Na cerimônia do 2º Prêmio CUT Democracia e Liberdade Sempre realizada na noite desta segunda-feira, dia 9, no Teatro da Universidade Católica (Tuca-PUC), em São Paulo, a Central renovou seu compromisso com a construção de uma sociedade socialista, fraterna e igualitária.
Seja homenageando pessoas ou instituições que se destacam ou destacaram historicamente na luta por democracia e liberdade ou reiterando seu apoio aos companheiros José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares julgados e condenados de forma ilegal e arbitrária na Ação Penal 470, em um processo manipulado pela mídia nativa em consonância com interesses de setores conservadores e retrógrados da sociedade.
E nada mais apropriado nesta conjuntura que a escolha do tema central deste 2º Prêmio CUT: “Nada vai nos calar”, em referência à árdua luta pela democratização da comunicação no Brasil.
Contra a manipulação política e midiática, pela anulação da AP 470
“A CUT nasce, vive e vai continuar fazendo ato político, organizando os trabalhadores e trabalhadoras em resistência a intolerância da classe dominante e da mídia golpista que não suporta o fato da classe trabalhadora ter construído um projeto muito superior, de um operário ter presidido a República por duas vezes e ter feito uma mulher sua sucessora. Neste momento ímpar quando a nossa Central completa 30 anos, a liberdade e a democracia que defendemos é colocada em risco por atitudes ditatoriais penalizando inocentes num claro sentimento de vingança”, declarou Vagner Freitas, presidente nacional da CUT.
Democracia e liberdade – a cerimônia de premiação conduzida pela atriz Zezé Mota começou por volta das 20h. Na plateia, dirigentes e militantes da CUT, representantes dos governos federal, estadual e municipal, deputados federais, estaduais, vereadores, entidades parceiras nacionais e internacionais, lideranças dos movimentos sociais e populares, partidos políticos, centrais sindicais, artistas, acadêmicos, intelectuais, juristas, familiares e amigos dos homenageados, como também movimentos que lutam pela democratização da comunicação, jornalistas e blogueiros progressistas.
Já na parte musical, show da cantora Lua Reis, filha de Julio de Grammont, vencedor do Prêmio na categoria ‘Personalidade de destaque na luta por Democracia, Cidadania e Direitos Humanos’.
Julinho, como era carinhosamente conhecido, conduziu bravamente a publicação ABCD Jornal no período em que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC encontrava-se sob intervenção da ditadura militar, transmitindo notícias das greves e da militância política em contraponto a censura imposta à Tribuna Metalúrgica.
Também atuou no Sindicato dos Bancários de São Paulo e foi diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo entre 1984 a 1987. Morreu no dia 26 de novembro de 1998 após um acidente de carro na rodovia Anchieta. Deixou como exemplo sua ética, seu profissionalismo e seu compromisso com a classe trabalhadora.
Julio Turra, diretor executivo da CUT, ao fazer a entrega do prêmio à família de Julio de Grammont, ressaltou que o jornalista teve importante atuação na construção das organizações de esquerda.
A escolha dos premiados foi definida a partir de uma votação popular realizada pelo site da CUT. Concorreram três personalidades em cinco categorias diferentes indicadas pela Central com a colaboração de dirigentes, sindicalistas e personalidades vinculadas às causas da democracia, liberdade e dos direitos humanos no Brasil e no Mundo.
Também homenageado pelo seu engajamento na resistência à ditadura militar, o jornalista, desenhista e escritor, Henrique de Souza Filho, mais conhecido como Henfil, sagrou-se vencedor na categoria ‘Personalidade de Destaque na Luta por Democracia e Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras’.
Sua produção de histórias em quadrinhos e cartuns apresentava características específicas: humor, sátira, política e crítica, baseado em personagens tipicamente brasileiros.
Henfil morreu aos 43 anos no Rio de Janeiro. A estatueta foi entregue aos familiares do cartunista pelo secretário de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney.
Contra impunidade, pela democratização da terra – “Prefiro morrer lutando do que morrer de fome”. Esta era Margarida Alves. Líder sindical, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB). Desafiou os interesses dos latifundiários da região e tornou-se grande símbolo de luta das mulheres por terra, igualdade, justiça e dignidade.
Mas o dia 12 de agosto de 1983 marcou o fim de uma trajetória de luta contra o analfabetismo, as injustiças, a exploração e pela reforma agrária. Margarida Alves foi covardemente assassinada na porta de sua casa. Três décadas se passaram e seus assassinos continuam impunes. Sua história e seus princípios jamais serão esquecidos. E o público, reconhecendo seu legado de luta, a escolheu como ‘Personalidade de Destaque na Luta por Democracia e Justiça no Campo’.
Paulo Marcelo, presidente da CUT-PB, recebeu das mãos da vice-presidente da CUT, Carmen Foro, o prêmio em nome dos familiares da líder rural. Carmen destacou em sua fala a Marcha que leva o nome de Margarida e mobiliza desde 2000 milhares de mulheres trabalhadoras rurais por desenvolvimento no campo e reforma agrária. “Uma ocasião que me marcou muito foi à última Marcha (2011) quando reunimos em Brasília 100 mil mulheres em memória a Margarida Alves que teve uma importante contribuição para a história deste País”, acrescentou.
Comunicação, um direito de todos/as – um dos momentos de maior demonstração de carinho e saudação da plateia foi à entrega do quarto prêmio da noite, a de ‘Personalidade de Destaque na Luta pela Democratização e Liberdade de Expressão’, conquistado pela professora Marilena Chauí.
Reconhecida pela sua importante contribuição acadêmica e envolvimento sintonizado com a realidade e os problemas nacionais, Marilena ressaltou que somente com o passar dos anos é que os brasileiros terão a dimensão do que foi, do que é e do que será a CUT.
Ao agradecer a apoio de todos e todas por poder lutar e seguir buscando uma sociedade onde seja respeitada a liberdade de pensamento e expressão, Marilena afirmou que “toda sociedade possui o direito a comunicação, porque sem ela não há democracia”.
A entrega do prêmio foi feita pela secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti.
Ao som do irreverente, alegre e reivindicatório batuque da Marcha Mundial das Mulheres, a última categoria premiou a entidade como destaque na ‘Luta Por Democracia e Liberdade no Brasil e no Mundo.’
A Marcha Mundial das Mulheres surgiu em 2000 com uma grande mobilização que reuniu mulheres de todo o mundo em uma campanha contra a pobreza e violência e tem a concepção de que as mulheres são sujeitos ativos na luta pela transformação de suas vidas vinculada a necessidade de superar o sistema capitalista patriarcal, racista, homofóbico e destruidor do meio ambiente. Hoje, encontra-se organizada em mais de 70 países e em 20 estados brasileiros.
“Na luta por uma sociedade justa, igualitária, socialista e feminista, a CUT através deste prêmio reconhece o importante papel da Marcha Mundial das Mulheres”, afirmou Rosane Silva, secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, ao fazer a entrega do prêmio à coordenadora da entidade, Nalu Farias.
Ao final deste bloco de premiação foram convocados ao palco as demais personalidades e entidades ou seus representantes indicadas ao Prêmio CUT para uma saudação.
Mais homenagens – como na edição anterior, quando o homenageado foi o ex-presidente Lula, a CUT reservou um espaço especial para a premiação de uma personalidade de destaque na luta por democracia e liberdade.
Neste 2º Premio CUT a homenagem foi direcionada a um líder nacional que, como poucos, tinha coragem de ser, de dizer e de fazer.
Luiz Gushiken, o Gushi, como era chamado por muitos companheiros e companheiras, presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo, atuando de forma ativa contra a ditadura militar, pela redemocratização do País e em defesa da categoria bancária.
Esteve à frente da maior greve nacional dos bancários em 1985. Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e esteve presente no surgimento da CUT.
Já doente, acabou vítima de uma campanha caluniosa por parte da Procuradoria Geral da República e da imprensa no processo da Ação Penal 470. Gushiken resistiu com dignidade, pautado pelo seu currículo ético que sempre valorizou e seguiu na vida pública. Foram cinco anos de tortura que acabaram por agravar seu estado de saúde. Morreu no dia 13 de setembro deste ano, em decorrência de um câncer.
O presidente da CUT fez a entrega da premiação à mulher e aos filhos de Gushiken.
Ao recordar as vítimas do trágico acidente que resultou no naufrágio da embarcação que participava da procissão do Círio Fluvial no dia 12 de outubro, em Macapá, capital do Amapá, a CUT também prestou uma homenagem às companheiras Odete Gomes e Elizabeth Mourão, presidente e diretora executiva da CUT-AP, lembradas com imenso carinho e exemplo de luta e de princípios.
Mandela, presente! – como não poderia de ser, numa premiação cujo objetivo é manter acesa a chama da luta por justiça social, direitos iguais e democracia, o Prêmio CUT reservou um espaço para homenagear o grande líder Nelson Madiba Mandela, que faleceu na semana passada.
Mandela, símbolo da resistência contra o regime de segregação racial na África do Sul – Apartheid, carregava consigo o ideal de uma sociedade livre e democrática, onde todas as pessoas pudessem viver juntas, em harmonia, com oportunidades iguais.
“Com sua resistência e determinação em defesa de um mundo melhor, sintetiza os valores mais preciosos que um ser humano é capaz de ter. Seu legado serve de exemplo na luta contra opressores, contra a discriminação racial e intolerância social em todo o mundo”, dizia o texto lido pela atriz Zezé Mota.
Pela anulação imediata do julgamento midiático – a noite de premiação terminou com um ato de desagravo aos companheiros José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares em decorrência do julgamento de exceção da Ação Penal 470, conduzido de forma explicitamente política e midiática.
Desde o julgamento até as condenações que resultaram na prisão dos companheiros, tudo foi orquestrado a partir de violações aos direitos constitucionais. A execução das penas, por exemplo, ocorreu antes mesmo do trânsito julgado, rasgando os princípios determinados pela Constituição Federal.
Na presença dos familiares (Mônica Valente, mulher de Delúbio; Miruna e Ronan, filhos de Genoino; Camila e Joana, filhas de Dirceu) e dos dirigentes da executiva nacional da CUT, o presidente da Central, Vagner Freitas, afirmou que todos os esforços serão feitos pela anulação imediata da Ação Penal 470.
“Se for preciso nossa militância vai as ruas lutar até o fim para que este julgamento de exceção seja anulado e exigir que prevaleça o Estado de Direito. É uma mancha na história do nosso País, um ataque a democracia. Não vamos nos calar, não vamos baixar a cabeça, porque precisamos alertar o povo brasileiro sobre esta postura ditatorial do ministro presidente do STF, Joaquim Barbosa, que se coloca acima da lei. A CUT não tem medo de ditadura e ditadores. Ajudamos a derrubar uma e não aceitaremos que o presidente do STF faça um julgamento pelo simples sentimento de vingança”, assinalou Vagner.
Sobre o Prêmio CUT – lançado no dia 13 de dezembro de 2010 com ato na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no Rio de Janeiro, o Prêmio CUT Liberdade e Democracia Sempre ocorre neste período para que jamais se esqueça um dos episódios que mancharam a história do Brasil.
Em 13 de dezembro de 1968 foi publicado o Ato Institucional nº5 (AI-5), considerado um golpe dentro do próprio golpe, endurecendo a repressão e fortalecendo o poder autoritário dos militares.
Entre as suas deliberações, determinava o fechamento do Congresso Nacional, a suspensão dos direitos políticos e das garantias constitucionais, cassação de mandatos.
Em consonância com o trabalho que a Comissão Nacional da Verdade vem promovendo, a Comissão Nacional da Verdade, Memória e Justiça da CUT, criada em maio de 2013, tem realizado diversas atividades pelo Brasil para resgatar a memória histórica e restabelecer a verdade dos fatos a partir da visão da classe trabalhadora.
A estatueta entregue aos premiados foi esculpida pelo artista plástico Elifas Andreato, reconhecido pelas suas célebres capas de discos nos anos 70 e por sua luta em resistência ao golpe militar.
Já o Prêmio CUT Democracia e Liberdade Sempre contou com apoio da Caixa Econômica Federal.
Fonte: CUT – Foto: Roberto Parizotti