A adesão de 95% dos Jornalistas da EBC à greve que começou no dia 3 de outubro afetou significativamente a cobertura do primeiro turno das Eleições 2024 pelos veículos públicos da empresa — TV Brasil, Agência Brasil, Rádio Nacional e Radioagência. A ausência de repórteres, produtores e editores na redação obrigou que todo o trabalho fosse realizado pelos coordenadores e gerentes, profissionais que ocupam cargos de confiança.
Como consequência, neste domingo, os veículos públicos se limitaram a fazer o mínimo que foi possível. Na TV Brasil, o apresentador lia os resultados oficiais fornecidos pelo TSE e repercutia com um único especialista, sem qualquer presença de repórteres nos comitês para trazer os discursos dos candidatos, muito menos para repercuti-los. Na Agência Brasil e na Radioagência, as notícias publicadas traziam meros registros dos resultados e números oficiais. E o ouvinte que tentou se informar pelas emissoras da Rádio Nacional se deparou simplesmente com uma programação musical gravada — como se nada de importante estivesse ocorrendo em todos os municípios do país.
Apesar disso, ao fim do dia, a direção da EBC enviou um comunicado interno celebrando essa cobertura e agradecendo aos que se envolveram nela. Nós, Jornalistas da empresa, encaramos essa mensagem da diretoria como uma clara tentativa de menosprezar os efeitos da nossa greve. O comunicado também nos levou a questionar se os diretores estão realmente satisfeitos com o nível absolutamente prejudicado que foi a cobertura jornalística das Eleições 2024 nos veículos da empresa.
Esse cenário apenas escancara que os profissionais Jornalistas são peças essenciais para se fazer comunicação pública de qualidade, e o tanto que nossa falta está sendo sentida nas redações dos veículos da EBC.
Importante ressaltar que estávamos em mobilização há mais de 1 mês antes das Eleições, ou seja, não nos restou outra alternativa se não pararmos também durante o 1° turno. Em paralelo, seguimos conquistando cada vez mais apoios políticos fortes e fundamentais a cada dia que passa, aumentando a visibilidade e a pressão pública pela nossa luta em defesa de direitos históricos da categoria.
A greve continua
E depois de a direção da EBC informar que pretende cortar o ponto dos grevistas, quem apostou que a paralisação dos Jornalistas arrefeceria nesta segunda-feira se deparou com uma grande surpresa. Em assembleia histórica — que lotou a escadaria da sede da empresa em Brasília e também teve grande adesão dos trabalhadores de Rio de Janeiro e São Paulo —, os Jornalistas aprovaram por unanimidade a continuação da greve. Os movimentos e articulações em busca de apoio político vão ser intensificados para que possamos garantir o básico: que nossos salários não sejam rebaixados em relação ao de outras categorias de nível superior da EBC. Queremos ISONOMIA!
Após a assembleia, os sindicatos enviaram um ofício ao ministro da Secom, Paulo Pimenta (que é Jornalista), pedindo que ele receba e ouça os representantes do nosso movimento. Acreditamos que o plano de carreiras imposto pela diretoria da EBC é um ataque concreto a toda a categoria de Jornalistas do Brasil, traz um risco concreto de intensificar a precarização das relações de trabalho, e vai na contramão da luta trabalhista que Pimenta afirma representar como político, ex-deputado federal e ministro de governo filiado ao Partido dos Trabalhadores.