A direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) pediu audiência ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) para exigir providências sobre a ação da Polícia Militar do estado que, em praticamente todas as manifestações públicas ocorridas desde junho do ano passado, agrediu ou prendeu jornalistas que estavam no exercício da profissão.
Em todas as manifestações em que os jornalistas foram impedidos de realizar coberturas, seja por agressões dos policiais ou por prisões arbitrárias, o SJSP enviou ofício às autoridades do Estado solicitando providências, que nunca resultaram em ações efetivas. Apesar de várias imagens serem divulgadas pelas redes sociais com policiais agredindo jornalistas, nenhum deles foi identificado ou punido.
“A impunidade é a maior arma dos agressores”, diz José Augusto Camargo (Guto), presidente do Sindicato. “Os episódios são recorrentes e nenhuma atitude foi tomada, seja pelo Comando da PM ou pela própria Secretaria de Segurança Pública. Portanto, só nos resta apelar para o governador”, diz.
Contra a Copa do Mundo
Na manifestação Contra a Copa do Mundo realizada no último sábado, que reuniu pouco mais de mil pessoas, o efetivo da PM deslocado para o ato foi desproporcional ao número de manifestantes: praticamente o mesmo número. Mesmo assim, vários jornalistas foram agredidos. Paulo Toledo Piza, do G1, foi detido. Bruno Santos, fotógrafo do Terra, foi ferido na perna e encaminhado a um hospital. A jornalista Bárbara Ferreira Santos, do Estadão, foi presa e levou um golpe de cassetete na cabeça desferido por um policial. O repórter fotográfico Evelson de Freitas, também do Estadão, foi atingido por um cassetete na mão. Reynaldo Turollo, da Folha de S.Paulo, foi detido sob suspeita de adoção de tática de manifestação black bloc e Sérgio Roxo de O Globo, foi dominado com uma gravata e jogado ao chão.
Estes foram repórteres da chamada grande imprensa agredidos, mas há outros profissionais free lancers que também foram vítimas da truculência da PM, como mostra o flagrante registrado pelo repórter fotográfico Joca Duarte.
Mesmo diante de tantas arbitrariedades, o coronel da PM, Celso Luiz Ferreira, se limitou a um pedido de desculpas pelos “eventuais exageros” e o próprio secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, declarou que ocorreram apenas episódios “individuais”.
A direção do SJSP exige que o governador do Estado, Geraldo Alckmin, demonstre o seu apreço pelos jornalistas e marque uma data para receber os dirigentes de sua entidade representativa.
Esta é a integra do ofício encaminhado ao governador:
O SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS NO ESTADO DE SÃO PAULO, entidade sindical registrada junto ao Cadastro Nacional de Entidades Sindicais do Ministério do Trabalho e Emprego n.º 009.421.02687-5, CNPJ/MF n.º 62.584.230/0001-00, com sede à rua Rego Freitas, 530, sobreloja, na cidade de São Paulo, considerando que as manifestações populares que estão sendo realizadas na cidade, infelizmente, tem degenerado em agressões e violências contra jornalistas no exercício da profissão, solicita ao Ilmo. Governador do Estado de São Paulo audiência imediata para tratar do assunto.
O objetivo do encontro é não somente impedir que fatos como este se repitam, como também garantir a integridade física e o direito à Liberdade de Imprensa aos Jornalistas que cobrem as manifestações populares. É preciso assegurar que os profissionais de imprensa possam trabalhar sem o “risco” de serem detidos ilegalmente ou constrangidos no exercício da função de informar o cidadão sobre acontecimentos de importância pública relevante.
Conforme assegura a Constituição Federal, a Liberdade de Imprensa e o direito à informação são requisitos fundamentais da democracia e dos princípios republicanos que norteiam o Estado brasileiro e o trabalho do jornalista tem o objetivo de cobrir e dar publicidade imparcial aos fatos de interesse público.
Salientamos ainda que o alto número de agressões ocorridas no Estado, com o protagonismo das forças policiais, se tornou um escândalo de dimensão mundial, obrigando o Sindicato e a Federação dos Jornalistas a constantes intervenções junto à entidades internacionais de defesa da liberdade de imprensa.
Este quadro torna urgente a participação do governador, na qualidade de responsável pela política de segurança no Estado, visando que fatos como estes não se repitam e maculem a imagem de nosso país e a integridade física dos jornalistas, inclusive a dos correspondentes internacionais que se dirigem ao nosso país para a cobertura dos jogos da Copa do Mundo.