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SJSP e Fenaj solidarizam-se com a professora Adrienne Morelato, de Araraquara, e o professor César Cruz, de Ilha Bela, e repudiam as odiosas perseguições e punições que sofreram

Redação - SJSP

Cientes das inaceitáveis perseguições e punições sofridas pela professora Adrienne Kátia Savazoni Morelato, de Araraquara, e pelo professor César Augusto Mendes Cruz, de Ilha Bela, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) manifestam total solidariedade a tais profissionais da educação pública, que merecem o respeito da população por seu empenho e pela qualidade do seu trabalho em sala de aula.

É estarrecedor saber que a causa dos ataques desfechados contra Adrienne e César tenha sido justamente o fato de utilizarem como material didático obras de grandes nomes da literatura nacional, além de referências universais enriquecedoras do ponto de vista cultural: as mitologias africana e grega e a arte europeia.

A professora de Português foi perseguida pela direção da instituição na qual atua por trabalhar aspectos do livro “Morte e Vida Severina”, de autoria do diplomata e consagrado poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), com alunos do 9º ano.

A exibição de um filme a respeito dessa obra incomodou duas alunas, que se disseram “psicologicamente abaladas”. Após queixa das mães, a própria direção da escola incentivou estudantes a organizarem um abaixo-assinado contra Adrienne! Em outro episódio, ela recebeu advertência da direção por trabalhar o conto “A Terceira Margem do Rio”, cujo autor é Guimarães Rosa (1908-1967), um dos maiores escritores brasileiros.

No decorrer de uma aula, a professora foi interrompida com batidas na porta pela diretora da escola, vice-diretora e pelo responsável pelos recursos humanos. Diante dos alunos, alguns dos quais gritavam que aquilo era uma injustiça, fizeram-na pegar suas coisas e sair da sala, com papel de transferência em mãos. Transferência da qual Adrienne ficou sabendo só naquele momento.

A atitude truculenta e assediadora da direção da escola está relacionada ao desejo de que Adrienne se limitasse a lecionar os conteúdos pasteurizados da plataforma digital imposta pela Secretaria da Educação, “para a escola ir bem no Saresp e em outras provas”, avalia a professora. Outro caso gritante foi a censura sofrida por César Augusto Mendes Cruz, professor de história da Escola Municipal Major Olímpio, de Ilha Bela. Ao lecionar sobre o conceito de Tempo, o professor recorreu a mitos africanos da etnia Iorubá e à narrativa do titã Cronos. Exibiu três obras de arte europeias que retratam o tempo como figura masculina idosa: o quadro “Cronos devorando o seu filho”, de autoria do afamado pintor Goya (1746-1828); uma pintura de outro notável mestre, Rubens (1577-1640); e outra de Sellaio (1441-1483). Ao final da atividade ouviu-se a canção “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso, um de nossos maiores músicos e artistas.

Foi o que bastou para ser difamado na Câmara Municipal de Ilha Bela por um vereador bolsonarista, e para que algumas famílias de estudantes o chamassem de “diabólico”. César demitiu-se. Em seu favor intercederam a Apeoesp-Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo e a Associação Nacional de História (Anpuh).

SJSP e Fenaj consideram deprimente e perigoso esse estado de coisas que ameaça fazer nosso ensino público retroceder aos tempos da Inquisição. Professoras e professores necessitam de liberdade de cátedra. Não podem ser perseguidos, ameaçados, cerceados. Não podem sofrer intimidações de fundo religioso, nem pressões ilegais vinculadas a governantes de plantão. Por outro lado, nossas crianças e jovens necessitam de acesso ao melhor da arte e da cultura, nacional e universal, para que possam desfrutar de educação de boa qualidade. A gestão das nossas escolas públicas precisa ser democrática, como estipula aliás a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBE).

Por essas razões, SJSP e Fenaj reiteram seu enfático apoio a Adrienne e César, assim como seu mais absoluto repúdio ao assédio moral e institucional de que foram vítimas e às punições, absurdas e ilegais, que lhes foram aplicadas.

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