Quarenta anos depois da greve histórica que estabeleceu o piso salarial dos jornalistas alagoanos, a categoria repetiu o feito e garantiu que o piso não fosse reduzido em 40%, conforme a proposta apresentada pelos três principais grupos empresariais de comunicação do estado.
A assembleia que pôs fim à greve aconteceu em frente ao Tribunal Regional do Trabalho logo após o julgamento do dissídio da categoria, que determinou a manutenção do piso, o reajuste salarial de 3% de forma parcelada e retroativa à data-base em maio, a estabilidade de 90 dias para os grevistas, sem desconto pelos dias paralisados, bem como o retorno ao trabalho a partir desta quinta-feira (4).
“A gente avalia a greve como positiva, porque derrubamos a ideia da redução do salário. Não tivemos a reposição da inflação totalmente, conseguimos 3%, mas a Justiça também determinou o pagamento dos dias paralisados. Então, é uma vitória” afirmou Izaias Barbosa, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (SindJornal).
De acordo com o sindicato, 90% da categoria que atua nas redações aderiu ao movimento grevista. Em apoio, assessores de imprensa deixaram de encaminhar releases e sugestões de pauta e os estudantes de jornalismo participaram ativamente. “Fomos pra rua e deu orgulho de ver toda a categoria com faixa na rua, com caminhada no centro e nos bairros, mostrando para a sociedade que o nosso trabalho é importante e nossa pauta também. A sociedade apoiou a greve e foi muito importante, assim como o apoio de outras categorias e outros sindicatos, porque todos tinham certeza de que isso poderia ter um efeito dominó. Se passasse a redução de salário dos jornalistas, haveria a redução de outras categorias”, relatou Barbosa.
O jornalista Thiago Correia, da TV Pajuçara, tem o mesmo sentimento. Para ele, o que aconteceu em Alagoas breca outras tentativas similares que poderiam acontecer no Brasil, e reitera a importância da união da categoria na reivindicação dos direitos. “Se não fosse a greve, as empresas não participariam da negociação porque, no princípio, elas estavam inclusive rejeitando negociar. Então, a redução poderia ser ainda maior, já que se as empresas não negociassem, o acordo perderia a validade e os jornalistas ficariam sem nenhuma garantia.” Na avaliação do jornalista, o estado de greve e a adesão da categoria foram fundamentais para tornar o processo de negociação legal e válido.
Correia ainda citou que a mobilização gerou grande visibilidade, o que fortaleceu a greve não só localmente como em outros pontos do país. Ele resumiu sua participação como “gratificante”, especialmente por ter criado uma unidade entre a categoria que, até então, não existia.
Negociação
Com a data-base da categoria em 1º de maio, o SindJornal enviou a pauta de reivindicação dos jornalistas em fevereiro e aguardou cerca de um mês para que as empresas marcassem a primeira reunião de negociação.
Segundo Barbosa, desde o início as empresas estavam dificultando a negociação, e os três maiores grupos empresariais chegaram com uma proposta única de redução de 40% do piso salarial, estabelecimento do banco de horas e implantação do tele-trabalho (home-office).
A proposta foi rejeitada pela categoria que deliberou, no final de junho, pela greve. A negociação seguiu para dissídio e terminou nesta terça-feira (3) com vitória da categoria que conseguiu manter o piso salarial.
Outros resultados
O apoio maciço e a visibilidade da greve dos jornalistas de Alagoas gerou ainda outros resultados para a categoria. Um deles foi a garantia do piso salarial aos assessores de comunicação da Câmara de Vereadores de Maceió. De acordo com o SindJornal, a conquista vai estender a luta para que se estabeleça o piso da categoria em todo serviço público.
A repercussão nacional surpreendeu, pois houve apoio de jornalistas de todo o país. Os jornalistas alagoanos receberam apoio da jogadora de futebol Marta e de diversos políticos. O ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa cancelou uma coletiva de imprensa em respeito à greve dos jornalistas. Ele anunciaria sua saída do cargo de secretário de Agricultura.
Também de forma inédita, o Diretório Acadêmico Freitas Neto da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Alagoas, aprovou em assembleia uma greve estudantil para resguardar o direito dos estudantes de jornalismo de participarem de forma ativa da greve.
Segundo Vinicius Braga Pereira, coordenador de política do Diretório Acadêmico, os estudantes estavam mobilizados desde o início da greve e o diretório percebeu que o apoio seria fundamental para resguardar os alunos que quisessem participar, uma vez que as aulas estavam ocorrendo normalmente. “A assembleia foi histórica para o diretório acadêmico por aprovar uma greve estudantil em apoio à greve de uma categoria”, destacou Pereira.
O representante do diretório acadêmico disse que a greve defendia as condições futuras de trabalho dos estudantes. “Além de apoiar a garantia do piso salarial, os estudantes puderam denunciar as condições de trabalho que sofrem e que são precárias. Com participação expressiva, também conseguem colocar sua voz para que o sindicato comece a atuar nas condições de trabalho dos estagiários de jornalismo, que têm salários precários e uma carga horária que o colocam não como aprendizes, mas como mão de obra barata”, afirmou.