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‘Amarelinha’ é ‘esquecida’ pelos torcedores

Associada ao golpe, 'amarelinha' da Seleção é 'esquecida' pelos torcedores

Preços das camisetas da Seleção variam entre R$ 25 a R$ 65, na 25 de Março, em São Paulo, onde a procura pelo uniforme azul é maior que pela tradicional 'amarelinha'. Foto: Lucas Duarte de Souza/RBATradicionalmente, a camiseta amarela da seleção brasileira sempre foi o item mais vendido entre os produtos lançados tendo a Copa do Mundo como tema. Mas para a Copa da Rússia, que começa nesta quinta (14), o cenário se alterou. Segundo lojistas e ambulantes ouvidos pela RBA, apesar de as vendas serem “satisfatórias”, é a camisa do uniforme número dois da Seleção, a “azulzinha”, que ganhou a preferência dos torcedores para acompanhar os jogos do time brasileiro – que estreia pelo grupo E do torneio, no domingo (17), às 15h, contra a Suíça.

A principal razão apontada pela queda do interesse na tradicional “amarelinha” é ela ter virado “uniforme” nas manifestações pró-impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, a partir de 2014. Transformada em símbolo de apoio ao golpe que derrubou a presidenta em 2016, atraiu rejeição por grande parte dos demais brasileiros. “Tá chegando a Copa e eu não vejo ninguém com a camisa do Brasil. Essa camisa virou sinônimo de filho da puta, de golpista”, disse o cantor João Gordo, do Ratos do Porão, durante apresentação na Virada Cultural paulistana do mês passado. 

Em entrevista à revista Época, o escritor Marcelo Rubens Paiva afirmou que jogou fora todas suas camisetas do Brasil, por causa da lembrança política que elas trazem. “Não dá para vestir a camisa da Seleção, que virou símbolo de uma massa de manobra comandada por golpistas”, diz ele acrescentando que torcerá na Copa com o uniforme do Corinthians.

A RBA entrou em contato com lojas físicas da rede Centauro, especializada em materiais esportivos, e a resposta foi unânime: a camiseta azul é a mais vendida e está até esgotada em algumas unidades. “Geralmente, o que vem em maior quantidade é a amarela, mas a saída da azul é muito boa”, conta uma supervisora, que pede para manter seu nome em sigilo, em respeito a normas internas da empresa.

Os dados de outra rede de lojas do setor, a Netshoes (que só opera pela internet), também mostram a preferência do torcedor pelo segundo uniforme, que vem registrando procura 20% maior que a “concorrente” amarela. 

As camisas oficiais usadas pela Seleção chegam ao consumidor pelo preço de R$ 450. Uma versão mais simples é vendida por R$ 249,90. Se o torcedor quiser montar um kit com meião e calção o valor chega a R$ 650.

A reportagem também foi à Rua 25 de Março, famosa pela concentração de vendedores ambulantes, os camelôs, no centro de São Paulo. No local, até porque as peças não são originais, os preços praticados são bem mais baixos – variam entre R$ 25 e R$ 65 – , e a agora cobiçada camiseta azul da Seleção também está em falta.

O supervisor de vendas Rafael Ferreira parou na barraca do camelô Edvan e levou sua camisa. “É mais chamativo. Não que a amarela seja ruim, mas a azul é muito bonita”, diz ele. “Está saindo bastante camiseta azul, se não vier comprar logo, acaba. As vendas (da azul) aumentaram, comparado a 2014”, acrescenta o vendedor.

Com três sacolas cheias das “azulzinhas”, o técnico em celulares Tadeu Freitas explica genericamente sua preferência. “O pessoal está pedindo mais, querem algo diferente.”

Alguns comerciantes relatam que a baixa procura pela versão amarela fez baixar seu preço, o que ainda lhe garante algumas vendas. “A principal vende mais porque a azul está mais cara, já que a procura é grande”, diz Dodô, que também trabalha na 25 de Março. 

Queda no consumo

Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), para a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, 50% das famílias tiveram interesse em comprar itens relacionados com a Seleção Brasileira e o Mundial. Já neste ano, o percentual caiu para 24%. A procura por peças de vestuário desperta interesse em apenas 7,5% das famílias e por aparelhos de televisão, em 4,3% delas.

Em entrevista à Radioagência Nacional, o chefe da Divisão Econômica da CNC, Fabio Bentes, diz que o desemprego é um dos motivadores do índice baixo, já que o desemprego em 2014 era de 7,1% , contra 12,9% medido agora, segundo o IBGE.

“Outro fator que também ajuda, principalmente na compra de televisores, que é o carro chefe na movimentação financeira, há o comportamento do crédito, já que a taxa de juros está em 55% ao ano. Soma-se a isso o fato de o evento ser do outro lado do mundo. É normal que as famílias acabem menos empolgadas”, disse.

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