Três jornalistas, Rosane da Silva Borges, Oswaldo de Camargo e Joaquim Maria Botelho fizeram palestras durante o evento Literatura à Flor da Pele: uma visita à obra de Ruth Guimarães, realizado na noite de 16 de setembro no auditório do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo. A mediação foi da socióloga Neide Almeida, que junto o jornalista e escritor Oswaldo Faustino, realizou leitura de textos da autora no decorrer do evento . A homenagem foi uma iniciativa da Fio de Contas Produções Culturais em parceria com a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira) do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo e com o Polo de Leitura LiteraSampa.
Tendo como tema Escritoras Negras: alguns recortes, a professora e jornalista Rosane Borges destacou, entre outros aspectos, Ruth Guimarães como exemplo de mulheres negras que, como com suas palavras ousaram romper um cânone literário que as relega, junto com outros segmentos a um lugar subalterno, sem voz no espaço público . O jornalista e escritor Oswaldo de Camargo, que foi amigo de Ruth Guimarães, falou da presença dela na capital paulista, de sua proveitosa amizade com Mário de Andrade e com outros escritores e intelectuais da cidade, destacando o lugar singular ocupado pela escritora na literatura brasileira.
Joaquim Maria Botelho, jornalista, filho e biógrafo da homenageada, discorreu sobre a vida de Ruth com a família no interior de São Paulo, a maneira como se relacionava com os filhos e o marido, de seu trabalho como educadora. Botelho, que é jornalista , escritor, ex-presidente da União Brasileira dos Escritores (UBE) anunciou para breve o lançamento de uma nova edição de Água Funda , desta vez acompanhada da fortuna crítica. Revelou que prepara uma biografia de Ruth ainda sem data prevista para lançamento. Botelho trouxe para o evento diversos exemplares de obras de Ruth Guimarães, difíceis de serem encontrados, e que puderam ser adquiridos pelos participantes da homenagem.
Durante a tarde do dia 16, ainda no auditório do Sindicato e como parte da programação do evento, foi realizada a oficina Leitores Urbanos: conversa sobre crônicas da autora, uma iniciativa do Polo de Leitura LiteraSampa, que contou com a participação de escritores de ligados à UBE e integrantes. Também coordenada por Neide Almeida, a oficina consistiu na leitura e posterior discussão de crônicas de Ruth, contando ainda com a participação de Joaquim Maria Botelho.
Falecida no ano passado, a escritora e jornalista negra de Cachoeira Paulista , no Vale do Paraíba, completaria agora 95 anos. Poetisa, cronista, romancista, contista e tradutora,foi a primeira escritora brasileira negra que conseguiu projetar-se nacionalmente desde o lançamento do seu primeiro livro, o romance Água Funda, em 1946.
Nascida em 1920, veio para São Paulo aos 18 anos, onde estudou na Faculdade de Letras e Filosofia da USP, com gente como Soares Amora, Fidelino de Figueiredo e Silveira Bueno, dentre os maiores profissionais especializados em língua portuguesa da época. Estudou folclore e antropologia com nomes como Mário de Andrade e se tornou revisora e tradutora de editoras como a Cultrix, onde trabalhou muito próxima a José Paulo Paes. Antonio Candido, de quem ela se tornou amiga, prefaciou “Água Funda”.
Além de inúmeras traduções, a obra de Ruth Guimarães inclui ainda Filhos do Medo. Porto Alegre, Editora Globo, 1950, Mulheres Célebres. São Paulo, Editora Cultrix, 1960, As Mães na Lenda e na História. São Paulo, Editora Cultrix,1960, Líderes Religiosos. SãoPaulo, Editora Cultrix, 1961, Lendas e Fábulas do Brasil. São Paulo, Editora Cultrix, 1972, Dicionário de Mitologia Grega. São Paulo, Editora Cultrix, 1972, O Mundo Caboclo de Valdomiro Silveira. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora/Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo do Estado de São Paulo/Instituto Nacional do Livro,1974, · Grandes Enigmas da História. São Paulo, Editora Cultrix,1975, · Medicina Mágica: as simpatias. São Paulo, Global Editora,1986, Lendas e Fábulas do Brasil. SãoPaulo, Círculo do Livro,1989 e Crônicas Valeparaibanas. São Paulo, Centro Educacional Objetivo/Fundação Nacional do Tropeirismo,1992, Contos de Cidadezinha. Lorena,Centro Cultural “Teresa D’Ávila”, 1996, Calidoscópio – A Saga de Pedro Malazarte. São José dos Campos, JAC Editora, 2006., Histórias de Onça. São Bernardo do Campo, Usina de Idéias Editora, 2008. Volume I do Projeto Macunaíma e Histórias de Jabuti. São Bernardo do Campos: Usina de Idéias Editora, 2008. Volume II do Projeto Macunaíma.
Texto: Flávio Carrança, da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira) do Sindicato
Foto: Douglas Mansur/Celeiro da Memória