A direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, representado pelo seu presidente, José Augusto Camargo (Guto), participou da mesa dos trabalhos de abertura da Comissão da Verdade do Município de São Paulo, realizada nesta segunda-feira (11) na Câmara Municipal de São Paulo.
O presidente da comissão, o vereador Ítalo Cardoso (PT), disse que os trabalhos do grupo devem ser direcionados para juntar as informações obtidas por investigações anteriores — como a realizada pela CPI que em 1990 investigou a origem das ossadas encontradas na chamada “vala de Perus”.
“Nós temos todo um conjunto de informações coletadas ao longo dos anos”, declarou o parlamentar. “Tem o relatório da CPI de 90, tem a subcomissão criada aqui para acompanhar o processo de abertura dos arquivos da ditadura. Então nós vamos pegar tudo o que temos agora, mandar para as comissões estadual e federal, já pedindo providências.”
Já o presidente do Sindicato, José Augusto Camargo relembrou o papel dos jornalistas na luta pela redemocratização do país, sobretudo na figura de Vladimir Herzog – assassinado pelos militares em 1975 no prédio do DOI-CODI, que além de dar nome ao auditório da entidade, também nomina a Comissão da Verdade do Município, que é uma homenagem a ele. “Vlado deu sua vida pela liberdade e é o símbolo da resistência à ditadura”, disse.
Também nesta segunda-feira, ocorreu a primeira reunião conjunta das Comissões Federal, Estadual e Municipal deverá dar subsídios aos trabalhos, dentro de suas possibilidades, para ajudar a esclarecer os crimes da ditadura militar.
Na reunião conjunta, realizado no escritório da Presidência da República em São Paulo, foram ouvidos os parentes de mortos e desaparecidos durante ao período militar (1964-1985) e também os membros das Comissões da Verdade instaladas na Câmara Municipal de São Paulo e na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
A diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Rose Nogueira – que também é presidente do grupo Tortura Nunca Mais/SP e membro da Comissão de Justiça e Paz da Cúria Metropolitana de São Paulo, participou do encontro e defendeu que a Comissão da Verdade tenha amplitude para interromper um processo de impunidade que não somente ocorreu na ditadura militar.
“Até hoje ainda persistem no aparato policial métodos repressivos incompatíveis com a democracia. Havia visto as mortes de 500 pessoas realizadas pela policia paulista como vingança aos ataques do chamado PCC, triste episódio que ficou conhecido como os Crimes de Maio. É uma doutrina de guerra que ainda não acabou”.
Rose Nogueira acredita que os Sindicatos, inclusive o dos Jornalistas, têm uma grande contribuição a dar para este processo que instaurou no país. “A Comissão da Verdade deve ser dividida em subcomissões e uma delas, sem dúvida, é a que se refere aos jornalistas. Afinal, a liberdade de expressão e de imprensa são temas preciosos para a categoria e a questão da censura, por exemplo, para mim, é um capítulo importante a ser debatido”.
Filho de Marighella
Segundo o coordenador da comissão, o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), novos encontros serão feitos com instituições que trabalham no resgate da memória. “Esse foi o primeiro contato com esse segmento institucional que vai nos auxiliar de maneira essencial para que os trabalhos atinjam um bom fim”, ressaltou em entrevista.
“Nós temos, por força de lei até, poderes para ter esse complemento com entidades universitárias e todas as instituições do Poder Público”, completou, após lembrar que a Universidade de São Paulo (USP) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo também têm projetos semelhantes.
Na semana que vem a comissão deverá terminar de elaborar o plano de trabalho. “Nós vamos fazer agora um calendário. Mas todas essas pessoas que vocês conhecem, que são controvertidas, que possam informar, todas elas, na época oportuna, serão ouvidas”, explicou Dipp.
O ministro ressaltou que o grupo já tem um espaço físico para desenvolver as atividades, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, e já nomeou quase todos os 14 assessores que auxiliarão nas investigações.
A reunião com os parentes das vítimas da repressão foi importante, segundo a integrante da comissão Maria Rita Kehl, para dar contexto ao trabalho. “Não são coisas que nós desconhecíamos, mas o depoimento direto com emoção de cada pessoa, com a diferença da emoção de cada pessoa, a expectativa, a esperança renovada de cada familiar nos alimentou muito”.
Para o deputado estadual Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade da Assembleia de São Paulo, a reunião ajudou a determinar qual será o campo de investigação de cada grupo. “Pelo menos agora a gente tem um norte, como se relacionar, qual é o papel de cada um. Acho que é uma coisa importantíssima”.
Carlos Augusto Marighella, filho do ex-guerrilheiro Carlos Marighella, foi a São Paulo para participar da reunião. Para ele, a comissão será uma oportunidade de apresentar a versão sobre a história do pai que ele e a ex-mulher de Marighella, Clara Charf, vem tentando conservar.
“A família, eu a Clara, nós temos 40 anos tentando contar essa verdade. Recolhendo documentos, levantando fatos que provam todas essa versões maliciosas ditas contra ele não têm procedência”.
“Ele foi apresentado pela imprensa controlada, manipulada pelos militares, como um terrorista, assaltante de bancos, como uma pessoa até desajustada, entretanto é um grande herói do país”, destacou.
Legenda da foto: o presidente do Sindicato, Guto, na Mesa da Comissão Municipal (último à direita)
Com informações da Agência Brasil
Foto de RenattodSousa/Câmara Municipal de SP