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O escândalo Cachoeira e as empresas de comunicação

O escândalo Cachoeira e as empresas de comunicação

Nos últimos meses, os brasileiros tomaram conhecimento de uma vasta rede criminosa, organizada pelo bicheiro Carlos Cachoeira, envolvendo parlamentares, governos e membros do Judiciário, de âmbito nacional. As revelações, surgidas a partir de um minucioso trabalho legal de investigação realizado pela Polícia Federal, incriminaram logo de saída o senador Demóstenes Torres, eleito pelo DEM-GO, uma das principais vozes da oposição no Congresso Nacional, parlamentar com atuação marcadamente conservadora e antissindical.

Da investigação, o senador emerge como um subordinado do criminoso, intimamente associado a ele. E, à medida que o conteúdo de escutas telefônicas e de outros documentos vem à tona, novas revelações surgem, ampliando a rede de envolvidos e trazendo indícios de participação de políticos de diversos partidos.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, coerentemente com sua história de defesa da democracia e da soberania popular, soma-se à Central Única dos Trabalhadores (CUT) para exigir que “a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Caso Cachoeira, instalada no dia 19 de abril, apure com rigor os fatos levantados pelas investigações da Polícia Federal e que os envolvidos sejam punidos”. Subscrevemos a nota da CUT sobre o assunto (publicada na seção Opinião e Artigos, de nosso site).

    Das investigações da Polícia Federal, emergem também fartas evidências de que o criminoso mantinha relações estreitas com meios de comunicação, sobretudo a revista Veja, do grupo Abril. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo defende uma ampla investigação das relações de Carlos Cachoeira com os veículos de imprensa, pois há fortes evidências de relações promíscuas entre as partes – muito diferentes da distância e do profissionalismo que a ética jornalística estipula para a relação entre jornalistas e fontes –, convergências de interesses políticos e econômicos entre o grupo chefiado pelo bicheiro e as empresas jornalísticas, graves erros de conduta. Há diversas situações em que falsas informações transmitidas pelo bicheiro chegaram ao noticiário como fatos, e quando são publicadas notícias mentirosas, não há jornalismo.

As evidências de associação consciente de empresas de comunicações com o bicheiro e sua quadrilha quase não aparecem no noticiário político dos grandes jornais e revistas nas últimas semanas, que escondem o assunto que lhes atinge diretamente. Diante de tais evidências de crime e das exigências de ampla investigação, as empresas jornalísticas passam a bradar em defesa da “liberdade de imprensa”, como se elas estivessem acima da lei, como se fossem totalmente inimputáveis por suas ações ou pelas notícias que divulgam. A defesa da mais ampla liberdade de imprensa é uma das razões de ser do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo, e ela não só é compatível, como exige a mais ampla investigação das relações entre o criminoso Carlos Cachoeira e as empresas de comunicação. Isso porque a democracia é a soberania popular, e a população tem o direito de que se faça o máximo de luz sobre todo esse episódio, com as devidas consequências legais para todos os envolvidos com contravenções e crimes.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo não confunde as empresas jornalísticas com os jornalistas que nelas trabalham. Sua função é defender os direitos do conjunto dos jornalistas, cuja força de trabalho é explorada pelas empresas que atuam no “negócio” comunicações. Com base nisso, a entidade afirma:

  • a) quem defende a verdadeira liberdade de expressão no setor de comunicações são os jornalistas, e não as empresas de comunicação. As empresas defendem os seus negócios e os seus interesses políticos, que variam segundo as circunstâncias. É público o papel que a proximidade com os mandatários da ditadura militar teve para o crescimento empresarial da TV Globo e do Grupo Folha nos anos 1960 e 1970, por exemplo. Da mesma forma, o Grupo Abril pode se aproveitar de uma proximidade com o governo de José Serra, que gastou dezenas de milhões de reais em compras de publicações da editora de 2006 a 2010. Quanto aos jornalistas, contratados por essas ou outras empresas, são os protagonistas de um trabalho de caráter público, que é o de apurar e divulgar informações de interesse geral. São eles os guardiões da ética e da correção no trabalho jornalístico, frequentemente bloqueado pelas empresas. Internamente às redações, colecionam-se os casos de notícias apuradas que, por causa de interesses do empregador, são deturpadas, divulgadas parcialmente ou simplesmente censuradas. Uma evidência deste estado de coisas é a oposição dos patrões a uma simples cláusula que a categoria busca colocar nas suas Convenções Coletivas de Trabalho: “Pelo direito de consciência e respeito à ética profissional, fica determinado o direito ao jornalista de recusar a realização de reportagens que ferem a ética profissional ou sua consciência”. Mais claro impossível: ao recusar esta cláusula, as empresas esclarecem que não aceitam a mínima brecha em sua autoridade de empregadores. Os jornalistas, porém, mantêm sua reivindicação e sua luta pela ética no exercício da profissão.
  • b) sabemos que há relações comerciais estabelecidas entre governos – federal, estaduais e municipais – e as empresas de comunicação, tanto no que diz respeito a verbas publicitárias, quanto em relação à compra de conteúdo. O interesse público determina que essas relações devam ser claras e transparentes, com base em mecanismos republicanos, como concorrências e licitações públicas. A observância desses preceitos é a posição democrática e ética defendida pelo Sindicato dos Jornalistas.

    c) A extrema concentração dos meios de comunicação nas mãos de meia dúzia de famílias e magnatas é uma das chagas que afligem nosso país e facilita situações como as comprovadas pelas investigações no caso Cachoeira. Assim, reafirmamos nosso compromisso com a luta pela democratização dos meios de comunicação, reforçada neste momento pela exigência de ampla investigação e punição de todos os envolvidos em associação criminosa com Carlos Cachoeira.


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