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#8BlogProg: Comunicação e juventude em debate

Redação - Barão de Itararé

A juventude esteve no centro das discussões sobre a comunicação no Brasil durante o oitavo BlogProg na manhã deste sábado, ocorrido no auditório do Sindicato dos Jornalistas em São Paulo. A discussão acalorada contou com a participação de Emília Mazzei do Projeto Jovens Comunicadores do Governo da Bahia, Anderson Moraes do Jornal Empoderado e Marina Caixeta do Portal Desacato.

Tatiana Carlotti | Fórum 21

A mesa contou com mediação de Basílio Carneiro, do portal Folha da PB.com.br, que destacou a importância da juventude na luta pela comunicação, lembrando que “o fortalecimento da democracia só vai se dar quando a Mídia Alternativa Progressista tiver sua estrutura para trabalhar”. 

E, também, de Luísa Souto, do Núcleo Piratininga de Comunicação do Rio de Janeiro, fundado há 30 anos, com o objetivo de fortalecer a comunicação da classe trabalhadora. 

“Comunicação é um direito humano”

Emília Mazzei, do Projeto Jovens Comunicadores do Governo da Bahia. Foto: Guilherme Gandolfi

Emília Mazzei, do Projeto Jovens Comunicadores do semiárido, apresentou o projeto de comunicação e juventude que vem sendo desenvolvido pelo Governo da Bahia junto às juventudes rurais. 

Na Bahia, onde 70% da população vive no semiárido e as atividades estão ligadas à agricultora familiar, um dos grandes problemas é o êxodo da juventude rural. O projeto visa, portanto, criar oportunidades para que esses jovens permaneçam no estado, destacou Mazzei.

São vinte anos de governos do PT no estado e um “trabalho muito forte de desenvolvimento rural sustentável”, destaca, ao lembrar que o projeto já foi premiado duas vezes como o melhor projeto sustentável das Nações Unidas. As ações, inclusive, são executadas em parceria com o Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola da ONU.

Iniciado em 2017, o projeto atua em 32 municípios do semiárido, com jovens de comunidades rurais, ribeirinhas, de fundo de fecho de pasto e comunidades indígenas. A dinâmica envolve oficinas e encontros temáticos, onde são trabalhadas técnicas de produção textual e audiovisual, de entrevistas, de cordel e outras atividades em torno de vários temas, como soberania alimentar, mudanças climáticas, questão da terra, gênero, racismo, sistemas políticos entre outros. Além disso, “as turmas tiveram oportunidade de viajar para outros estados ou mesmo de conhecer a capital, e se reuniram com outras iniciativas de jovens que trabalham com comunicação”, detalha. 

Os resultados falam por si: 56% dos jovens do programa desistiram de sair do estado depois que passaram pelo projeto, 48% deles desenvolveram ações comunitárias, 20% geraram renda a partir do que aprenderam e 82% passaram a participar de espaços de atuação cidadã para o empoderamento da juventude e acesso a direitos. E agora está previsto um novo projeto, para 2025, por todo o estado da Bahia. 

“A comunicação tem poder”, destaca Mazzei, que é também uma jovem comunicadora da Aroeira Comunica. “E por ela ser um poder, tem que estar na mão daqueles que precisam, do povo. É importante não esquecermos que a comunicação é um direito humano. Ela está na Declaração Universal dos Direitos Humanos, então isso precisa estar na pauta”, destacou. 

“Nós não somos complementares, somos a estrutura base de toda a mídia alternativa e de todo o Brasil”

Anderson Moraes, do Jornal Empoderado, começou sua fala com uma homenagem ao ativista Flávio Jorge, um ícone do movimento negro brasileiro, falecido em junho deste ano.

Anderson Moraes, do Jornal Empoderado. Foto: Guilherme Gandolfi

Trazendo uma reflexão sobre a plataforma digital do tik tok e seu impacto na vida cotidiana, ele destacou a velocidade da comunicação nas plataformas como um grande desafio que vem impactando inclusive a forma como as novas gerações ouvem música e como todos nós usamos as redes para nos informar.

Em sua fala, Moraes trouxe várias experiências de mídia alternativa, entre elas, a do jovem maranhense Raimundo José que, com todas as dificuldades – Raimundo mora a 174 quilômetros da capital – criou um “drone bambu”, para poder filmar uma roda de coco e transmiti-la, fixando o celular na ponta de um bambu. 

“Ele foi premiado. Foi uma saída estratégica dele, porque a gente não pode parar. É o que a gente faz todo dia. Quando você pega as mídias pretas periféricas, o que a gente faz é isso. A gente não para, apesar das dificuldades”, apontou.

Moraes, que teve contato com mais de 60 iniciativas de mídias quilombolas, também destacou a transmissão de um jogo de várzea, também realizada por Raimundo, que fez uma câmera de caixa, pintou de preto e nela escreveu TV Quilombo. “Quem quiser procurar TV Quilombo Rampa é incrível esse projeto”, recomenda.

Da sua própria experiência, ele mencionou a luta do Jornal Empoderado, que nasceu em 2016, “dentro da Casa Barão de Itararé”. “O meu drone bambu veio a partir das oportunidades que não existiam. Só que, em vez de parar para chorar, eu peguei um celular e disse ´vamos ver no que vai dar´. E o mais incrível é que dá certo. Com todas as dificuldades, acaba dando certo”, analisou.

O segredo? “Primeiro, você tem que amar o que faz”; segundo se cercar de boas pessoas, porque “fica muito mais fácil, e os obstáculos acabam sendo diminuídos”. Em quase oito anos, o Jornal Empoderado se transformou em uma referência para a “luta antirracista, reconhecida pelos movimentos sociais, pelo movimento negro”, através de suas denúncias, inclusive, conquistando a soltura de prisões injustas com suas matérias. “É isso que faz valer a pena”. 

Moraes também fez duras críticas à forma como a mídia corporativa classifica como “complementar” o conteúdo da mídia alternativa. “Nós não somos complementares. Nós somos a estrutura base de toda a mídia alternativa que está aqui e de todo o Brasil. Não existe um Brasil que não seja feito de sangue periférico, indígena, quilombola ou negro”, apontou.

Ele também destacou a vontade de mudar que, em 2016, fez com que os secundaristas ocupassem mais de mil escolas pelo país. “O nosso esperançar, o nosso futuro tem que estar baseado nesta que foi uma das maiores ações políticas dos últimos tempos”, avaliou. 

“O Brasil tem muita coisa para mudar e muita coisa para florescer, mas será muito melhor quando os espaços de poder forem ocupados por mulheres negras, indígenas e pelos secundaristas”, concluiu.

“Comece pelas demandas da sua comunidade”

Em sua fala, Marina Caixeta, do Portal Desacato, trouxe uma síntese das discussões do Seminário de Comunicação Antifascista provida pelo Portal Desacato em 2023 em Florianópolis, e também do Fórum Catarinense de Comunicação, ocorrido em Chapecó no começo deste ano.

Marina Caixeta, do Portal Desacato

Nascida em Goiânia, mas residente em Santa Catarina, “onde nasceu o jornalista negro Gustavo de Lacerda, um dos fundadores da ABI, Associação Brasileira de Imprensa”; e “foi eleita Antonieta de Barros, a primeira deputada negra do Brasil”, ela contou sua experiência como co-vereadora em Florianópolis, com apenas 26 anos. 

Destacando que as casas legislativas só fazem sentido “se você é um homem branco velho”, ela apontou que é preciso “alterar as características desses espaços para estar neles, porque permanecer nele é muito, muito difícil mesmo”. “Eu saí do mandato na metade porque quando a gente fala sobre participação política da juventude, não é só garantir que essas pessoas cheguem nesses espaços. Eles são extremamente violentos para nós. É preciso mudá-los”, analisou.

Caixeta também contou a experiência do Portal Desacato, um produto da Cooperativa Comunicacional Sul, que já tem 17 anos de atividade. “É a cooperativa comunicacional mais antiga do país, junto com a Tribuna Independente, as duas cooperativas de comunicação que temos no país hoje”. 

Entre as dificuldades, destacou o financiamento, “a gente sofre de quase inanição”, relatando que para driblar a carência, o portal conta com apoio de sindicatos e uma campanha de assinaturas em parceria com a Editora Insular, que fornece um livro toda semana para que eles possam sortear para os apoiadores. Com isso, eles conseguem oferecer uma programação diária, inclusive um programa matinal das 8h30 às 11h30.

Lembrando de Gramsci que “a crise consiste justamente no fato de que o velho morre e o novo não pode nascer, nesse interregno, a volta de “uma grande variedade de quadros políticos de uma extrema-direita extremamente organizada”, num momento de “acúmulo de muitas crises: política social, econômica, ambiental, cultural, educacional, de saúde”. 

“Acabamos de sair de uma pandemia e não conseguimos dar respostas a essas crises”, avaliou, ao destacar que “quem tem condições de verdade de dar as respostas para essas crises somos nós”. 

Como? Ela elencou uma série de ações: “não podemos deixar de falar das políticas públicas e da regulação das plataformas, da inteligência artificial. Precisamos de educação midiática, ensinar as pessoas a checar as informações, moderar os conteúdos, ou seja, estabelecer normas para que exista controle social sobre o que é divulgado nessas plataformas, nesses portais e pela internet”.

E trouxe uma síntese, a partir do Fórum Catarinense, apontando caminhos. “Comece a partir das demandas da sua comunidade, do seu bairro, da sua cidade, de onde você está, e se volte para as massas, para a realidade da rua, do contato real com as pessoas. Simplifique a comunicação, mas sem perder o conteúdo. Comunique da forma mais clara e objetiva possível o que você quer, chamando as pessoas para aprofundamentos, caso elas queiram”.

Caixeta também defendeu a importância de uma comunicação propositiva em vez de uma comunicação denuncista: “crie comunidades, crie grupos temáticos, comunidades que se construam em torno de pautas e demandas do bairro. E, para isso, você vai precisar ouvir as pessoas, não só falar, mas também ouvir, criar canais de comunicação e de diálogo permanente”. 

Além disso, é importante distribuir tarefas. “Não façam as coisas sozinhos, distribuam as tarefas, criem comunidades e, a partir disso, classifique o seu público, a partir de quem engaja mais, quem engaja menos, quem é neutro, quem tem exposição para trabalhar, quem tem menos, quem está consumindo”. 

Com essa noção, “a partir da comunicação de quem é o seu público, é partir atrás de dinheiro. A gente precisa ir atrás de dinheiro e criar conteúdo com bom humor também sempre ajuda muito”, concluiu. 

Sobre o #8BlogProg

Jornalistas, ativistas digitais, comunicadores populares, pesquisadores e estudantes se reúnem nos dias 5 e 6 de julho, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, para a 8ª edição do Encontro Nacional de Comunicadores e Ativistas Digitais.

A programação traz especialistas para debaterem temas como o fortalecimento da comunicação pública, das mídias alternativas e comunitárias, a relação da juventude com a comunicação, os desafios colocados pela inteligência artificial e a regulação das plataformas.

O evento é organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé com o patrocínio do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), através do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). 

Todos os debates têm transmissão ao vivo pelo canal do Barão de Itararé no YouTube e por canais parceiros. Inscreva-se e assista na íntegra!

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