Aconteceu na manhã desta quinta-feira (26) o início das comemorações do 1º de Maio da CUT, com a realização do Seminário sindical: estratégias para o desenvolvimento sustentável nacional e internacional, promovido pela Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT/SP). O evento reuniu na discussão inicial representantes sindicais do Brasil, Rússia e Argentina; da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do governo federal. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo participou com os dirigentes Lílian Parise, secretária de Comunicação e Cultura e José Eduardo Souza, do Conselho de Diretores.
“Não podemos conceber a ideia de desenvolvimento, crescimento e sustentabilidade sem crescimento do índice de desenvolvimento humano. Temos aqui representantes internacionais, técnicos, sindicalistas e também, entre o público, estudantes universitários para discutir e refletir sobre essas importantes questões”, anunciou o presidente da CUT/SP, Adi dos Santos Lima. Entre os temas que ganharam destaque figuram indicadores econômicos e sociais do Brasil e do mundo; a necessidade de erradicação da pobreza, da implantação do trabalho decente e suas conexões com o desenvolvimento sustentável e os rumos do sindicalismo.
“Ao falarmos de desenvolvimento sustentável, precisamos deixar claro o posicionamento da CUT, que é o entendimento claro da diferença entre crescimento, baseado em valores numéricos e o PIB, e desenvolvimento com distribuição de renda. O crescimento puro e simples não significa melhores condições de vida para a classe trabalhadora, porém, é nesse momento de crescimento, como o que passamos atualmente no Brasil, que nós, trabalhadores/as, podemos avançar na luta para conquistar melhores condições de vida”, defende Vagner Freitas, Secretário de Administração e Finanças da CUT Nacional.
Na avaliação de Esther Bemerguy de Albuquerque, secretária de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o modelo brasileiro da última década é o que mais se aproxima do modelo de desenvolvimento sustentável na comparação com outros países. Em sua apresentação, a representante do governo federal ressaltou a importância das políticas de transferência de renda, a valorização do salário mínimo – que aumentou 66% nos últimos dez anos – e o amplo sistema de proteção social, com a criação de 18 milhões de empregos.
A eleição de um metalúrgico e, na sequência, da primeira mulher – militante no combate a ditadura – à presidência mudou a concepção que imperava na década de 90, quando o neoliberalismo ditava as regras econômicas, com a cartilha a ser seguida pelos países mais pobres, fundamentalmente. “Hoje temos o entendimento do Estado como indutor do desenvolvimento, o que permite à classe trabalhadora avançar nas lutas e nos enfrentamentos para que alcancemos conquistas perenes e não momentâneas”, destacou o representante da CUT, Vagner Freitas.
Para ele, apesar de caminharmos para o posto da 5ª maior economia do mundo, não avançaremos enquanto não acabarmos com a desigualdade. “Não concordamos com a ordem estabelecida pelo FMI e Banco Mundial. Acreditamos que um outro mundo é possível, com inclusão social, fortalecimento da democracia, que diz respeito, sobretudo, à participação da sociedade nos processos de participação e decisão”.
De forma semelhante, Victorino Paulon, Secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores da Argentina, ressaltou a importância da reflexão realizada neste 1º de Maio da CUT como forma de contribuir para que mitos da década de 90 sejam destruídos através do debate coletivo. “Com isso, podemos romper com a cultura de dependência que perdurou por todo esse tempo na América Latina. Vivemos um momento histórico novo, com a possibilidade de avançarmos no modelo de desenvolvimento sustentável a partir do ponto de vista da classe trabalhadora frente ao modelo de capitalismo selvagem, que não é a solução para a humanidade”, ressalta.
No nível mundial, a representante do governo, Esther Bemerguy de Albuquerque, afirmou que “sem um pacto global de governança, não é possível falar em desenvolvimento sustentável, principalmente em relação ao clima” e acredita que a Conferência Rio+20 não pode se restringir a um debate sobre economia verde como querem os europeus, “o que pode criar barreiras comerciais para os países em desenvolvimento”, sublinhou.
Paulo Sérgio Muçouçah, coordenador dos Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes da Organização Internacional de Trabalho (OIT-Brasil), ainda alertou que, “mesmo numa transição para a economia verde, há necessidade de políticas complementares para garantir proteção social”, pois atualmente há 5 bilhões de pessoas sem proteção social e 15% dos trabalhadores do mundo não tem qualquer auxílio no caso de desemprego.
Em sua análise do cenário internacional e do Brasil, Paulo Muçouçah apresentou dados que revelam um quadro de extrema divergência entre crescimento econômico e inclusão social. “Temos progressos escassos na inclusão social e com deterioração do meio ambiente. Esse desequilíbrio (entre desenvolvimento e inclusão social) tem se reforçado com a crise econômica e com as catástrofes ambientais”, afirmou Muçouçah. Além do reequilíbrio para buscar o desenvolvimento sustentável, o coordenador da OIT-Brasil afirmou que falta geração de empregos de maior qualidade, de trabalho decente.
Experiência internacional reforça a luta por liberdade e autonomia sindical
“Na Rússia, o movimento dos trabalhadores cresce a cada dia. Nos últimos seis, para mais de três milhões de pessoas, e a tendência é de que cada vez mais jovens estejam ativos no movimento sindical. Nós (o Sindicato) somos procurados por vários trabalhadores de empresas pequenas, que enfrentam condições de trabalho muito ruins. Mas temos outros problemas, como o de pessoas que ainda não entendem a necessidade de união e luta por direitos”, afirma Artem Iashenkov, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias Automobilisticas da Rússia.
Hoje há democracia no país, porém essa democracia nem sempre é respeitada. O maior problema para avanço do sindicalismo é o governo, que cria obstáculos ao crescimento. E também há repressão: em 2007, por exemplo, a Ford chamou a polícia para reprimir os trabalhadores em greve. As principais reivindicações são o aumento nos salários e melhores condições de trabalho. Conseguimos acordos na Ford e na Volkswagen. Na primeira, neste ano, houve redução da jornada de trabalho e dos terceirizados, que antes representavam 20% na empresa. E na VW conseguimos que 400 terceirizados fossem contratados.
“Foi em 2005, num encontro internacional dos trabalhadores da Ford realizado no Brasil, organizado com a participação da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), que aprendemos duas palavras mágicas do estranho povo brasileiro: ‘organização e luta´”, relembrou Iashenkov. “A partir daí, começamos a organizar o sindicato que se tornou hoje o mais forte, independente e perseguido pelo governo Putin e governos regionais da Rússia”, finalizou.
Lançamento Dieese
No período da manhã, ainda ocorreu o lançamento do livro “A situação do trabalho no Brasil na primeira década dos anos 2000”, elaborado pelo Departamento Intersindical de Estática e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Texto: Maria Angélica Ferrasoli, Flaviana Serafim e Tatiana Melim – CUT/SP
Lílian Parise (centro) durante Seminário em foto de Roberto Parizotti