhuma quantia referente aos atrasados que, para alguns profissionais, já supera 20 salários. À noite, os jornalistas, em seu 11º dia de greve contra o atraso nos salários, realizaram assembleia e decidiram manter o seu movimento.
A situação dos 30 jornalistas agrava-se dia a dia, diante da criminosa indiferença da empresa: o último pagamento, de apenas 1/8 do valor do salário, foi feito em 8 de janeiro, e vários profissionais não têm dinheiro sequer para pagar as contas básicas, como alimentação e moradia.
A empresa havia levantado a perspectiva de um acordo. Em reunião com o Sindicato em 18 de janeiro, o administrador da RAC (Rede Anhanguera de Comunicação, que publica o jornal), Ítalo Barioni, apresentou uma proposta para resolver os débitos trabalhistas acumulados com os jornalistas em greve e os ex-funcionários da empresa. Por ela, um prédio do grupo no centro de Campinas seria oferecido para leilão judicial, destinando-se o resultado à quitação das dívidas trabalhistas.
Os jornalistas haviam aceitado avançar na negociação de um acordo, desde que a empresa pagasse ao menos dois salários atrasados para que a greve fosse encerrada. Os donos da empresa (acionistas), como se sabe em Campinas, têm patrimônio pessoal que permite atender a essa demanda – demanda parcial e até modesta, considerando-se que são os grandes responsáveis pela catástrofe que se abate sobre dezenas e dezenas de profissionais e suas famílias. Onze dias depois, a empresa comunica sua resposta negativa ao pagamento de qualquer quantia.
Neste período, apunhalou os grevistas, montando uma redação para furar a greve. A nova redação iniciou sua atividade no primeiro dia de paralisação, 18 de janeiro, tocando o jornal desde então. A nova administração começa sua gestão violando a lei, pois, pelo parágrafo único do artigo 7º da lei 7.783, “é vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos (…)”. A legitimidade da greve é incontestável por qualquer pessoa dotada de um mínimo senso de Justiça, pois a empresa não paga os salários de seus funcionários. E as pessoas agora amealhadas para furar a greve já vêm ainda mais precarizadas, pois sequer se fala em contratá-las. Já se promete, desde logo, a fraude ao vínculo trabalhista de futuros funcionários.
Se falta alerta, este Sindicato avisa aos jornalistas que, neste momento, trabalham na redação fura-greve que elabora o Correio Popular, que estão violando abertamente o Código de Ética da profissão, além da solidariedade de classe com colegas em luta contra o não-pagamento de seus salários. Tal postura só auxilia a empresa a prosseguir no embuste que mantém há anos, abusando de profissionais que, a despeito de seu compromisso diário com o trabalho jornalístico, veem suas vidas serem tragadas pelo pesadelo do atraso crônico no pagamento de seus salários.
A assembleia dos jornalistas, nesta quinta (28), decidiu manter seu movimento, sua reivindicação – pagamento de todos os salários, 13ºs e depósitos de FGTS atrasados – e denunciar para a sociedade a vilania da forma de agir da direção e dos donos do Correio Popular, que fogem de sua obrigação social de pagar salários e recrutam gente de forma precária para montar uma equipe fura-greve.
Nesta sexta-feira (29), o Sindicato comunicou também ao Ministério Público do Trabalho as medidas antissindicais da empresa contra o legítimo direito de greve de seus trabalhadores. Em ação coletiva iniciada pelo Sindicato em dezembro de 2020 para cobrar o pagamento dos salários atrasados, a Justiça decidiu de forma liminar, também nesta sexta (29), arrestar os bens da empresa que possam garantir a quitação dos débitos.
Sem ética não há jornalismo! Sem jornalismo quem perde é a sociedade e o direito à informação, que tem de ser garantido a todos os cidadãos.