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Parada LGBT defende eleições diretas e exige mudanças no Congresso

Parada LGBT defende eleições diretas e exige mudanças no Congresso


Militantes criticam atuação de parlamentares e reforçam luta pelo Estado laico


A irreverência e a alegria sempre presentes nas Paradas do Orgulho LGBT mais uma vez marcaram a 21ª edição do encontro que celebra a diversidade. E, desta vez, ganhou um caráter político mais profundo em um país em crise e que decide o futuro de milhares de cidadãos e cidadãs num Congresso Nacional com influência da bancada evangélica.

Com milhares de pessoas na Avenida Paulista neste domingo (18), uma das maiores paradas do mundo deixava explícito com o tema deste ano, “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todos e todas por um Estado laico”, a necessidade de resistir e lutar, mais do que nunca, por políticas públicas em defesa dos direitos humanos.

Especialmente, num Brasil ainda marcado por discriminação à orientação sexual, como comprova o assassinato de 117 pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) no Brasil, nos quatro primeiros meses deste ano, segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB).

Para o coordenador do Coletivo LGBT da CUT de São Paulo, o metroviário Marcos Freire, a Parada ajudar a colocar em debate o modelo de sociedade que desejamos e estamos construindo. “Ela dá visibilidade aos avanços que tivemos para a população LGBT, mas mostra também os nossos desafios, já que temos um Congresso conservador num momento de golpe que tem como objetivo a retirada de direitos”, afirma.

É por isso também que, na avaliação da secretária de Políticas Sociais da CUT São Paulo, Kelly Domingos, a defesa do Estado laico se soma à luta por eleições diretas e por mudanças na representatividade parlamentar. “O fundamentalismo não é bom para nada e mostra a face de um autoritarismo perverso. Quando a bancada evangélica mostra sua cara, ao lado de tantas outras bancadas conservadoras, a gente percebe que a intolerância está presente, a mesma que vitima milhares de pessoas todos os anos”, protesta.

Desde que foi dado o golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff, Walmir Siqueira, do Coletivo LGBT do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), acredita que a bancada religiosa se fortaleceu no poder “Sabemos que o golpe acentua o fascismo e a discriminação. Aí cresce o machismo, a LGBTfobia, o xenobofismo e outros ódios. E não é segredo que o estado de São Paulo é o que mais mata a comunidade LGBT”.

Estamos na Parada

O cozinheiro Márcio S., de 36 anos, contou sobre sua paixão pela gastronomia e relatou ter sempre se assumido como travesti. Ele disse ser respeitado em seu local de trabalho e, ao ser questionado sobre a atual crise brasileira, ele defendeu mudanças no comando do País. “A solução para mim é tirar Michel Temer e fazer eleições novamente”, disse.

Ao desfilar pela Rua Cincinato Braga, paralela à Avenida Paulista, o casal heterossexual Flávio Machado e Marlene Moura pediu para tirar uma foto com Márcio. Ali, eles reforçaram a importância da Parada LGBT e a caracterizaram como um passeio da família.

“Somos a favor desta liberdade e desta diversidade”, diz Marlene. “É justamente o que falta aqui na cidade, mais respeito às escolhas das pessoas, aos idosos, aos pedestres, aos que têm opinião política diferente. Tá faltando respeito por aqui”, avaliou Flávio.

Opressão e superação

A professora de Filosofia, Eunice Gomes da Silva, relatou o drama que viveu desde que se viu obrigada a encobrir sua orientação. Ao lado pai e mãe evangélicos, ela passou anos de sua vida sem assumir ser lésbica.

“Meu pai sempre dizia que preferia ter uma filha morta a uma filha lésbica. Então eu me casei com um homem e no período de 12 anos eu tive dois filhos. Me sentia violentada porque não tinha atração sexual por homens, só por mulheres”, relata.

Depois de 12 anos, Eunice se separou, sem explicar o motivo. Ficou 15 anos sem se relacionar com ninguém até tomar as rédeas de sua vida. “Hoje estou casada com minha companheira há seis anos e sou feliz. Depois que meus pais faleceram, eu tive coragem de abrir o jogo com toda a família e hoje convivo tranquilamente com meus filhos e netos. Não acho que a religião deva comandar a vida de ninguém. A minha fé em Deus nunca foi abalada, mas jamais acreditarei nas religiões fundamentalistas”, conta.

Sobre a atual situação do Brasil, ela acredita que a luta deve se dar nas ruas.  “Devemos ocupar os espaços, sensibilizar e dialogar com a população sobre o que de fato acontece com o nosso país. Acredito que muitas pessoas nem tenham a dimensão de que vivemos um golpe”, afirma.

Empoderamento

A transexual, negra, Marcela Monteiro, é cabeleireira no bairro do Capão Redondo. No último período, ela recebeu da comunidade onde vive o reconhecimento e a faixa de Diva Trans da Zona Sul, que fez questão de mostrar durante a Parada.

“As pessoas precisam se empoderar parar de se esconder dentro de armários existentes dentro de suas próprias mentes e se colocar na sociedade. Hoje eu sou cabeleireira e educadora social, mas já me prostituí durante cinco anos e essa foi uma experiência muito ruim, por isso mudei a minha vida. Só que sabemos que vivemos num país racista, homofóbico e transfóbico”, pontua.

Vestida com uma fantasia de Frida Kahlo, a transexual Gisella Giva afirma que a pintora mexicana a inspira. “Ela foi a personificação do pensamento da mulher e já naquela época transcendeu costumes”, ressalta.

Gisella é gerontóloga e cuida de pacientes com mal de Alzheimer. “A discriminação e a rejeição nunca é dos pacientes com quem trabalho, até porque muitos não têm sequer consciência do que estão vivendo. Mas vêm das famílias. Sendo trans eu tenho que provar duplamente minha capacidade como profissional”, relata.

Escrito por: Vanessa Ramos – CUT/SP
Foto: Jordana Mercado

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