As mulheres são 51,4% da categoria. Essa equidade aparente nos postos de trabalho passa longe quando tratamos de salário: a remuneração média recebida por elas em 2019 foi de R$ 6.090,40, enquanto a dos profissionais do sexo masculino era de R$ 7.374,50. Ou seja, elas recebiam apenas 82% da remuneração recebida por eles.
Quando o levantamento do Dieese detalha o número de mulheres e de homens e suas remunerações em cada uma das funções jornalísticas delimitadas no Código Brasileiro de Ocupação, é possível perceber que essa desigualdade salarial se dá em dois níveis. Primeiro, se a categoria é dividida ao meio em termos de gênero, o mesmo não acontece quando falamos de empregos com maiores salários: aí, de forma geral, há menos mulheres. Ao mesmo tempo, há diferenças significativas nas médias salariais entre trabalhadores e trabalhadoras que ocupam o mesmo tipo de cargo.
Assim, entre os trabalhadores registrados como “Editor”, por exemplo, há 1.695 homens com remuneração média de R$ 7.916,90, e 300 mulheres a menos, com média menor, de R$ 7.745,30. Entre designers gráficos, a diferença ultrapassa R$ 1.500.
A situação reproduz, na nossa categoria, o que acontece no mercado de trabalho nacional. “A regra é que qualquer ocupação, em qualquer setor econômico, em qualquer faixa salarial ou nível de formação, as mulheres vão receber menos que os homens, mesmo nos setores considerados tipicamente femininos, como saúde ou educação”, afirma Adriana Marcolino, do Dieese.
Para ela, existe uma desvalorização monetária da força de trabalho da mulher. “Há todo um debate de que a qualificação, melhoraria a renda da mulher, mas estudo do Dieese mostra que, quanto mais aumenta o grau de formação, maior é o gap em relação ao salário do homem”.
Segundo Adriana, nossa sociedade entende que mulheres têm algumas habilidades específicas que são “naturais”, entre elas a capacidade de cuidar. Então, é também natural que o trabalho doméstico, reprodutivo, de cuidado, seja destinado às mulheres. “Uma trabalhadora que precisa dar conta da casa, dos filhos, vai ter mais dificuldade de inserção profissional. Ela vai ter que encontrar um trabalho com horários compatíveis com os da creche, por exemplo.”
A carreira profissional feminina é, geralmente, entrecortada por uma série de eventos com relação à questão reprodutiva, com impacto na remuneração. Ela exemplifica: “Eu estou num emprego em que tenho progressão na carreira, mas saio para a licença-maternidade, ou sou demitida depois disso [como acontece com mais de 50% das mães nos primeiros dois anos após o parto, segundo a Fundação Getúlio Vargas]. Quando volto ao mercado de trabalho, vou para o final da fila”.
Márcia Viana, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT São Paulo, lembra que, em momentos de crise como o que estamos vivendo, as mulheres são as primeiras a serem demitidas, assim como os negros e os jovens. Isso por si é um efeito perverso do machismo no mundo do trabalho, mas também um dos fatores pelo qual a evolução salarial da mulher é constantemente interrompido.
Ela aponta que a maternidade, ou a possibilidade de a trabalhadora vir um dia a ficar grávida, é algo visto pelas empresas como uma oportunidade para pagar menos, para demitir. “Nós temos um presidente machista, que já disse que mulher tem que ganhar menos porque ela engravida”, lembra Márcia.
A dirigente cutista defende que “é preciso quebrar essa cultura de discriminação de gênero e de raça, que existe em todo o mundo. É importante os sindicatos sempre tentarem incluir nas convenções coletivas de trabalho cláusulas que tratem de salário igual para trabalho igual, do auxílio-creche, da licença parental compartilhada. Essa é uma luta intensa e contínua”.