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O golpe e nós

O golpe e nós

 

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Entre ser paranoico e ser ingênuo, sempre optei pela paranoia. Cresci assim, o que vou fazer? Portanto, um golpe está sendo preparado? É claro que sim! Ele será dado? Espero que não. Mas entre querer, preparar e encaminhar uma ação, e esta ação acontecer, está em jogo apenas a concretização de um desejo. Logo, atentemos aos sinais e nos movamos com os nossos desejos de liberdade, igualdade e fraternidade contra os desejos autoritários. Afinal, de uns tempos para cá, os sinais estão ficando cada vez mais claros.

Primeiro temos uma mídia hegemônica que passa anos a pregar contra a política e os políticos – de maneira geral, é claro – para construir um ambiente que atribui à política o local da corrupção, e aos políticos – todos – o papel de corruptos. Depois se constituem partidos que estabelecem regras de tal maneira a não ser possível distinguir programas, compromissos e nem mesmo os papéis dos atores. A volatilidade, a ambiguidade e a promiscuidade são tais, que num primeiro momento não é possível acompanhar a dança das cadeiras de partidos de determinados políticos. Num segundo momento, não tem mais importância identificar os partidos.

Desconstituídos assim, a política e em seguida os partidos, o que sobra são as personalidades. Corruptas por princípio, segundo a mídia, elas só se salvarão se unirem- se no coro do “pega ladrão” na expectativa de que todos olhem para o outro lado. Assim, Se reduz a política ao preceito lacerdista de caça aos corruptos (os outros, é claro), ignora-se que o que está em jogo, e sempre esteve, são as decisões que incidem sobre a economia que decidirá, afinal, se mantêm-se os privilégios ou se divide-se de maneira um pouco mais equânime as riquezas da nação.

Um terceiro passo é reintroduzir a violência como instrumento da política. Fascistas e nazistas sabiam disso muito bem. A violência incorpora-se e naturaliza-se. Primeiro confundindo-se e legitimando-se nos espaços da sociedade civil que desencadeia forças equivalentes nos estamentos estatais. Depois elege-se objetivos genéricos o suficiente para serem atribuídos a qualquer um e, principalmente, serem irrealizáveis para alimentar a frustração e o desencanto, alimentos indispensáveis do autoritarismo. Escolhe-se e denomina-se os supostos corruptos a serem depostos, mesmo se estes forem eleitos democraticamente.

Finalmente realiza-se uma disputa eleitoral onde o tom proposto é de chutar o balde, de rasgar as regras em tese aceitas por todos. O principal ator da oposição formal soma-se ao principal ator da oposição simbólica e passam, juntos, a pregar a ruptura institucional. O nome disto é golpe político. Já passamos por isto quando viabilizado pelos militares. Vemos agora, ao nosso redor, na América Latina, golpes com outro formato e outros agentes, mas com o mesmo objetivo de garantir privilégios ao arrepio da lei.

O golpe à brasileira ainda está na fase do ridículo e do inverossímil, como era risível a movimentação de tropas do General Mourão em 1964 a perder tanques no caminho de Minas. Mas já conseguiu algumas proezas: colou no PT, somente nele, a marca da corrupção. Feito considerável se olharmos a história das privatizações, só para ficarmos num dos momentos mais importantes da transferência de recursos públicos para mãos privadas, sem trocadilho. Elegeu a violência como ferramenta, assumida sem vergonha por damas e cavalheiros bem vestidos, semeou o ódio como ideologia e dividiu artificialmente o Brasil. Aceitou a xenofobia, o racismo e a homofobia como preço a pagar a aliados fascistas.

Espero sinceramente que minha paranoia perca para minha ingenuidade. Enquanto isso, vamos estocar alimentos, forças e convocar as instituições democráticas a se contraporem a qualquer retrocesso institucional no Brasil.


Celso Augusto Schröder, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)

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