Nesta segunda (27), em assembleia interestadual, os profissionais de veículos como O Globo, Valor Econômico, Época, e de publicações da Editoras Globo e Globo Condé Nast decidiram sobre os acordos individuais de redução salarial e de teletrabalho impostos. Depois de um movimento coletivo dos jornalistas de não aderirem aos termos enviados pelo RH, de várias assembleias locais e interestaduais, que em São Paulo chegaram a reunir 130 colegas, e da insistência na negociação coletiva por meio dos sindicatos das três praças, a empresa cedeu em pontos como Vale-Refeição integral, manutenção do piso com complementação pela empresa e controle de ponto em homeoffice.
A Editora, no entanto, não aceitou fechar acordo coletivo e recuou em compromissos previamente assumidos, como estabilidade. Para o Sindicato dos Jornalistas SP, mesmo sem assinatura coletiva, o fato é que a mobilização dos jornalistas conseguiu avanços para o conjunto de jornalistas, em uma situação na qual a lei e o STF deram uma força ainda maior para a empresa se impor frente aos trabalhadores.
Veja abaixo nota redigida e divulgada pelos jornalistas da Ed. Globo e Globo Condé Nast.
Nota de Repúdio dos Jornalistas do Rio, São Paulo e Brasília da Editora Globo
Diante da proposta da Editora Globo de reduzir os salários e jornadas em 25% com base na Medida Provisória 936, os jornalistas da empresa no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília se mobilizaram em três assembleias gerais e acabaram por decidir, em reunião virtual realizada hoje, 27 de abril, aceitar a proposta patronal.
Apesar de a categoria ter decidido aceitar a proposta da empresa, por maioria dos votos, foi deliberado em assembleia o repúdio coletivo à maneira como as negociações foram conduzidas pela Editora Globo. Durante o processo, a empresa enviou termos e comunicados desencontrados, confundindo os jornalistas a respeito do que estava sendo colocado em questão e voltando atrás em demandas inicialmente atendidas, como a de manter a estabilidade no emprego por seis meses.
Além disso, a Editora Globo se recusou a fazer a retificação das propostas iniciais mesmo após ter aceitado parte dos pleitos dos jornalistas, levantando dúvidas sobre a segurança jurídica do processo. Ao mesmo tempo, a empresa pressionou individualmente os funcionários e fechou de forma abrupta a janela de negociações coletivas com os sindicatos das três praças.
A Editora Globo tampouco ofereceu evidências concretas que justificassem o corte de salários da categoria, se eximindo de enviar aos jornalistas relatório das receitas demonstrando redução significativa no último mês, comprovando o impacto pelo isolamento social em função da pandemia do novo coronavírus.
Vale frisar que a postura adotada pela empresa não condiz com discurso reiterado de valorização do fazer jornalístico e da função essencial dos jornalistas em momento grave como o atual.
A crise provocada pelo novo coronavírus causou graves consequências econômicas e sociais – e os jornalistas sabem que não são os únicos a sofrerem com a redução salarial. Em nenhuma das propostas enviadas à empresa, a classe questionou o impacto salarial em situação de emergência. Cobrou, sim, medidas sobre outros pontos da discussão, como a estabilidade no emprego, a integralidade do vale-refeição e a garantia do plano de saúde, tão importantes em um momento como esse.
Não se tratou, portanto, da defesa de privilégios, mas de direitos básicos a qualquer trabalhador, ainda mais àqueles que prestam serviço essencial na atual conjuntura, em que informação de qualidade pode ser a diferença entre a vida e a morte. Os trabalhadores fizeram isso pela consciência de seu dever como jornalistas. Fizeram isso em momento em que agressões virtuais e físicas se tornaram padrão nos tempos de polarização política em que vivemos.
E o que ocorreu? Durante todo o final de semana recebeu como resposta o silêncio.
Essa situação levou a maioria dos trabalhadores a optarem pela assinatura, embora insatisfeitos com seus termos. Os jornalistas da Editora Globo foram ludibriados para que, ao final, se vissem frente a uma escolha impossível: ou a assinatura de um acordo que em muito perde em relação ao de outras empresas de mesmo porte e em situação financeira mais complicada; ou correr o perigo de demissão iminente de colegas.
Mais uma vez, os trabalhadores pagarão a conta para cobrir um prejuízo causado não apenas pelas mudanças do modelo de negócios pelo qual toda a imprensa passa, mas também por anos de erros de gestão, desperdício e escolhas questionáveis.
Mais uma vez, os trabalhadores pagarão a conta de um prejuízo que, em meio a uma pandemia, não foi considerado aceitável pelos donos da empresa, que, infelizmente, resolveram manter o equilíbrio contábil à custa dos seus funcionários.
Mas valeu a luta coletiva dos jornalistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Ficou a lição: unidos somos mais fortes!