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ONGs decidem lutar contra a militarização da vida

ONGs decidem lutar em conjunto contra a militarização da vida

De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), no último mês de junho as mortes em decorrência da intervenção policial, conhecidas como autos de resistência, subiram 60% na comparação com igual mês de 2017. Imagem: Pixabay/CCOrganizações não governamentais (ONGs) de vários países vão lutar em conjunto contra o que denominaram militarização da vida. A decisão foi tomada em audiência popular no 3º Julho Negro, movimento que reúne organizações ao redor do globo que pautam a luta contra a militarização, a violência policial e o racismo, na Faculdade Nacional de Direito, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Gizele Martins, integrante do Julho Negro e uma das organizadoras do evento, moradora na Favela da Maré, no Complexo do Alemão, há mais de 40 anos, teve seis pessoas da família atingidas por armas de fogo ao longo dos anos, naquela comunidade. “Na audiência popular, vimos que os Estados agem da mesma forma para controlar a vida dos negros, as vidas palestinas, as vidas ao redor do mundo. A gente precisa lutar juntos contra esse processo de militarização da vida, porque os governos ricos agem da mesma forma contra os menos favorecidos”, disse.

O aumento do armamento nos países, segundo Gizele, acaba levando a guerras em várias nações e ampliando o número de vítimas. “A gente quer ter direito à educação, à saúde, à moradia, à terra, e não a armas. A gente sofre no dia a dia com os tiroteios, as operações policiais e militares, que hoje duram mais de dez horas”.

Gizele perdeu a casa onde morava na Maré, que havia sido construída pela avó há 40 anos, devido à invasão constante da polícia. Hoje, a família mora em outra área da comunidade. Segundo Gizele Martins, várias casas foram invadidas pela polícia no ano passado, naquela favela, com a consequente expulsão dos moradores.

Rede de Comunidades

Ana Lúcia de Oliveira faz parte da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, que reúne mães e familiares de vítimas da violência. Ana perdeu o filho Michel Antônio de Oliveira da Silva, 20 anos, no dia 5 de abril de 2008, em Ramos. Michel era ajudante de caminhão e tinha uma filha menor de idade. Ele desapareceu quando estava de folga do serviço e seu corpo, torturado, só foi encontrado pela mãe meses depois. O caso ainda está sob investigação da polícia e os culpados não foram presos.

Os relatos apresentados por representantes de organizações mostraram a Ana Lúcia que fatos como o que vitimou seu filho acontecem também em outros lugares do país e do mundo. Por isso, ela disse que “é muito importante a gente se comunicar com outras mães que estão precisando compartilhar seu sofrimento”.

O trabalho da Rede é apoiar outras mães na questão da saúde, porque “quando a gente perde os nossos filhos, perde a saúde, fica debilitada. Então, precisa de apoio, inclusive psicológico. Eu, depois que perdi meu filho, tive vários problemas. A psicóloga ajuda muito”, disse Ana Lúcia.

Solidariedade

A assessora da ONG Justiça Global, Gláucia Marinho, disse que o encontro visou unir forças e conquistar a solidariedade internacional contra o racismo, o apartheid e a militarização. “Temos que planejar ações comuns de enfrentamento à militarização no seu global”, defendeu.

As atividades do Julho Negro começaram na última segunda-feira (23) e terminaram hoje, no Rio de Janeiro, com a audiência popular. Na semana que vem, estão programadas várias atividades em São Paulo e a partir daí é que será construída uma agenda comum de lutas, informou Gláucia.

De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), no último mês de junho as mortes em decorrência da intervenção policial, conhecidas como autos de resistência, subiram 60% na comparação com igual mês de 2017. Foram 155 homicídios decorrentes de intervenção policial, contra 142 em maio e 97 em junho do ano passado.

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