Foi exatamente na Folha que Boris viveu uma das suas principais polêmicas – a de ter assumido o cargo de diretor de redação para supostamente acalmar os militares que ameaçavam fechar o jornal, usando como pretexto uma crônica de Lourenço Diaféria,”Herói. Morto. Nós”. Em sua publicação comemorativa de 80 anos, a própria Folha descreve o episódio, que culminou com a saída do então diretor de redação, Cláudio Abramo e a contratação de Boris Casoy:
“Para impedir o fechamento do jornal, Octavio Frias de Oliveira decidiu pela mudança. “Chamei o Cláudio e disse: ‘A pressão é toda sobre você. Posso fazer um gesto bonito e afundamos todos’.” Abramo deixou a direção de redação. O primeiro escolhido para substituí-lo foi Alexandre Gambirasio, mas a nacionalidade italiana o impediu. O segundo nome foi o de Boris Casoy, que passava férias em Araxá (MG). Num avião alugado, ele voltou às pressas para São Paulo. Boris apoiara o movimento de 1964 e tinha bom relacionamento com a área militar”. Veja como Boris respondeu às perguntas feitas a ele.
Serviço de censura – A Comissão quis saber ainda se Boris tinha conhecimento de que outros jornais do Grupo Folha (Folha de S.Paulo, Folha da Tarde, Última Hora e Notícias Populares) tinham sofrido algum tipo de censura. A que ele respondeu:
“Sim. O serviço de censura transmitia suas proibições via telefone. Esses comunicados eram anotados e distribuídos por todas as redações do grupo”, revelou ele.
Vidas em risco – Boris disse ainda que não havia como reagir às restrições editoriais impostas pelos militares, pois caso não cumprisse o exigido, colocaria em risco a vida dos profissionais e da própria existência do jornal.
“Não havia possibilidade de publicar matérias sobre os assuntos proibidos pela censura. Seria colocar em risco as pessoas e o jornal. A decisão da empresa era respeitar as regras impostas”
Epidemia de dengue – Segundo Boris Casoy, entre as matérias que os militares não queriam que fossem veiculadas estava a que se referia a uma epidemia de dengue em São Paulo.
“Não havia matérias específicas submetidas à censura. Havia, sim, temas e assuntos proibidos. Lembro-me, por exemplo, da proibição de mencionar a epidemia de meningite em São Paulo”, relembra.
Driblar a censura – Boris reconhece que em momento algum a Folha de S. Paulo fez qualquer esforço para tentar driblar a censura ou que tenha traçado estratégias para impedir que ela vetasse alguma notícia ou tema. “Não havia estratégias para driblar a censura”, reconhece.
Imposição – Perguntado se, caso não tenha havido censura governamental, se a Folha de S. Paulo não havia agido com extrema prudência ou se autocensurado, Boris respondeu:
“Não se tratava de prudência. Havia imposição”, pondera.
Censura prévia – A Comissão da Verdade perguntou por que a revista Veja e os diários O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde haviam sofrido censura prévia durante a ditadura militar e a Folha de S. Paulo, não. Boris creditou isso ao fato dessas publicações não terem se submetido à autocensura.
“Veja e O Estado de S. Paulo foram das poucas exceções na imprensa brasileira (a sofrer censura prévia). Ao decidir contra a autocensura, foram obrigados a receber censores na redação”, analisou Boris
Folha da Tarde – Boris respondeu desconhcer que um dos jornais do Grupo Folha, a Folha da Tarde, foi apontada por ex-presos políticos como alinhado ao regime militar e que entre os seus dirigentes haviam policiais.
Ele também disse desconhecer que a Folha da Tarde havia dado como manchete a morte do o ex-preso político, Joaquim Seixas, um dia antes de ele ter sido assassinado nas dependências do DOI-Codi.
Carros da Folha – Os membros da Comissão da Verdade perguntaram ainda à Boris Casoy se ele tinha conhecimento de que os veículos da Folha tinham sido usados para apoio a ações de policiais ligados à repressão política, como foi denunciado.
“Esses fatos teriam ocorrido antes de eu trabalhar na Folha. Todas as vezes que conversei com diretores a esse respeito, eles garantiam desconhecimento do uso de veículos da empresa em operações desse tipo”.
CCC – Boris não se furtou a responder a pergunta que lhe persegue em sua trajetória de jornalista: de supostamente ter participado do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
“Não posso responder a rumores. Trata-se de informação caluniosa publicada pela extinta revista “O Cruzeiro”. Ao contrário, em minha vida acadêmica sempre fui contra tal organização”.
Jornalistas presos – Por fim, Boris disse que desconhecia o fato de os jornalistas Rose Nogueira, Sergio Gomes e Vilma Amaro terem sido demitidos pelo Grupo Folha – respectivamente da Folha da Tarde, Agência Folha e Última Hora, enquanto estavam presos.