A finalidade pública da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) teve mais um episódio de ataque nesta semana. Foi com surpresa e indignação que funcionários da empresa receberam a notícia de que o gerente da Agência Brasil em São Paulo, Décio Trujilo, será demitido por uma matéria de sua equipe ter desagradado aos contratantes/clientes da Agência Nacional de Águas (ANA).
Desde janeiro, a EBC produz conteúdos favoráveis ao Fórum Mundial da Água, evento que ocorre em março em Brasília, por força de um contrato no valor de R$ 1,8 milhão firmado com a ANA. Tal negociação fere o caráter público da Agência Brasil, a qual deveria ter independência editorial.
O caso de demissão envolve a reportagem “Apesar de obras, São Paulo ainda precisa de chuva para evitar nova crise hídrica”. A abordagem desagradou ao presidente do Conselho Mundial da Água – órgão organizador do fórum –, Benedito Braga. Ele é também secretário de Recursos Hídricos do governo de Geraldo Alckmin.
Apesar da retirada de um trecho que realmente continha uma imprecisão, a medida não foi suficiente para contemplar os clientes/contratantes da ANA. Décio Trujilo foi demitido após reclamações formais de assessores da ANA e do Fórum Mundial da Água.
“Hoje, em pleno verão, o reservatório da Cantareira, o principal da metrópole, apresenta os mesmos níveis da fase anterior ao início da crise, quatro anos atrás” foi o trecho questionado e retirado.
Pelo contrato firmado com a ANA, os conteúdos podem ser previamente aprovados pela contratante antes da veiculação. A ocorrência de tal procedimento tem sido negada pelos chefes da Agência Brasil, mas é certo que a censura posterior, inclusive provocando demissões, é uma medida que está sendo adotada.
O contrato com a ANA é alvo de questionamento da reportagem da Agência Brasil desde a semana passada. Os jornalistas pedem que, pelo menos, seja sinalizado ao leitor de que se tratam de conteúdos pagos e com aprovação prévia de um “cliente”, além disso que seja facultado aos repórteres assinar, ou não, a reportagem.
O ambiente de censura e perseguição nos veículos públicos da EBC não é novidade. Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), assédio moral e advertências são uma constante nas práticas jornalísticas de chefes comissionados do governo de Michel Temer para intimidar jornalistas a exercerem seus direitos garantidos por documentos como o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, o Manual de Jornalismo da empresa, além da lei de criação da EBC e da própria Constituição Federal.
Diante dos fatos apresentados, repudiamos a demissão do gerente da Agência Brasil em São Paulo, Décio Trujilo, ao mesmo tempo que pedimos a reversão de tal ato, bem como exigimos um posicionamento da EBC para que cesse a perseguição de funcionários e a censura ao trabalho jornalístico.
São Paulo, 28 de fevereiro de 2018.
Comissão dos empregados da EBC (SP)
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo – SJSP