Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo
Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Logo da Federação Internacional de Jornalistas
Logo da Central Única dos Trabalhadores
Logo da Federação Nacional de Jornalistas

Jornalistas repudiam ex-colega de faculdade que assediou russa

Jornalistas repudiam ex-colega de faculdade que assediou russa

Jornalistas que fizeram graduação na Universidade Metodista de São Paulo identificaram o ex-colega de turma Leonardo da Silva Júnior entre os brasileiros que assediaram uma mulher russa durante a Copa do Mundo 2018, no último dia 16 de junho, e divulgaram uma carta de repúdio que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) reproduz abaixo. A iniciativa partiu de mulheres que estudaram na mesma classe que Silva Júnior, e a carta recebeu apoio e foi assinada por alunos e alunas que estão atualmente na mesma universidade.

Para a direção do SJSP, o caso envolvendo o jornalista é lamentável e execrável pelo machismo, pela misoginia e pelo total desrespeito às mulheres, uma atitude que os e as dirigentes rechaçam e que há anos combatem fortemente na ação sindical da entidade junto às empresas de comunicação. 

Na Rússia, o grupo de brasileiros se aproveitou do desconhecimento da torcedora russa quanto ao idioma para constrangê-la fazendo a jovem repetir palavras obscenas, e ainda registraram o assédio em vídeo que viralizou na internet em todo o mundo.

Além de Leonardo da Silva Júnior, que apagou o próprio perfil no Facebook depois que o vídeo ganhou repercussão, também foram identificados outros assediadores, entre os quais o tenente Eduardo Nunes, da Polícia Militar de Santa Catarina, que reside em Lages e que responderá um processo administrativo disciplinar instaurado pela corporação. Outro é o advogado Diego Valença Jatobá, ex-secretário de Turismo, Esporte e Cultura de Ipojuca, em Pernambuco, condenado pelo Tribunal de Contas pernambucano por irregularidades na prestação de contas do município.

Entre os assediadores ainda foram identificados o engenheiro civil Luciano Gil Mendes Coelho, servidor público na cidade pernambucana de Araripina, que responde processo administrativo por não comparecer ao trabalho e que já foi investigado, em 2015, pela Polícia Federal por desvio de dinheiro público, além do supervisor de voos Felipe Wilson, que trabalhava na companhia aérea Latam e foi demitido pela empresa.

Na Rússia, a advogada feminista Alena Popova criou uma petição na internet para exigir um pedido de desculpas dos torcedores brasileiros pelo assédio. No Brasil, o caso foi repudiado por ministérios do governo federal, como o de Esportes e de Turismo, além da OAB-PE e da ONU Mulheres, entre diversas outras entidades e organizações.

Confira a íntegra da carta divulgada por ex-alunos e por atuais estudantes da Universidade Metodista de São Paulo:

Carta de repúdio ao jornalista Leonardo da Silva Júnior, ex-colega de turma, assediador no caso envolvendo a mulher russa

Nós, jornalistas, ex-alunas/os da Universidade Metodista de São Paulo, do curso de Jornalismo, graduadas/os no ano de 2006, no período noturno, vimos por meio desta carta declarar o nosso absoluto repúdio ao ato do colega de turma Leonardo da Silva Júnior, conhecido nas redes sociais como Leo Catuaba Selvagem, que, junto de um grupo de homens, praticou assédio contra uma mulher russa, fato registrado em vídeo pelos próprios assediadores e que vem sendo amplamente divulgado e criticado.

Em uma das versões do vídeo que circulam pelas redes, Leonardo aparece atrás da vítima, trajando um boné com a aba virada para trás. No registro, fica evidente que Leonardo entoa, junto do grupo, palavras ofensivas, as quais também profere a vítima, provavelmente desconhecendo a língua portuguesa e a intenção assediadora do grupo.

Acontecimentos como esse são rotineiros no Brasil, onde assédios às mulheres, assim como à comunidade LGBTQIA+, são insuficientemente registrados, denunciados e juridicamente encaminhados. Por isso mesmo, apoiamos, e mais, consideramos imprescindíveis ações que envolvam a denúncia, a apuração e o enquadramento jurídico do ato, de teor evidentemente machista e racista, e consequências coerentes.

A “brincadeira” – como alguns/as se referem a esse ato – desses homens, que fazem referência à cor do sexo da vítima, como quem a celebra, é sintoma e resultado de desigualdades sociais de gênero e de raça, de forma indissociável, que há séculos danam mulheres, psicológica e fisicamente. Trata-se de um notório desrespeito que só é possível porque, em sociedades patriarcais, potencializa-se, prioritariamente, a autonomia ou soberania de homens brancos, heterossexuais e cisgênero.

É de longa data e larga repercussão a luta de movimentos feministas ou de mulheres no sentido de denunciar, legitimar e limar essas desigualdades, que são estruturais e estruturantes desta sociedade. É fundamental que se deixe de naturalizar acontecimentos como esse e que se busque e destaque, cada vez mais, alternativas para debater e desconstruir o machismo, condição predatória para as mulheres, comunidade LGBTQIA+ e também para a subjetividade dos homens heterossexuais cisgênero.  A masculinidade tóxica é prejudicial a todas e todos.

O descaso com pautas envolvendo desigualdades de gênero e raciais deve ser combatido em todos os espaços, institucionais ou não, e também ceifado de formadores/as de opinião, como é o caso de Leonardo da Silva Júnior, que, embora hoje não exerça função no jornalismo, tem o título de Bacharel na profissão.

São outros homens identificados no registro em vídeo do ato, até o momento, o engenheiro civil Luciano Gil Mendes Coelho, ex-secretário de Saúde e de Educação do Estado do Piauí; Diego Valença Jatobá, que foi secretário de turismo de Ipojuca (PE); e o policial militar Eduardo Nunes, tenente em Lages, na serra catarinense.

Assinam esta carta as/os jornalistas:
Adriana Alves
Adriano Oliveira
Aline Szelpal Pires
Amanda Prado
Ana Luiza Rodrigues Basilio
Ana Paula Roldão
Camila Brunelli
Daniel Betega
Débora Freitas
Dóris Lira
Douglas Brito
Fabiana Menezes
Gabriela Rocha
Gabriel Toueg
Geisa D’avo
Havolene Valinhos
Jéssica Lavrini Panazzolo
Joana Horta
Karin Sato
Karla Machado
Laís Correard
Luciana Robles Rafael
Marcelle Grêco
Marcelo Pereira da Silva
Marília Rosa Barbosa
Natane Tamasauskas
Nubia Zuanaci
Obede Junior
Pamela Lee Hamer
Paulo Roberto Scalabrin
Rafael Horta
Raquel Marques Cotrim
Renata Guerra
Renata Leandro Boniol
Renata Rossi
Renata Trigo Bayarri
Rodrigo Martins
Rosana Villar de Souza
Samara Busa
Sarah Maluf
Tatiana Ferreira
Thais Queiroz
Vinicius Navarro Morende

veja também

relacionadas

mais lidas

Pular para o conteúdo