A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo ouviu nesta quinta-feira (20/6) os relatos de diversos jornalistas que foram agredidos pela polícia nas manifestações em favor da redução das tarifas do transporte público, ocorridas nos dias 11 e 13 de junho.
Entre os depoentes estava o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), José Augusto Camargo (Guto), que apresentou a listagem de presos e feridos elaborada pela entidade e a nota das nove entidades que repudiam a agressão aos profissionais de imprensa.
Na oportunidade também foram ouvidos os representantes do Movimento Passe Livre (MPL) – que pela manhã voltaram a dar entrevistas no auditório Vladimir Herzog do SJSP, jornalistas, repórteres fotográficos e representantes da Polícia Militar no Estado de São Paulo.
Bala nas costas
A fotógrafa Marlene Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, relatou que recebeu um disparo de bala de borracha pelas costas, quando fugia da Tropa de Choque. “Parecia que a polícia estava praticando tiro ao alvo”, ironizou. “Minha impressão é que a polícia estava com espírito de revanche naquele dia.”
Felipe Araújo, fotógrafo do Estado de S. Paulo, contou que foi atropelado intencionalmente por uma viatura quando estava no meio-fio, registrando a passagem de um comboio.
“O policial que me atropelou nem parou para saber o que aconteceu. Duas ou três viaturas passaram quando um policial desceu de uma delas e gritou comigo, me mandando levantar. Eu disse que tinha acabado de ser atropelado, mas ele continuou gritando mesmo assim. E depois não me socorreu”, afirmou Araújo.
Ele e outros jornalistas que deram seus depoimentos enfatizaram que sentiram uma postura diferente da polícia em relação aos profissionais da imprensa, que teriam se tornado alvos naquele dia.
A comissão também ouviu Kátia Passos, mulher do fotógrafo Sérgio Passos, da Futura Press. Ele foi atingido por uma bala de borracha e pode perder a visão do olho esquerdo. Passos continua internado e, segundo ela, não tem previsão de alta.
“Enquanto isso, o poder público não se pronuncia. Não só sobre ele, mas sobre todas as vítimas da violência que ocorreu naquele dia”, desabafou Kátia, visivelmente emocionada.
Chamado para comentar a ação da Polícia Militar na ocasião, o coronel Glauco Carvalho, que chefia a área de policiamento comunitário e direitos humanos da corporação, se retratou com os jornalistas.
“Eu gostaria de me desculpar, pela instituição, com todos os jornalistas que sofreram lesões por conta da ação policial”, afirmou o PM, que garantiu que todas as suspeitas de abuso policial estão sendo investigadas.
Esta é a íntegra da nota pública apresentada durante a audiência pública
As organizações de jornalistas e de defesa de direitos humanos abaixo assinadas, preocupadas com a garantia da liberdade de imprensa e da liberdade de manifestação e expressão, vêm a público manifestar:
– O repúdio às graves violações a direitos de liberdade de imprensa e de manifestação e expressão em virtude da violência policial ocorrida nos recentes protestos pela redução da tarifa de transporte em São Paulo, que resultou em mais de vinte jornalistas feridos e três jornalistas presos.
– Entendemos que a violência se deveu não apenas a abusos individuais, mas foi incentivada por declarações de autoridades públicas e inclusive de editoriais de opinião dos próprios órgãos da imprensa em defesa da forte repressão à manifestação;
– A preocupação com aumento dos casos de ameaças a jornalistas por parte de integrantes da Polícia Militar, agravada pelo medo que impede os profissionais em dar encaminhamento às denúncias;
O repúdio a todas as tentativas de dificultar e impedir o trabalho de cobertura jornalística dos eventos, inclusive aquelas promovidas pelos próprios manifestantes
Nesse sentido, reivindicamos as seguintes ações:
– Identificação e responsabilização dos responsáveis por todas as agressões ocorridas nas recentes manifestações;
– Garantia da liberdade de manifestação na cidade, com revisão das doutrinas, manuais e procedimentos para uso de armas menos letais;
– Criação de Grupo de Trabalho em âmbito estadual para adoção de medidas específicas de proteção à liberdade de imprensa, com sugestão de participação da Secretaria de Segurança Pública, Polícia Militar, Sindicato dos Jornalistas e organizações da sociedade civil;
As organizações também consideram fundamental o acompanhamento do Grupo de Trabalho sobre proteção a jornalistas da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e a denúncia dos casos às relatorias de liberdade de expressão da OEA e da ONU.
Salientamos, por fim, que a violência contra jornalistas e comunicadores atenta não apenas contra os profissionais e veículos envolvidos, mas contra o direito de toda a sociedade a ser informada, configurando-se, na prática, como uma forma de censura.
São Paulo, 20 de junho de 2013
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Aprendiz
Artigo 19
Conectas Direitos Humanos
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
Instituto Vladimir Herzog
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
Repórteres Sem Fronteiras
Repórter Brasil
PS: veja relação completa de feridos e detidos na matéria “SJSP estuda processar Estado por violência policial contra jornalistas” no site do SJSP – www.sjsp.org.br