Racismo tem fundo não só comportamental, mas também econômico, afirma presidente da Central.
Com o “Ato pela Igualdade Racial no Trabalho e na Vida”, a CUT lançou nacionalmente a programação de atividades para o Mês da Consciência Negra em evento no Hotel Braston (capital paulista) na noite de terça-feira (6). A abertura contou com exibição do curta metragem “Vista minha pele”, seguida de conversa com o diretor Joel Zito Araújo (clique para assistir).Na mesa de debates, Vagner Freitas, presidente nacional da CUT, disse que o tema racial tem crescido nos debates dentro da Central, mas de forma incipiente. O dirigente avalia que ainda há dificuldades para fazer com que os sindicatos promovam ações afirmativas colocando a questão racial entre os itens da pauta das campanhas salariais e nos acordos coletivos.
Ele sugeriu a inclusão de cotas de contratação para negros e negras e deixou claro que “a pauta de reivindicações quem faz somos nós. O patrão concorda ou não, mas nisso ele não se mete porque nós é que a construímos”. Na questão do racismo, o presidente cutista pediu atenção ao fato de que o problema tem fundo não só comportamental. “Há uma óbvia apropriação de valores pela burguesia para obter vantagens econômicas”, disse Freitas, como o pagamento de salários menores para os negros, indígenas e mulheres.
Para Rosana Aparecida da Silva, secretária de Combate ao Racismo da CUT/SP, “a expectativa nas atividades de 2012 é levar, de fato, o debate da questão racial para a população como um todo. É conseguir implementar as políticas públicas existentes, é garantir que trabalhadores negros e negras tenham salário igual ao dos brancos e brancas”, salientou.
Juventude e mulheres – Eunice Léa de Moraes, gerente de Projetos da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) disse que a Pasta vai divulgar a análise “Violência contra a juventude negra no Brasil”, pesquisa inédita de opinião pública realizada em parceria com o DataSenado, do Senado Federal. O levantamento revela que, apesar do grande número de homicídios de jovens negros, de 15 a 29 anos, a população ainda não tem a percepção da gravidade desses índices, que expressam formas de preconceito e discriminação.
Eunice anunciou também a realização do programa temático de “Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial”, conjunto de ações em áreas como educação e saúde desenvolvidas em parceria com a Fundação Palmares e agenda transversal envolvendo vários ministérios, além de um projeto voltado especialmente às mulheres (leia mais em Seppir vai lançar plano de ação para mulheres negras).
Cultura negra – Martvs das Chagas, diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira, anunciou a programação que será realizada no dia 20 de novembro no Parque do Ibirapuera. Serão dez horas de atividades (10h às 22h) voltadas a todos os públicos e às diferentes manifestações culturais afro brasileiras: maracatu, coco de umbigada e o samba de roda paulista, além de shows com o rapper Emicida, a soul music do “Baile do Simonal” com Max de Castro e Simoninha, e o samba de Martinho da Vila encerrando o evento.
Chagas, que já foi assessor da CUT/MG, também relembrou o apoio do movimento sindical cutista na histórica Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, que em novembro de 1995 reuniu cerca de 30 mil pessoas em Brasília. “A CUT trata a questão racial de forma incisiva desde a década de 90 e isso culminou num ‘boom” sobre o tema, a partir da década seguinte”, destacou.
Texto: Flaviana Serafim – CUT/SP
Foto: Roberto Parizotti