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Um ano de resistência ao genocídio*

Alexandre Linares**

No último dia 7 de outubro completou um ano a ação realizada pelas forças do Hamas contra a ocupação das terras palestinas e o bloqueio à Faixa de Gaza. Desde então as forças armadas de Israel iniciaram o maior genocídio da história do século 21. 

Um ano depois, o massacre da população de Gaza continua, com apoio direto dos EUA e da maioria dos países da União Europeia. Só os EUA já destinaram mais de US$ 17,9 bilhões em armas para Israel desenvolver seus ataques aos povos da região. Trata-se do maior valor de repasse realizado pela Casa Branca ao seu aliado sionista em um único ano desde 1959.

É com esse apoio que Israel segue na sua sanha assassina, que agora estende-se também ao território do Líbano, onde os ataques israelenses já provocaram mais de duas mil mortes nas últimas semanas, inclusive as de pelo menos cinco cidadãs e cidadão de nacionalidade brasileira, na maioria jovens e crianças. 

Um ano de ataques, mas também um ano de resistência na Palestina, no Líbano, Iêmen e em todo o mundo contra o genocídio. Manifestações massivas continuam em diferentes países. Em Londres, Paris, Melbourne, Dublin, Boston, Karachi, Gotemburgo, Madrid, Copenhague, Rabat… milhões de pessoas manifestam-se pelo cessar-fogo e pelo fim do genocídio. 

Reino Unido, França, Argentina

Dezenas de milhares de manifestantes em defesa do povo palestino reuniram-se para marchar no centro de Londres, no Reino Unido, no dia 5 de outubro.  Segundo reportagem do The Guardian, manifestantes seguravam cartazes e faixas dizendo “Não apoiamos o genocídio” e “Sionismo é racismo”, e palavras de ordem eram cantadas: “Palestina livre, livre”.

No dia 19 de outubro realizou-se, na capital do Reino Unido, a “Conferência dos sindicatos em solidariedade com a Palestina”, com a presença de diversas organizações sindicais e do deputado independente Jeremy Corbyn. “O ataque genocida de Israel matou dezenas de milhares e deslocou mais de 85% da população de Gaza desde outubro. Em sua terra natal e no exílio, os palestinos são submetidos a um sistema de opressão que é reconhecido internacionalmente como atendendo à definição legal do crime de apartheid”, afirmavam os organizadores da conferência na convocatória.

“Os membros dos sindicatos têm estado na vanguarda da luta contra as ações cada vez mais genocidas do Estado de Israel. Incluindo as dezenas de milhares que se juntaram ao enorme protesto nacional em Londres e em todo o país, liderando ações de todos os tipos, inclusive em seu local de trabalho e em suas áreas locais, exigindo o fim da cumplicidade estatal, corporativa e institucional britânica nos crimes de Israel. Precisamos continuar a luta e é nosso dever como sindicalistas e ativistas no Reino Unido aumentar nossa solidariedade, por liberdade, igualdade e justiça para o povo palestino”.

Em Paris e em outras cidades francesas milhares de pessoas foram às ruas. O jornal Informations Ouvrières registra que Jean-Luc Mélenchon declarou: “Depois do Líbano e do Iêmen, Netanyahu vai para a guerra com o Irã. Esse é seu plano. A França não tem nada a fazer nesta escalada. Netanyahu mergulha a região na guerra total. Ele expõe a população de Israel aos piores riscos da sua história. Ele arruinou a paz e o direito à vida de milhares de pessoas. Emergência absoluta para pararmos imediatamente com essa catástrofe selvagem”.

Em Buenos Aires, na Argentina, a manifestação contou com a presença de Adolfo Pérez Esquivel, militante de direitos humanos e Prêmio Nobel da Paz. “Israel é um Estado genocida que atenta não só contra a vida de um povo, mas também contra a sua dignidade”, declarou Esquivel. “Estamos aqui para recordar a gravíssima agressão de Israel ao povo palestino. Eu proponho a cada um de vocês que nos manifestemos em solidariedade com o povo palestino”. 

No Iêmen, que também tem sido alvo de bombardeios de Israel e dos EUA, milhares de pessoas saíram às ruas sob o lema “Com Gaza e Líbano, uma única batalha até a vitória”. As manifestações condenaram os ataques israelenses contra Gaza e o Líbano, com palavras de ordem exigindo o fim da ocupação e o apoio à resistência dos dois países.

Manifestações no Brasil

Entre os dias 7 e 10 de outubro, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília foram palco de manifestações em solidariedade ao povo palestino e libanês. Em São Paulo, no dia 8, os manifestantes reuniram-se em vigília na Avenida Paulista e depois caminharam até a Praça Roosevelt, no centro da cidade.

A jornalista Vilma Amaro, veterana militante de direitos humanos e diretora da Regional ABC do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), esteve entre as pessoas que se manifestaram no ato: “Além dos mais de 40 mil mortos e outros milhares sob os escombros e mais de 150 jornalistas assassinados, agora Israel ataca a população do Líbano. São mais de 150 jornalistas assassinados porque Israel não quer que o mundo saiba a verdade sobre o que acontece na Palestina”, declarou Vilma. “O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo apoia o total corte de relações do Brasil com Israel. Não faz sentido manter essas relações.”

A diretora do SJSP afirmou ainda que no Brasil “a população precisa se mobilizar para também apoiar o corte de relações com o governo sionista de Israel”. O SJSP se fez presente com uma dezena de diretores, inclusive seu presidente Thiago Tanji, e eles carregaram uma faixa exigindo o fim do genocídio do povo palestino. 

Tiago Maciel, do coletivo “Diálogo e Ação Petista”, assim falou na manifestação: “É um ano de genocídio, mas é um ano de luta e solidariedade. Israel expandiu seu genocídio para o Líbano. É um cinismo dos governos dos EUA, Europa e governos árabes que falam em cessar fogo, mas continuam municiando Israel. Só a solidariedade internacional pode isolar Israel. A gente tem que jogar um peso para o presidente Lula romper as relações econômicas e comerciais com Israel”. 

Em Brasília, um ato simbólico ocorreu no Museu da República, onde os manifestantes denunciaram a terrível situação humanitária em Gaza. Um dos oradores, muito emocionado, relatou o drama de familiares, que estavam sem água, energia e comunicação devido aos bombardeios israelenses. No Rio de Janeiro houve concentração na Cinelândia, no centro da cidade.

* Versão atualizada de artigo originalmente publicado na edição 939 do jornal O Trabalho
www.otrabalho.org.br

**O autor é diretor do SJSP.

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