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“O diploma é fundamental para a qualidade do jornalismo, para a formação do jornalista e para a defesa da profissão”

“O diploma é fundamental para a qualidade do jornalismo, para a formação do jornalista e para a defesa da profissão”


lalo

 

 

O professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA), da USP, e apresentador do Ver TV, transmitido pela TV Brasil, Laurindo Leal Filho (Lalo), defende o Diploma em Jornalismo e a regulamentação da profissão. Esta entrevista foi publicada no ano passado no jornal da Universidade Estadual de Maringá (UEM)

 

UEM – Qual a visão do senhor com relação ao ensino superior de comunicação no Brasil com ênfase no jornalismo?

Laurindo Leal Filho – Nós passamos por muitas dificuldades, a mais recente é a decisão equivocada, ao meu ver, do Supremo Tribunal Federal, acabando com a exigência do diploma de jornalismo. Há uma série de argumentos que garante que o diploma é fundamental para a qualidade do jornalismo, para a formação do jornalista e para a defesa da profissão. Esse foi um baque muito forte que nós sofremos, há várias faculdades que reduziram turmas ou chegaram, até mesmo, a fechar o curso e, paralelamente isso, as empresas de comunicação estão contratando jornalistas sem diploma ao seu bel prazer e, infelizmente, quem decide quem vai receber na carteira de trabalho a qualificação de jornalista é simplesmente o proprietário do meio de comunicação e é ele quem diz quem é jornalista ou não. Por sua vez, alguns cursos passaram a se subordinar à lógica das empresas e foram deixando de lado um espírito mais crítico que deve acompanhar a formação técnica do jornalista. Estão formando profissionais de acordo com o que quer o mercado de trabalho e sem uma formação crítica e que leve ao incentivo da pesquisa, à carreira acadêmica na área da comunicação, o que é muito importante. A universidade vinha sendo um dos últimos redutos onde se podia discutir criticamente a comunicação e, com essa situação, perdemos esse espaço crítico e as empresas de comunicação vão se apropriando do “produto” universidade.

 

UEM – Nesse sentido, o senhor defende que, além do diploma, uma formação intelectual do jornalismo é fundamental?

Laurindo Leal Filho – É fundamental e aconselho os estudantes que estão fazendo só jornalismo que ingressem em uma outra graduação. No mínimo, na área de ciências sociais, história. Para assim terem uma complementação nessa formação cada vez mais técnica e deficiente.

 

UEM – Com relação à experiência que o senhor tem no jornalismo, na edição de jornais na USP e na UFSCAR, o que o senhor tem a dizer sobre esse jornalismo que se propõe a transmitir ou traduzir para o público em geral a produção científica de uma instituição de ensino, no caso, aqui da UEM? O chamado jornalismo científico?

Laurindo Leal Filho – A universidade se sustenta no tripé básico: ensino, pesquisa e extensão. E os canais de divulgação da universidade como o jornal impresso, rádio e TV fazem parte desse pé chamado extensão, que nada mais é do que a devolução para a sociedade, que mantém a instituição através dos seus impostos, daquilo que a universidade produz. Então, é fundamental que esses órgãos de comunicação estejam com o seu olhar direcionado naquilo que a universidade pode contribuir para melhorar a vida do cidadão, seja na área que for: medicina, direito, psicologia, economia. Mas, com um papel muito específico que é de comunicador, ou seja, o de traduzir para o cidadão comum aquilo que a universidade produz dentro dos laboratórios e salas de aula. O comunicador, no caso, universitário deve ter a habilidade de transformar linguagem científica e acadêmica em uma linguagem acessível à população sem vulgariza – lá. Respeitando o cientista e o cidadão. E, quando o comunicador faz bem o seu papel, presta um grande serviço à comunidade.

 

UEM – Com relação a essa questão crítica o senhor defende o controle social da mídia? E em que nível esse controle?

Laurindo Leal Filho – No Brasil, a palavra controle assunta, porque nos lembramos automaticamente dos regimes ditatoriais. Mas nós precisamos pensar que em uma sociedade democrática não há liberdade sem limite, toda liberdade tem algum tipo de limite. Como os órgãos de comunicação não podem atuar sem nenhum tipo de responsabilidade social. O problema é que, como eles têm muita dificuldade na luta pela concorrência, audiência, pela tiragem e venda de jornais e revistas, têm muita dificuldade em fazer essa análise. Você precisa ter um órgão externo para fazer essa regulação. Eu defendo a existência de um órgão externo para o rádio e TV, não para a imprensa escrita. No caso da imprensa escrita, não deve haver nenhuma interferência do Estado porque qualquer um pode produzir e colocar um jornal ou revista nas bancas, diferente da TV e do rádio, que dependem de concessões públicas. Então, os meios com um acesso a grande massa devem estar em prol do público. Por isso, é fundamental um órgão regulador para garantir o benefício do público. É assim que funcionam as grandes democracias.

 

UEM – O que o senhor pensa sobre a ideia de se educar a população desde a infância para criticar a mídia e poder contribuir nesse controle social?

Laurindo Leal Filho – A alfabetização para mídia complementa esse processo de regulação e a população, entendendo como a mídia funciona, tem o discernimento para acionar os órgãos de regulação, pois será capaz de fazer uma crítica e terá espaço para debater. E a alfabetização para mídia é exatamente isso: a idéia de que você tem a comunicação como tema transversal nas escolas de ensino médio para que várias disciplinas possam trabalhar. Isso acontece na Inglaterra, onde são promovidos eventos e congressos para estimular a leitura crítica dos meios de comunicação.

 

UEM – Este é um viés do programa Ver TV que o senhor apresenta pela TV Brasil e pela TV câmara?

Laurindo Leal Filho – Também. A idéia da TV no Brasil é muito importante socialmente. Ela está presente em quase 100% dos domicílios brasileiros, a grande maioria só se informa e só tem entretenimento através da TV. A classe média fica até assustada quando eu falo isso. Mas, a maioria da população brasileira passa seu domingo vendo TV, porque dificilmente tem outra forma de lazer. Por isso, o Ver TV surgiu como uma pequena janela para que a televisão pudesse ser discutida e nós já estamos fazendo isso há seis anos. Discutimos criticamente todo o universo da televisão.

 

UEM – A questão da regulamentação é um embate que está aberto?

Laurindo Leal Filho – Desde o início dos anos 90 ela está na pauta, mas foi esquecida por muito tempo. Costumo lembrar que o ministro Sérgio Mota, o primeiro ministro das comunicações do governo FHC, apresentou um bom projeto de lei de comunicação eletrônica para substituir o que está em vigor desde 1962, totalmente ultrapassado. O ministro morreu e algumas tentativas aconteceram depois, mas isso acabou sendo deixado de lado. Só foi retomado no final do segundo mandato do governo Lula, pelo ministro Franklin Martins, da Cecom, porque o Ministério das Comunicações nunca teve muito interesse de levar as discussões pra frente, por causa das vinculações dele com as empresas comerciais. O ministro Martins deixou para a presidenta Dilma um projeto de lei de regulamentação que agora está nas mãos do ministro Paulo Bernardo e parece, pelo menos através das entrevistas que tem dado, que ele vai dar segmento. Até o final do ano, ele disse que enviará um projeto para a Câmara dos Deputados.

 

UEM – As redes sociais podem contribuir nesse processo de se entender melhor a mídia brasileira?

Laurindo Leal Filho – Eu acho que já estão contribuindo, basta ver o que aconteceu na eleição passada, quando o candidato derrotado expressou publicamente o seu desagrado com uma série de blogs que ele chamou de sujos, porque faziam um contraponto à mídia tradicional que o estava apoiando. Só isso é um belo exemplo que mostra como os blogs já estão incomodando certas verdades que aparecem como únicas na mídia tradicional e a tendência é crescer. Nesse momento, no Brasil, estão sendo organizados encontros de blogueiros progressistas em várias capitais e isso é um movimento crescente. Vale ressaltar que a maioria desses blogs é editada por jornalistas que passaram pela grande imprensa e que são respeitados, têm credibilidade e isso faz com que os outros sigam o mesmo caminho. Se essa vertente caminhar para esse sentido ela pode ser, em médio prazo, um bom contraponto para a mídia tradicional.

 

UEM – O senhor enfatiza a importância da formação do comunicador e, nesse sentido, como o avalia um curso de comunicação que trata de comunicação e multimeios?

Laurindo Leal Filho – Eu acho que acompanha a modernidade. Nós não temos como escapar da convergência dos meios e, hoje, não dá para ter um profissional habilitado para trabalhar somente em um deles. Não só pelas empresas que assim exigem, mas pela própria necessidade social de você ter habilitações para poder transitar pelos vários meios desenvolvidos. Este é o caminho dos cursos de comunicação no futuro: habilitar os jovens a poderem atuar em diferentes meios, porque, hoje, você percebe que, do ponto de vista da produção na comunicação, é fundamental você transitar por todos eles. Mas também da veiculação da comunicação que não se dá por um meio só, mas por vários. Você tem uma expectativa do público em relação à forma como o jornal, blog, TV tratam os assuntos e não é só o comunicador que transita pelos diferentes meios de comunicação, o leitor e público também e cada vez mais. Então, no caso da UEM, estão saindo na frente. Não conheço nenhum curso que tenha este tipo de trabalho da forma que está sendo feito aqui. Conheço o curso da PUC-SP, mas não possui a abrangência que me parece que está tendo este curso aqui, em Maringá.


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