A Rede Brasil Atual deve processar o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, pela agressão verbal cometida contra um repórter da RBA durante entrevista coletiva na última sexta-feira. José Serra havia afirmado, em visita ao bairro da Mooca, que tinha tido a ideia, ali na hora, de abrir uma escola técnica nessa região. O jornalista perguntou ao candidato tucano se a ideia tinha surgido nesse momento mesmo ou fazia parte do seu programa de governo. A pergunta deixou Serra irritado e disse que não respondia para “sem vergonha”.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) repudiou a atitude do candidato à Prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB), que ofendeu o jornalista que acompanhava a agenda de campanha do candidato, em visita ao bairro da Mooca.
Não é a primeira vez que o candidato Serra questiona a que veículo o jornalista pertence em coberturas eleitorais. Em 2010, durante a sua derrotada campanha à presidência da República, fez esta pergunta a um repórter da Rede Globo e pediu desculpas pelo questionamento.
“Serra tem o hábito de responder apenas ao que lhe agrada, mas parece ter dificuldade de lidar com a liberdade de imprensa. É uma postura autoritária. Se é despreparado para ouvir críticas, revela nessas situações seu desapreço pela democracia e pela liberdade de imprensa”, afirmou o diretor da Rede Brasil Atual , Paulo Salvador.
As agressões a jornalistas estão cada dia mais comuns, principalmente em coberturas políticas, principalmente no interior do estado. Esse tema foi, inclusive, base para uma moção apresentada por jornalistas delegados do 14º Congresso Estadual da categoria, que aconteceu entre os dias 21 e 23 de setembro, na cidade de Caraguatatuba.
O episódio
No final da visita ao bairro da Mooca, Serra disse aos jornalistas que estar naquele lugar, que o remete à sua infância e repentinamente teve uma ideia: a de criar um sistema municipal de ensino técnico e profissionalizante. Nesse momento, foi questionado pelo repórter da Rede Brasil Atual se essa ideia havia lhe ocorrido naquele momento ou estava em seu plano de governo. O candidato, antes de responder a pergunta, quis saber de qual veículo era o jornalista. Não respondeu a pergunta, passou para o próximo repórter e abandonou a coletiva.
“Vamos aumentar em dezenas de milhares o número de alunos em parceria com o governador do estado, Geraldo Alckmin. É uma chance para crianças de famílias mais humildes subirem na vida”, propôs. “Isso me veio agora à cabeça lembrando de minha infância e juventude aqui.”
– A ideia veio agora à cabeça ou é seu projeto de governo? – perguntou o repórter da Rede Brasil Atual.
– De onde você é? – indagou o tucano, pergunta que promove habitualmente. Nas eleições de 2010, quando descobriu que havia interpelado um repórter da Rede Globo, Serra pediu desculpas.
– Não interessa – respondeu o repórter. – O sr. vai responder à minha pergunta ou não?
– Eu quero saber de onde.
– Da Rede Brasil Atual.
Ouça aqui a gravação
Serra, então, fez um gesto de desdém e ameaçou encerrar a entrevista, mas permaneceu no local após insistência dos jornalistas. O candidato foi questionado por um repórter do G1, portal de notícias da Globo, sobre declarações de seu rival e líder nas pesquisas eleitorais, Celso Russomanno (PRB). Antes de responder, porém, perguntou ao jornalista: “De onde você é?” Após ouvir “G1”, o tucano assentiu e esclareceu a dúvida do profissional.
Depois, José Serra foi questionado novamente sobre a inexistência de seu plano de governo por um profissional do programa televisivo CQC, da Band. “Que solução você tem para resolver o problema do trânsito
Depois disso, o candidato o PSDB deu a conversa por encerrada. O repórter da RBAperguntou, então, por que Serra só responde a “perguntas favoráveis à sua campanha”, o que irritou o tucano: “Não, eu não respondo pergunta de sem-vergonha. É só isso.”
Histórico
Não é a primeira vez que o tucano tenta impedir o trabalho jornalístico da RBA. Nas eleições de 2010, em diversas ocasiões ele se recusou a responder às perguntas de veículos de comunicação que não lhe agradavam.
Este ano, a RBA tentou acessar a agenda de campanha de Serra, mas foi impedida. O chefe de comunicação do tucano, Fábio Portela, refutou todos os pedidos apresentados logo início do período eleitoral. De lá para cá, ele não permite que os compromissos diários do candidato sejam divulgados, como fez hoje, o que vem impedindo a cobertura jornalística nos mesmos moldes daquilo que se faz com as atividades de Celso Russomanno (PRB) e Fernando Haddad (PT), por exemplo – os dois principais adversários do candidato derrotado à Presidência da República em 2010 têm respondido normalmente às perguntas que lhes são apresentadas por todos os veículos.
A má relação de Serra e aliados com a nova mídia é notória. Este ano, o PSDB apresentou à Procuradoria Regional Eleitoral pedido de investigação da publicidade de autarquias federais a veículos considerados contrários aos interesses do partido – a sigla queria especificamente que fossem vasculhadas as contas de Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, e do blog de Luis Nassif. O pedido foi rejeitado.
Texto: Da redação, com Rede Brasil Atual