O segundo debate do Seminário Sindical sobre o futuro do trabalho promovido pela FENAJ, em parceria com a FIJ, na tarde da última sexta-feira, reuniu pesquisadores em jornalismo para apresentar as consequências para o jornalismo com as mudanças tecnológicas.
O professor da Unisinos, Rafael Grohmann, propõe uma recategorização do termo “uberização” para “plataformização” do trabalho e fez o recorte nas alterações das práticas e nas narrativas jornalísticas. Ele entende que o profissional jornalista está envolvido nesse capitalismo de plataforma, que subdivide o trabalho em algoritmos, empreendedorismo e financeirização, sendo três tipos de plataforma: localização específica (uber, ifood); micro trabalho (treinadores de dados); freelancer (jornalismo de portifólio). E o jornalismo está na dependência dessa estrutura de plataforma. Para ele, “o vale do silício reestrutura o jornalismo”, que se situa na cadeia produtiva do trabalho digital global.
Nesse momento histórico, as plataformas oferecem produtos jornalísticos com inteligência artificial e, segundo Grohmann, “estamos cada vez mais comprimidos em trabalhos invisíveis”, sendo que o desafio é de organizar os jornalistas nesse contexto de desprofissionalização. O professor apresentou, então, experiências de sindicalismo e cooperativismo, ligados às plataformas, em diversas regiões do mundo. Grohmann entende que novos tipos de trabalho demandam novas táticas de organização e que não existem categorias inorganizáveis.
O professor Jacques Mick, da UFSC, apresentou resultados de pesquisa realizada com jornalistas no Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO), que começou em 2012, com a Pesquisa do Perfil Profissional do Jornalista, em parceria com a FENAJ, respondida por 5 mil profissionais, e que um questionário foi reaplicado para essas mesmas pessoas (que deixaram contato de e-mail) no ano de 2017.
O pesquisador, então, analisou as mudanças no perfil desses jornalistas no período de cinco anos e revelou alguns aspectos da profissão e os efeitos da crise na categoria, como a carreira curta.
Num público de 1.233 respostas, foram divididos em três grupos: os professores, os profissionais que atuam em algum tipo de mídia e os que estão na produção de conteúdo jornalístico fora das mídias.
Uma das características do profissional jornalista é a formação continuada, maior concentração até 35 anos de idade, maioria mulheres. Foi descoberto o que ele chama de “estrutura dual” na carreira: uma minoria consagrada financeiramente e na visibilidade e uma maioria no trabalho precarizado e o aspecto perverso dessa dualidade é que a partir da minoria, a maioria fixa seu horizonte de possibilidades na carreira.
A pesquisa também revelou que 4 em cada 10 jornalistas não estavam mais na profissão no comparativo entre 2012 e 2017 e dos que estavam foram da profissão, 68,3% permaneceram fora dela no período. Os jornalistas também não migram a atuação da mídia para fora da mídia. A avaliação é que conforme o tempo vai passando, mais jornalistas desistem da profissão. Em cada dez jornalistas, cinco permanecem, três abandonam e dois atuam em outras áreas.
Os diretores da FENAJ Rafael Mesquita e Celso Schroeder participaram da mediação do painel situando a representação em evento que ocorreu na Argentina, em setembro, no seminário “Globalización, Cambio Tecnológico y Actores del Mundo del Trabajo em América Latina”.
Rafael apresentou o questionário “Estudo sobre as Redações Integradas no Jornalismo Empresarial”, que deve ser respondido pelos Sindicatos de Jornalistas de todo o país e pode ser acessado neste link. O questionário é parte de projeto de pesquisa desenvolvido a partir do seminário, que pretende entender como o sindicalismo se insere nesse cenário e propor respostas.
Schroeder ressaltou o papel do jornalismo e da mediação nesse contexto de alterações tecnológicas e defende que não é o jornalismo que entrou em colapso, mas o financiamento do jornalismo.