O presidente da República, Jair Bolsonaro, agrediu verbalmente, hoje pela manhã, a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. Não foi a primeira vez. Desta feita, Bolsonaro utilizou diferentes sentidos da palavra “furo” para atacar a jornalista, com trocadilho típico dos porões e de ambientes do submundo.
Começa a parecer inútil difundir notas de repúdio a cada vez que o ocupante de turno do Palácio do Planalto emite sandices. Já está patente que o atual governo é inimigo declarado da liberdade de imprensa e do jornalismo. No primeiro ano de seu mandato, segundo contagem feita pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Bolsonaro proferiu 116 ataques à imprensa. O levantamento não se refere a contestações ou declarações nas quais diverge de partes do noticiário; contabiliza apenas as agressões verbais e xingamentos dirigidos a jornalistas, órgãos noticiosos ou à imprensa em geral, nos quais Bolsonaro tem se mostrado pródigo.
Nos ataques à repórter Patrícia Campos Mello, Bolsonaro expressa de forma abjeta e repugnante a misoginia que caracteriza o ambiente que o cerca. E, com orgulho, registramos que nossa categoria profissional é hoje majoritariamente feminina. Por isso, suas declarações deste 18 de fevereiro de 2020 merecem o nosso repúdio ainda mais enfático.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo considera que Bolsonaro vem passando da esfera da grosseria e da desqualificação, que o caracteriza desde o início do mandato, para práticas de ainda maior gravidade. Ao realizar hoje um ato que pode ser qualificado como injúria, torna-se passível de responsabilização criminal. O presidente da República não está acima das leis, e sua conduta indigna – sobretudo em se considerando o cargo que ocupa, que exige decoro – não pode permanecer impune.
São claros os motivos pelos quais Bolsonaro ataca a repórter Patrícia Campos Mello. Suas reportagens, publicadas em outubro de 2018, mostraram que a campanha do então candidato do PSL havia feito uso de mecanismos de fraude e manipulação para adulterar o curso das eleições presidenciais. A jornalista realizou um trabalho impecável, que trouxe a público elementos de contestação da legitimidade da eleição de Bolsonaro. Com seus pés de barro, o atual mandatário não suporta conviver com a atividade de imprensa. E, a cada dia, suas atitudes corroboram, por si só, a inadequação de sua presença na chefia do Poder Executivo do país.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo manifesta todo o seu apoio à repórter Patrícia Campos Mello e se coloca, novamente, à disposição, para todas as providências legais cabíveis. O Sindicato e a Fenaj iniciaram conversas, também, com outras entidades de defesa da democracia e da liberdade de imprensa no Brasil para debater ações conjuntas que possam ser tomadas com o objetivo de estancar esses ataques covardes e punir o seu autor.
São Paulo, 18 de fevereiro de 2020
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo