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Em defesa dos jornalistas da Folha e do direito de consciência!

Em defesa dos jornalistas da Folha e do direito de consciência!

Pela segunda vez em poucos meses, os jornalistas da Folha de S. Paulo demonstram sua coragem e crescente capacidade de união para enfrentar os dilemas da profissão e a pressão das empresas, apostando na luta coletiva como meio de garantir trabalho digno e um jornalismo que atenda às necessidades de uma democracia sob ameaça.

Dezenas de profissionais do jornal fortaleceram a mobilização que, no dia 10 de novembro, paralisou as principais redações de jornais e revistas de São Paulo, num movimento por salários dignos que resultou em uma grande vitória da categoria.

Nesta semana, a carta assinada por quase 200 jornalistas endereçada à direção da Folha marca outro momento de união da categoria, desta vez para promover um debate sério e honesto a respeito das posições editoriais do local onde trabalham, apresentando sua crítica a um texto notadamente racista e baseado em afirmações que contradizem a ciência.

Após a repercussão do texto, a resposta da empresa à livre manifestação dos profissionais nos causa grande indignação. Em primeiro lugar, não podemos deixar de notar que o texto publicado pela direção no próprio site do jornal deixa no ar a ameaça de retaliações a quem questiona o “projeto” do veículo, que se apresenta como plural e democrático, mas parece não tolerar questionamentos. Como sindicato, estamos atentos aos movimentos da empresa em relação aos direitos das e dos trabalhadores da Folha. 
 
Jornalistas não podem ser submetidos a constrangimento por exercerem o que é sua função: discutir critérios jornalísticos que têm como bússola o aperfeiçoamento da democracia – objetivo que certamente não convive com a tolerância a discursos preconceituosos de qualquer natureza –  e buscar fontes confiáveis, respeitando a ciência e os saberes construídos coletivamente, para desenvolver as pautas que interferem no debate público.

Causa espanto o tom adotado pela diretoria de redação da empresa contra os seus próprios jornalistas, defendendo materiais publicados que apelam para falsas polêmicas e, seguidamente, se apoiam sobre distorções de fatos históricos e dados científicos e oficiais. A publicação destes conteúdos é, por si, um sério problema para o ofício jornalístico, que tem a criteriosa apuração dos fatos como prática básica e que vê a sua credibilidade se esvair junto ao público. 

O apoio da empresa aos autores de tais textos contra o alerta de seus jornalistas indica que sua publicação não é apenas uma opção comercial em busca de mais cliques, mas um perigoso alinhamento ideológico com seus conteúdos. Pior ainda: o jornal se torna signatário de uma tese estapafúrdia, que coloca a liberdade de expressão como um direito absoluto que pode se sobrepor aos demais direitos humanos e garantias básicas da democracia, a qual, nos últimos anos, justifica e alimenta o crescimento de discursos racistas (como bem alertam os jornalistas da Folha), misóginos, lgbtfóbicos e fascistoides.

Caso as empresas dedicassem mais tempo e recursos valorizando o trabalho de seus repórteres — e pensando menos em demissões e precarização das condições profissionais —, a alta direção da Folha gastaria menos tinta e recursos retóricos em tentativas de justificar o injustificável. E certamente, viveríamos uma realidade bem diferente no nível de amadurecimento da democracia, do debate público qualificado e da construção de um país mais justo e digno.

Em nossas convenções coletivas, defendemos historicamente o direito de consciência, a liberdade de expressão e o exercício da cidadania a todas e todos os jornalistas. Pelo respeito à ética jornalística, à consciência do profissional e à liberdade de expressão e de imprensa, reivindicamos o direito ao jornalista de recusar a realização de reportagens que firam o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, violem a sua consciência e contrariem a sua apuração dos fatos.

Da mesma maneira, as empresas jornalísticas não podem restringir, por normas internas, a plena liberdade de expressão – nos terrenos político, econômico, social, esportivo ou outros – e o exercício de cidadania para seus jornalistas.

Diante da coragem coletiva de nossos colegas da Folha, tal debate deve ser estimulado de maneira permanente em todas as redações de São Paulo e do restante do país. Lutar pela qualidade jornalística do local onde trabalham deveria ser natural em uma redação, com o constante diálogo para aprimorar a cobertura e as decisões editoriais de uma publicação. 

Infelizmente, não é assim a maneira como pensam os donos das empresas e seus diretores. É por isso que, neste momento, convocamos todas e todos os jornalistas a demonstrarem apoio irrestrito aos profissionais da Folha, com total solidariedade diante das ameaças promovidas pelo jornal. 

Se nos últimos meses aprendemos que nós, jornalistas, somos trabalhadoras e trabalhadores que devemos lutar coletivamente na defesa de nossos direitos, hoje também lembramos que a posição de nossa categoria é bem diferente daquela expressada nos editoriais e em colunas que nada têm a ver com o trabalho jornalístico. Que essas lições não sejam esquecidas jamais.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Federação Nacional dos Jornalistas

 

 

 

 

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