A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) realizou sexta-feira, 29 de novembro de 2019, em São Paulo, o Seminário Sindical “O futuro do trabalho na economia digital e desafios para a organização dos trabalhadores”, em parceria com a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ).
O economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, abordou a temática “O futuro do trabalho na economia digital e a nova classe trabalhadora” na primeira mesa de debates, estabelecendo um resgate histórico das características do trabalho no Brasil.
Pochmann comparou alguns períodos de transformações do trabalho no mundo, como no período que antecedeu a primeira revolução industrial, em que a sociedade era agrária, com 35% da população residindo na área territorial entre China e Índia, responsáveis por 55% do PIB do planeta.
A transformação para uma sociedade industrial, a partir da revolução tecnológica na Europa, conforme explica Pochmann, se configurou com outros dois elementos: o estabelecimento de moeda internacional e a existência de forças armadas. Esse cenário define o funcionamento do capitalismo e quem não tem tecnologia, moeda e forças armadas é periférico. Essa configuração é de centralidade do trabalho na vida humana.
O economista defende que essa centralidade do trabalho na vida humana se transformou e migrou nos países a partir das modificações atreladas ao aumento de renda: com renda maior, consome-se mais bens industriais, mas existe limite para esse tipo de consumo e partir desses esgotamento, o consumo aumenta em serviços, a chamada “desindustrialização madura”.
Pochmann relatou que essa fase de migração do consumo de bens para serviços no Brasil é um processo de desindustrialização precoce, pois o acesso a bens ainda não era possibilitado para a totalidade da população. A centralidade do trabalho se desloca: com os empregos no setor de serviços, perde-se referentes claros de hierarquia, de jornada e local de trabalho. O exercício de múltiplas atividades altera a identidade e pertencimento desse trabalhador.
O trabalho continua tendo centralidade, mas modificou sua natureza. Para Pochmann, existe uma alienação sobre o papel da tecnologia, relacionada ao aumento do desemprego. Ele cita que os países com maior avanço tecnológico nas indústrias e serviços são os que vivem pleno emprego, como a Coreia do Sul. E que o que ocorre é que no Brasil a oferta de empregos em serviços depende da renda dos ricos, que não há reação alguma da sociedade sobre o aumento brutal das desigualdades.
O economista explica que existe uma massa “inorgânica” de 105 milhões de brasileiros que vivem com até R$ 400 e que se tornou disfuncional ao capitalismo. E quem acolhe essa massa, em assembleias, são as igrejas, com discurso de esperança, exercendo um papel que o Estado e as instituições, como os sindicatos, não estão exercendo.
Seminário Sindical e de Planejamento da FENAJ
A abertura do encontro foi conduzida pelo vice-presidente da FENAJ, Paulo Zocchi, e pela representante da FIJ, Belén Wildner, que situaram a realização do evento, que tem a participação da direção da FENAJ, como espaço para debate e articulação de estratégias e ações num cenário adverso para a classe trabalhadora e para o país. Para Zocchi, a precarização da profissão de jornalista foi agravada a partir do golpe de 2016, com os governos Temer e Bolsonaro. O diretor lembra que a MP 905/2019 aprofunda os ataques aos direitos trabalhistas e extingue o registro profissional dos jornalistas.
Durante a solenidade também foram recebidos jornalistas chineses que fazer parte da Associação dos Jornalistas da China, que assinou convênio com a FENAJ para troca de experiências na defesa do jornalismo.