A guerra na Ucrânia, desencadeada no dia 24 de fevereiro, já matou cinco jornalistas e feriu mais de 35, até esta sexta-feira (18), considerando apenas as informações confirmadas. É curioso observar que a mídia ocidental atribui, sem prova, todas as mortes aos “ataques russos”, embora, em uma zona de guerra, na maioria das vezes não se possa saber ao certo de onde vêm os tiros e mísseis. Na segunda (14), as vítimas fatais foram o cinegrafista Pierre Zakrzewski, de 55 anos, e a jovem Oleksandra Kuvshinova, de apenas 24, ambos da Fox News.
Eles perderam a vida quando o veículo em que estavam foi atingido por um bombardeio e se incendiou em Horenka, perto da capital Kiev. A notícia chocou a comunidade dos correspondentes de guerra. Zakrzewski era considerado uma “lenda” na cobertura de conflitos no mundo. Era de origem irlandesa, morava em Londres e estava na Ucrânia desde fevereiro. O veterano esteve cobrindo guerras no Iraque, Afeganistão e Síria, entre outros países.
Oleksandra “Sasha” Kuvshinova era ucraniana, trabalhava como “consultora” da Fox e ajudava as equipes de jornalistas na produção e no reconhecimento dos locais de conflito na Ucrânia. O também correspondente de guerra da Fox na Ucrânia Trey Yingst, consternado, postou no Twitter a respeito da colega. “Sasha foi morta ao lado de Pierre. Ela era talentosa, de boas fontes e espirituosa. Gostava de fotografia, poesia e música. Nós nos tornamos amigos rapidamente por causa de um amor compartilhado por café. Ela tinha 24 anos”, escreveu.
Ele também comentou sobre Zakrzewski. “Eu não sei o que dizer”, postou. Trey Yingst assim definiu o colega morto: “Altruísta. Corajoso. Apaixonado. Sinto muito que isso tenha acontecido com você”.
Dentro de um carro em Irpin
Um dia antes, no domingo, Brent Renaud (51 anos) foi vítima de disparos e um deles, no pescoço, o matou dentro de um carro na cidade de Irpin, também próxima a Kiev. As primeiras notícias chegaram a informar que ele trabalhava no The New York Times, porque portava um crachá do jornal. Mas ele não era mais colaborador do periódico americano, que divulgou nota sobre o profissional. “Estamos profundamente entristecidos ao saber da morte de Brent Renaud. Brent era um cinegrafista talentoso que contribuiu para o The New York Times ao longo dos anos”, disse um porta-voz.
“Embora ele tenha contribuído para o jornal de Nova York no passado (mais recentemente em 2015), ele não estava em nenhuma cobertura do Times na Ucrânia”, acrescentou a nota do jornal. O fotógrafo Juan Arredondo estava com Renaud e ficou ferido. Americano de origem colombiana, Arredondo já ganhou o prêmio World Press Photo. Ele disse que soldados atiraram contra o carro onde ambos estavam.
Em 6 de março, Viktor Dudar, do jornal Express de Lviv morreu após ser alvejado durante combates em Mykolayiv, em 6 de março. A cidade fica no sul da Ucrânia, junto ao Mar Negro. E o cinegrafista Yevhen Sakun, da “Live TV” e da “Pyramid TV”, foi uma das vítimas fatais de um ataque de míssil contra uma torre de televisão em Kiev, em 1º de março.
Regras para jornalistas na guerra
No livro A Batalha de Sarajevo (1994, ed. Scritta), o jornalista Leão Serva – que cobriu a guerra civil da Bósnia-Herzegóvina entre 1992 e 1993 – descreve “algumas regras (que) ficarão ecoando na sua cabeça”, se você é correspondente de guerra.
“…‘Procure pôr a cabeça sempre junto à coluna entre as portas do carro: ali o metal é mais forte’; use o capacete (o que procurei evitar, pois imaginava que um possível observador-matador poderia ficar tentado a testar a resistência do aparato)’; ‘não se deixe nunca ficar exposto às montanhas: quando você vê uma delas, pode estar sendo visto também’”.