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“É preciso resgatar o amor pela verdade no jornalismo”

“É preciso resgatar o amor pela verdade no jornalismo”

A jornalista Laura Capriglione no Ato em Defesa da Democracia e do Sindicato. Fotos: Roberto Parizotti“Temos que desnaturalizar a ideia de que é natural mentir, de que se o teu patrão é a favor do golpe você não tem o que fazer a não ser a favor também. Temos que desnaturalizar a narrativa de que o empregado só pode fazer o que o patrão manda. É preciso resgatar o amor por essa profissão, o amor pela verdade, pela justiça, pelo jornalismo dos nossos sonhos”. A afirmação é jornalista Laura Capriglione, que participou do Ato em Defesa da Democracia e do Sindicato dos Jornalistas, realizado neste 8 de maio, na sede da entidade, no centro paulistano.

Na terceira mesa de debates realizada durante o evento, que marcou os 81 anos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), a fundadora do coletivo Jornalistas Livres disse que os “cães de guarda dos patrões sempre existiram”, mas que, em contrapartida, as redações também têm inúmeros profissionais conscientes de seu papel social.

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Laura avalia que nem o SJSP nem os jornalistas devem ser culpados pelo distanciamento do Sindicato das redações, mas que em 14 anos de governo democrático popular não houve avanços quanto à democratização das comunicações no Brasil. “O monopólio permite à mídia e à meia dúzia de patrões, que concentram os empregos, chantagearem a categoria como chantageiam. Se tivéssemos desfeito esse monopólio e os castelos onde os senhores feudais da comunicação se abrigam, a luta seria muito mais fácil”, afirma a profissional, destacando que as mídias livres têm buscado resgatar o horizonte ético do jornalismo.

O jornalista José Arbex Jr. falou sobre a onda conservadora que atinge diversas nações atualmente e pontuou que, sem a participação da mídia tradicional, não seriam possíveis outros golpes ocorridos em países da América Latina e América Central nos últimos anos, como no Paraguai e em Honduras. Uma das questões, segundo Arbex Jr., é que as empresas fazem dos profissionais “meros prestadores de serviço porque a ideia dos patrões é calar a voz dos jornalistas na sociedade”.

Leia também: SJSP: “Compromisso com a democracia é inarredável”

Contudo, ele defendeu o otimismo porque há muito que fazer em reação à conjuntura. Citando o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, Arbex Jr. afirmou “deixemos o pessimismo para dias melhores”. E completou: “A pior coisa é termos uma sensação de derrota, de impotência, de desespero. O ceticismo é de direita”.

Engajado há mais de 40 anos nas lutas do SJSP, Paulo Moreira Leite, jornalista do Brasil 247, afirma que nunca as redações foram tão humilhadas, vilipendiadas e dirigidas, numa repressão à liberdade de imprensa que chegou ao plano inconstitucional, como no caso do comunicado divulgado em abril por Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, no qual cerceia o direito dos profissionais da emissora de expressar suas opiniões pessoais nas redes sociais.

“Ali [no comunicado] se diz que, como funcionário da Globo, você tem que manter a imagem da empresa, que está acima da sua liberdade.  Mas nossa Constituição, essa que estão querendo derrubar o tempo inteiro, diz que a liberdade de expressão é garantida e livre de censura ou autorização”, criticou.

Sobre a conjunta de golpe à democracia, Moreira Leite ainda expressou preocupação com o que chamou de “regime de destruição da humanidade”.

Paulo Moreira Leite alertou para os riscos da perda da liberdade de expressão dos jornalistas“Hoje estamos aqui porque nós é que temos a responsabilidade, dada pela nossa experiência e pela história, de deixarmos alguma coisa [para as gerações futuras], de enfrentar esse golpe, travarmos a luta necessária e deixarmos uma herança. Temos essa chance e essa responsabilidade, e isso significa, hoje, lutar pela liberdade do ex-presidente Lula. É por isso que temos que lutar porque o tempo dessa história está acabando”, concluiu.

A terceira e última mesa de debates também teve a presença do ator Sergio Mamberti e de Dorberto Carvalho, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão de São Paulo (Sated-SP), que abordaram os desafios que vêm sendo enfrentados pelos trabalhadores da cultura neste governo golpista, entre os quais a tentativa de desregulamentação da profissão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda participaram René Vicente, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Sérgio Ipoldo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo (Radialistas-SP).

Entre outras entidades, o Ato teve a presença de representantes da Anistia Internacional, Associação de Reporteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo (Arfoc-SP), Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, Comissão Parlamentar “Memória, Verdade e Justiça”, CUT Nacional, Grupo Tortura Nunca Mais-SP, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Instituto Vladimir Herzog, Oboré Projetos Especiais, Portal Vermelho, PT Municipal São Paulo, além do ex-deputado Adriano Diogo, coordenador do Setorial de Direitos Humanos do PT; de Mona Zen, representando a deputada federal Luiza Erundina (Psol); do ex-senador italiano José Luiz del Roio e dos sindicatos dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep-SP) e dos Petroleiros de São Paulo (Sindipetro-SP).

O vídeo com a íntegra do evento está disponível na fan page do Sindicato dos Jornalistas. Confira também a galeria de fotos

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