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Continuação do genocídio em Gaza escancara cumplicidade ativa dos EUA e potências europeias com as ações criminosas de Israel

Redação - SJSP

Desde outubro de 2023, mais de 56 mil palestinos e palestinas foram assassinados por Israel em Gaza, incluindo cerca de 17 mil crianças. Essa é a contagem oficial do Ministério da Saúde de Gaza, mas já se sabe que o número real de vítimas é bem maior, pois milhares de corpos não foram localizados e permanecem sob toneladas de escombros dos prédios bombardeados.

Embora o governo norte-americano pareça finalmente estar pressionando Israel para que aceite firmar um acordo de paz com o Hamas, principal grupo da resistência palestina, enquanto isso não acontece Israel continua assassinando dezenas de civis palestinos(as) a cada dia. A cumplicidade ativa dos EUA e das principais potências europeias — Alemanha, Reino Unido e França — é o que garante a impunidade de Israel e a continuação das incontáveis atrocidades e crimes de guerra cometidos pelo Exército israelense em Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém e também no Líbano, Síria e Irã.

O estudo intitulado “Número de mortes violentas e não violentas na Guerra de Gaza: novas evidências primárias”, conduzido pelo britânico-estadunidense Michael Spagat, professor da Universidade de Londres, estimou a ocorrência de 75 mil mortes violentas em Gaza entre 7 de outubro de 2023 (dia do ataque do Hamas e do início da retaliação israelense) e 5 de janeiro de 2025. Entre as vítimas fatais, 56% eram mulheres com idades entre 18 e 64 anos, crianças, adolescentes e idosos. O estudo também estimou 8,5 mil mortes “não violentas” acima do esperado, ou seja, decorrentes de fome, doenças, etc., em consequência dos bombardeios e do cerco total de Gaza por Israel.

Financiado pelo Instituto de Pesquisas da Paz de Oslo e pelo Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres da Universidade Católica de Louvain (Bélgica), o estudo conclui que “(a) o número de mortes violentas da guerra resultou na morte de cerca de 3,6% da população de Gaza”; “(b) cerca de 56% das mortes violentas ocorreram entre mulheres, crianças e idosos”, percentual semelhante ao encontrado pelo Ministério da Saúde de Gaza; e “(c) as mortes violentas superam em muito as mortes não violentas”.

As forças armadas israelenses continuam a alvejar dezenas de civis palestinos, seja nos pontos de distribuição de alimentos, seja em outros locais, como o al-Baqa Café, atacado covardemente pela Marinha de Israel no último dia 30 de junho. Popular, situado à beira-mar e local de encontro de ativistas, jornalistas e moradores locais por oferecer conexão wi-fi, o al-Baqa Café foi alvo de um míssil que matou cerca de 40 pessoas, entre as quais o fotojornalista e cineasta Ismail Abu Hatab. Com sua morte, o número de jornalistas assassinados por Israel desde o início do genocídio em Gaza sobe para 226. A jovem jornalista Bayan Abu Sultan também ficou ferida no ataque.

Quanto ao mortal esquema de distribuição israelense de alimentos em Gaza (por meio da assim chamada “Fundação Humanitária de Gaza”), que tem funcionado como uma espécie de armadilha e “matadouro” de palestinos famintos, cerca de 200 entidades internacionais assinaram um manifesto intitulado “Gaza: Fome ou Tiroteio — Esta Não é uma Resposta Humanitária”, que propõe a retomada dos mecanismos de coordenação existentes, liderados pela Organização das Nações Unidas (UNRWA), bem como a retirada do bloqueio do governo israelense à ajuda e suprimentos comerciais.

“Os 400 pontos de distribuição de ajuda que operavam durante o cessar-fogo temporário em Gaza foram substituídos por apenas quatro locais de distribuição controlados por militares, forçando dois milhões de pessoas a se alojarem em zonas superlotadas e militarizadas, onde enfrentam tiros diários e baixas em massa enquanto tentam acessar alimentos e são privadas de outros suprimentos vitais”, diz o documento assinado pela Anistia Internacional, Médicos sem Fronteiras, Caritas Internacional, Associação pelos Direitos Civis de Israel (ACRI), B’Tselem-Centro Israelense de Informação sobre Direitos Humanos nos Territórios Ocupados e outras importantes entidades internacionais ou nacionais.

“Hoje, os palestinos em Gaza enfrentam uma escolha impossível: morrer de fome ou correr o risco de serem baleados enquanto tentam desesperadamente obter comida para alimentar suas famílias. As semanas que se seguiram ao lançamento do esquema de distribuição israelense foram algumas das mais mortais e violentas desde outubro de 2023”, protesta o manifesto. “Em menos de quatro semanas, mais de 500 palestinos foram mortos e quase 4 mil ficaram feridos apenas tentando acessar ou distribuir alimentos. Forças israelenses e grupos armados — alguns supostamente operando com o apoio das autoridades israelenses — agora abrem fogo rotineiramente contra civis desesperados que arriscam tudo para sobreviver”.

As entidades humanitárias e de proteção a direitos humanos dizem ainda que o sistema humanitário existente na Faixa de Gaza foi “deliberada e sistematicamente desmantelado pelo bloqueio e pelas restrições do Governo de Israel, bloqueio que agora está sendo usado para justificar o encerramento de quase todas as outras operações de ajuda humanitária em favor de uma alternativa mortal, controlada pelos militares, que não protege os civis nem atende às necessidades básicas”, e que tais medidas “visam sustentar um ciclo de desespero, perigo e morte”.

Prosseguem, evidenciando que existem alternativas ao horror atual: “Atores humanitários experientes permanecem prontos para prestar assistência vital em larga escala. No entanto, mais de 100 dias após as autoridades israelenses terem reimposto um bloqueio quase total à ajuda humanitária e aos bens comerciais, as condições humanitárias em Gaza estão se deteriorando mais rapidamente do que em qualquer outro momento dos últimos 20 meses”.

O documento detalha o modus operandi da suposta “Fundação Humanitária de Gaza”, mantida e controlada por Israel sob os auspícios do governo Trump. “Sob o novo esquema do governo israelense, civis famintos e debilitados estão sendo forçados a caminhar por horas por terrenos perigosos e zonas de conflito ativas, apenas para enfrentar uma corrida violenta e caótica para chegar a locais de distribuição cercados e militarizados com um único ponto de entrada. Lá, milhares são soltos em cercados caóticos para lutar por suprimentos limitados de alimentos. Essas áreas se tornaram palcos de repetidos massacres em flagrante desrespeito ao direito internacional humanitário”, denuncia.

“Crianças órfãs e seus cuidadores estão entre os mortos, com crianças feridas em mais da metade dos ataques a civis nesses locais”, acrescenta. “Com o sistema de saúde de Gaza em ruínas, muitos dos baleados são abandonados sangrando sozinhos, fora do alcance de ambulâncias e privados de cuidados médicos vitais”.

Por fim, as signatárias apelam “a todos os terceiros estados” no sentido de que adotem “medidas concretas para pôr fim ao cerco sufocante e defender o direito dos civis em Gaza de ter acesso seguro à ajuda e receber proteção”; exortem doadores “a não financiarem programas de ajuda militarizada que violem o direito internacional, não respeitem os princípios humanitários, agravem os danos e arrisquem cumplicidade em atrocidades”; apoiem a “restauração de um mecanismo de coordenação unificado, liderado pela ONU — baseado no direito internacional humanitário e que inclua a UNRWA, a sociedade civil palestina e a comunidade humanitária em geral — para atender às necessidades das pessoas”.

Reiteram ainda a urgência de cessar-fogo imediato e sustentado, a libertação de todos os reféns e prisioneiros detidos arbitrariamente, acesso humanitário total em larga escala “e o fim da impunidade generalizada que permite essas atrocidades e nega aos palestinos sua dignidade básica”.

Outro importante documento que veio a público recentemente é o relatório “Da Economia da Ocupação à Economia do Genocídio”, preparado por Francesca Albanese, relatora especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos na Palestina. O relatório aponta várias empresas e instituições, de diferentes setores da economia, por serem cúmplices no genocídio perpetrado por Israel em Gaza e por atuarem de modo a “permitir a negação do direito à autodeterminação e outras violações estruturais no território palestiniano ocupado, incluindo ocupação, anexação e crimes de apartheid e genocídio, bem como uma longa lista de crimes auxiliares e violações dos direitos humanos, desde discriminação, destruição imprevisível, deslocamento forçado e saques até execuções extrajudiciais e fome”.

O relatório nomeia mais de 60 empresas, incluindo Google, Amazon, Microsoft, Elbit Systems, Lockheed Martin, Caterpillar e Hyundai, acusando-as de ajudarem a transformar a “economia de ocupação de Israel numa economia de genocídio”. O relatório destaca o apoio direto ao ataque de Israel a Gaza. “Em outubro de 2023, quando o sistema militar de nuvens de Israel sobrecarregou, a Microsoft Azure e o Projeto Nimbus gerido pela Google-Amazon forneceram serviços críticos de nuvem e IA. A Palantir forneceu tecnologia que ajudou o processo militar e a gerar alvos durante a guerra”. Desde outubro de 2023, a Bolsa de Valores de Tel Aviv subiu 179%, diz o documento, e adicionou US$ 157,9 bilhões em valor.

O relatório de Francesca Albanese também inclui a brasileira Petrobras entre as empresas cúmplices, responsabilizando-a por “embarques de petróleo bruto de campos petrolíferos brasileiros, nos quais detém as maiores participações, e combustível de aviação militar”.

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