“Por que agora (…), justamente quando jornalistas e a imprensa sofrem tremendos ataques do presidente da República e seu entorno, justamente neste momento, a Editora Abril toma uma decisão tão nefasta?”, questiona documento enviado nesta segunda, dia 26. Veja abaixo:
“Ao senhor
Fábio Carvalho, presidente da Editora Abril
Ref.: Solicitação de reconsideração de decisão
São Paulo, 26 de outubro de 2020
Em 23 de setembro do corrente, a Editora Abril notificou o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Paulo Zocchi, a voltar ao trabalho, definindo depois o retorno para o dia 30 de outubro, pois não pretende continuar pagando o seu salário enquanto ele preside a entidade.
Na qualidade de ex-presidentes do Sindicato, vimos à presença dos senhores para solicitar que reconsiderem a decisão tomada.
Lembramos, em nome de todos os associados ao SJSP, representados na Assembleia Geral Extraordinária deste 15 de outubro, que a decisão da Editora Abril rompe com uma tradição das grandes empresas jornalísticas no estado de São Paulo de liberarem presidentes do Sindicato sem prejuízo dos seus salários. Essa tradição data dos anos 1960 e sempre contou com o apoio da própria Editora Abril, que já teve quatro de seus jornalistas como presidentes do Sindicato.
Por que agora, justamente quando faltam menos de dez meses para que Paulo Zocchi complete o seu segundo e derradeiro mandato à frente da entidade, justamente quando jornalistas e a imprensa sofrem tremendos ataques do presidente da República e seu entorno, justamente neste momento, a Editora Abril toma uma decisão tão nefasta?
Pedimos que os senhores reflitam sobre o significado dessa decisão no contexto atual. Vai bem além de uma simples iniciativa do setor de RH de uma grande empresa. Diz respeito às próprias liberdades civis, entre elas a liberdade de imprensa.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo é uma das mais importantes organizações dos jornalistas brasileiros. Sua atuação nas lutas pela liberdade de expressão e de imprensa, bem como no próprio processo de democratização do país, são notórias. Saibam, os senhores, que a impossibilidade de o presidente da entidade dedicar-se integralmente a seus afazeres impactará de forma profunda a capacidade de o SJSP continuar atuando nas frentes em que atua, inclusive nas lutas pelas liberdades civis.
Contudo, em que pese sua importância nas questões dos jornalistas e da sociedade, o SJSP é uma entidade pequena, sob ataque também da legislação que impede que se recolha o imposto sindical. Lidera os jornalistas em momento de profundas mudanças no fazer jornalístico. Observem, senhores, que são muitos os impactos negativos ao mesmo tempo. Que a Editora Abril, uma empresa jornalística, não figure – ela também – entre aqueles que menosprezam as liberdades civis e a própria liberdade de imprensa em nosso país.
Solicitando que acusem o recebimento desta, manifestamos nossa certeza de que podemos contar com os senhores para rever essa infeliz decisão.
Atenciosamente,
Lu Fernandes, presidente de 1982 a 1984;
Gabriel Romeiro, presidente de 1984 a 1987;
Robson Moreira, presidente de 1987 a 1990;
Everaldo Gouveia, presidente de 1993 a 2000;
Fred Ghedini, presidente de 2000 a 2006;
José Augusto de Camargo, presidente de 2006 a 2014.