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Edição de 4 de maio de 2025

Israel bloqueia ajuda humanitária, impõe fome à população de Gaza, e continua a atacar e exterminar palestinos todo dia; Exército israelense já matou quase 200 jornalistas na Palestina e Líbano

Pedro Pomar - SJSP

“Desde que Israel retomou sua campanha de bombardeio e ‘terra arrasada’ em 18 de março [de 2025], Gaza foi transformada em um deserto de morte, no qual escombros e ruínas formam o pano de fundo para uma ação incessante de assassinatos em massa. Os militares israelenses realizam vários ataques aéreos e bombardeios em toda a Faixa de Gaza diariamente, atingindo casas, campos de refugiados, cafés, hospitais, cozinhas de caridade, as chamadas ‘zonas humanitárias’ e outros locais civis”.

Esse relato panorâmico de autoria da jornalista Rasha Abou Jalal e de seu colega Sharif Abdel Kouddous, publicado pelo Drop Site em 30 de abril, infelizmente continua válido e atual. O número oficial de palestinas e palestinos assassinados por Israel em Gaza já supera 52 mil, conforme levantamento do Ministério da Saúde local. O número real de vítimas fatais, porém, ser muito superior, segundo estudos publicados pela revista médica britânica The Lancet (o mais recente em janeiro último). O número de feridos já chega a 117 mil.

A resposta humanitária em Gaza está à beira do colapso total, afirmou no dia 2 de maio a Cruz Vermelha Palestina, alertando que a deterioração das condições de higiene e saneamento aumenta o risco de doenças transmitidas pela água, enquanto os hospitais enfrentam crescentes dificuldades devido à falta de alimentos e suprimentos médicos. “Sem ação imediata, Gaza mergulhará ainda mais no caos, que os esforços humanitários não conseguirão mitigar”, adverte o comunicado da Cruz Vermelha, segundo informou o jornal israelense Haaretz.

A fome é usada como arma de extermínio por Israel contra os palestinos. Foto: Anadolu
A fome é usada como arma de extermínio por Israel contra os palestinos. Foto: Anadolu



No último dia 29 de abril, o Brasil solicitou à Corte Internacional de Justiça (CJI), principal tribunal da Organização das Nações Unidas (ONU), sediado em Haia (Holanda), que declare ilegal o bloqueio imposto por Israel contra a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, que já dura mais de 50 dias.

“O Brasil sustenta e espera que o tribunal reconheça que todas as medidas sistematicamente adotadas por Israel para impedir ou dificultar a presença e as atividades das Nações Unidas, de outras organizações internacionais e de terceiros Estados no território palestino ocupado violam flagrantemente não apenas o direito palestino à autodeterminação, mas também outras obrigações fundamentais previstas no direito internacional”, afirmou o embaixador do Brasil na CIJ, Marcelo Viegas, conforme relatado pela Agência Brasil.

A maioria dos 2,2 milhões de habitantes de Gaza agora sobrevive com apenas uma refeição por dia ou menos, devido ao bloqueio total de alimentos e outros itens essenciais imposto por Israel desde 2 de março de 2025. “Cada pessoa em Gaza depende de ajuda humanitária para sobreviver. Essa linha de vida foi completamente cortada desde que as autoridades israelenses impuseram um bloqueio a todo o fornecimento de ajuda em 2 de março”, declararam os dirigentes de 12 grandes organizações de ajuda, incluindo Oxfam, Save the Children, CARE, NRC e outras, em declaração conjunta no último dia 17 de abril.

“Temos suprimentos prontos. Temos equipe médica treinada. Temos a expertise necessária. O que não temos é o acesso — ou a garantia das autoridades israelenses de que nossas equipes podem realizar seu trabalho com segurança”, disseram as organizações.

Netanyahu e seu infindável circo de horrores

O circo de horrores promovido em Gaza pelo regime sionista de Israel, sob a direção do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu gabinete de extrema-direita, inclui a retomada da destruição de hospitais por meio de bombardeios, a proibição de entrada de equipamentos de socorro e suprimentos médicos e hospitalares, a matança de médicos, o assassinato covarde de 15 socorristas do Crescente Vermelho e muitos outros crimes de guerra.

Entre as atrocidades genocidas continuamente cometidas pelas forças armadas de Israel está o assassinato sistemático de jornalistas, como informam a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

Investigações preliminares do CPJ mostraram que, até 2 de maio de 2025, pelo menos 172 jornalistas e trabalhadores da mídia foram mortos por Israel nos territórios palestinos ocupados e no Líbano, desde o ataque do Hamas em outubro de 2023 e o imediato início da retaliação israelense. “O CPJ está investigando mais de 130 casos adicionais de possíveis assassinatos, prisões e ferimentos, mas muitos são difíceis de documentar”, diz a própria entidade.

No último dia 16 de abril, a RSF publicou uma petição de grande impacto, aberta a assinaturas, intitulada “Apelamos ao fim imediato do massacre de jornalistas palestinos em Gaza e ao acesso direto da imprensa internacional a este território!”. Ao longo deste ano e meio de conflito, diz a chamada, “quase 200 jornalistas palestinos foram mortos pelo exército israelense, incluindo pelo menos 43 mortos enquanto cumpriam suas funções. É um dos maiores massacres de jornalistas deste século” (destaques no original).

Diante de tal situação, diz a RSF, pede-se “uma mobilização coletiva dos cidadãos” e uma resposta imediata. “Eles eram jornalistas, não combatentes. Pelo menos 43 deles, como Hossan Shabat, foram mortos enquanto faziam seu trabalho, capacete, colete à prova de balas com a palavra ‘IMPRENSA’ escrita claramente no peito, microfone ou câmera na mão”, diz a petição (destaques no original). “Outros morreram no bombardeio de suas casas ou das tendas onde se refugiaram com suas famílias — um destino trágico compartilhado por dezenas de milhares de civis. Também não devemos esquecer nossos colegas israelenses, libaneses e sírios que também foram mortos neste conflito”.

Há todas as razões para acreditar que o Exército de Israel “está tentando estabelecer um silêncio total sobre o que acontece em Gaza, impedindo a imprensa internacional de entrar livremente no território e visando aqueles que, no terreno, continuam a testemunhar apesar dos riscos”, avalia a RSF, lembrando que se trata de uma escolha “completamente contrária aos princípios do direito internacional” (destaques no original).

A “morte retumbante” da jovem jornalista Fatma Hassouna

Certamente não foi simples coincidência o assassinato da fotojornalista e artista Fatma Hassouna, de 25 anos, e de outros nove membros de sua família, durante bombardeio realizado por Israel no dia 16 de abril na Cidade de Gaza. Entre os mortos no ataque, três irmãos de Fatma, de 10, 15 e 20 anos, e uma irmã, de 23 anos, grávida de seis meses. A morte da jovem, que estava prestes a se casar, foi confirmada pela Associação do Cinema Independente para a sua Difusão (ACID).

Fatma perdeu a vida apenas um dia depois que o filme que conta a história de sua vida, Put Your Soul On Your Hand And Walk (“Coloque sua alma em sua mão e ande”), dirigido pela diretora franco-iraniana Sepideh Farsi, foi selecionado para o afamado Festival de Cannes. A morte da protagonista comoveu o pessoal da ACID, responsável por uma das mostras paralelas do evento.

“Nós, cineastas e membros da equipe ACID, conhecemos Fatma Hassona enquanto descobrimos o filme de Sepideh Farsi Coloque sua alma na mão e caminhe. Seu sorriso era tão mágico quanto sua tenacidade: testemunhar, fotografar Gaza, distribuir comida apesar das bombas, do luto e da fome”, relata um texto publicado no Instagram da associação. “A narrativa dela chegou até nós, nos alegramos com cada uma de suas aparências de conhecimento vivo, temíamos por ela. Ontem aprendemos com medo que um míssil israelita tinha como alvo o seu prédio, matando Fatma e a sua família”, prossegue.

“Nós tínhamos assistido e programado um filme em que a força vital desta jovem estava em ordem para o milagre. Já não é o mesmo filme que vamos levar, apoiar e apresentar em todos os cinemas, começando por Cannes. Cada um de nós, cineastas e espectadores, devemos ser dignos da sua luz”, conclui. Fatma, que tinha mais de 27 mil seguidores no Instagram, escreveu em agosto de 2024 que, se viesse a morrer, gostaria de ter uma “morte retumbante, que o mundo ouça, um impacto que dure para sempre”.

Além das execuções, vários jornalistas palestinos têm sido ilegalmente presos pelas forças armadas israelenses. O caso mais recente foi a prisão do proeminente jornalista Ali al-Samoudi, capturado na casa de sua família na cidade de Jenin, na Cisjordânia. “Ali al-Samoudi, 58, que trabalha para o jornal Al-Quds e que testemunhou o assassinato da jornalista da Al Jazeera Shireen Abu Akleh em 2022, foi detido em sua casa no início desta semana pelo Exército israelense”, informou o Haaretz.

Ele é acusado por Israel de “transferir fundos” para o grupo Jihad Islâmica, que integra a Resistência palestina. A família de Samoudi nega a acusação, e seu filho Mohammed disse ao Haaretz: “Meu pai é conhecido como um jornalista independente, sem vínculo com nenhum partido. Fiquei surpreso ao ouvi-lo ser acusado de ligações com a Jihad Islâmica. Fiquei em choque”.

Corpo do adolescente Walid ainda não foi entregue à família

Até o dia 28 de abril, o corpo do jovem de dupla nacionalidade Walid Ahmad, brasileiro e palestino, que morreu em 22 de março último, com apenas 17 anos de idade, na terrível prisão de Meggido, em Israel, ainda não havia sido liberado para que sua família possa enterrá-lo. “Apesar dos esforços da diplomacia brasileira pela liberação, Israelnão tem respondido aos apelos feitos pelo país. Uma justificativa para a manutenção do corpo de Walid sob a custódia do Estado judeu jamais foi dada oficialmente, bem como qualquer outra resposta sobre o caso”, reportou o portal G1 em 28 de abril.

Walid foi preso na Cisjordânia em setembro de 2024, acusado de atirar pedras nas tropas de Israel, mas jamais foi julgado. Seu pai, o também brasileiro-palestino Khaled Ahmad, declarou que a família sente “uma tristeza profunda” pela perda do jovem e “uma dor enorme” por não poderem se despedir.

“Até agora, Israel não nos forneceu nenhuma justificativa para não liberar. E também não respondeu ao nosso pedido de restituição do corpo”, afirma Khaled, que pede que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atue no caso de forma ativa. “Gostaria de fazer um apelo ao presidente do Brasil para que nos ajude a conseguir a liberação do corpo do nosso filho, para que possamos sepultá-lo de acordo com os ritos islâmicos. Acredito que ele possa nos ajudar, pois é um grande presidente de um grande país”.

Perseguição a ativistas palestinos nos EUA agrava-se sob Trump

“Presidente Trump, não tenho medo de você”, declarou o ativista estudantil Mohsen Mahdawi, da Universidade de Columbia, ao ser libertado sob fiança na quarta-feira, 30 de abril, em Vermont. Mahdawi foi preso ilegalmente pelas autoridades de imigração dos EUA por seu papel em protestos pró-palestinos no campus de Columbia.

“O Departamento de Segurança Interna havia efetivamente orquestrado uma armadilha. Ele acenou com a perspectiva de me tornar um cidadão americano, apenas para agentes mascarados me prenderem depois que terminei a entrevista e assinei um documento dizendo que estava disposto a fazer um juramento de fidelidade”, denunciou Mahdawi em artigo publicado no The New York Times neste sábado, 3 de maio. Agentes do governo me separaram do meu advogado, que tinha ido à consulta comigo. Eles planejavam me levar do meu estado natal, Vermont, para um centro de detenção na Louisiana”.

Apesar da boa nova representada pela libertação de Mahdawi, vários ativistas palestinos continuam ilegalmente presos em centros de detenção dos EUA e ameaçados de deportação, entre eles o primeiro a ser encarcerado pelo departamento de imigração (ICE): o pós-graduando da Columbia, portador de green card e casado com uma cidadã norte-americana, Mahmoud Khalil.

Nos EUA, a perseguição a estudantes universitários(as) que se opõem ao genocídio em Gaza e defendem a Palestina livre, que já acontecia durante o governo “democrata” de Joe Biden, agravou-se sob o governo neofascista de Donald Trump, a pretexto de “combate ao antissemitismo” e de resguardar “a segurança nacional”.

Drones atacam a Flotilha da Liberdade

O navio “Conscience”, uma das embarcações que compõem a Flotilha da Liberdade, uma frota naval carregada com ajuda humanitária com destino a Gaza, foi alvejado por drones perto da costa de Malta. A bordo da Flotilha da Liberdade seguem ativistas de vinte e um países, entre eles o comunicador brasileiro Tiago Ávila. Apesar dos danos provocados ao “Conscience”, ninguém se feriu.






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