Entrada de “militantes” pagos por patrões para defenderem PL revolta trabalhadores, que também foram expulsos da Comissão de Justiça
Deveria ser mais uma mobilização pacífica contra o Projeto de Lei (PL) 4330/2004, que trata da regulamentação da terceirização e ameaça todos os trabalhadores com carteira assinada. Porém, na manhã da última quarta-feira (14) o clima ficou tenso quando militantes da CUT foram impedidos de acompanhar a sessão da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, em que o PL aguarda para ser votado.
Apesar do acordo dos líderes partidários no dia 13 garantir que o texto volte à pauta somente no dia 3 de setembro, os trabalhadores queriam garantir que nenhum deputado apresentasse um requerimento para antecipar a votação.
A indignação aumentou ainda mais quando “militantes” pagos por empresários, atuando como se fossem trabalhadores interessados em se manifestar a favor do projeto, conseguiram ingressar na Casa. Revoltados, os cutistas cansaram de esperar na porta pela autorização e forçaram a entrada na Câmara, mesmo agredidos por seguranças.
Projeto só interessa a patrões – Presidente da CUT, Vagner Freitas, avalia que a situação mostrou a necessidade de modificar a relação entre o Legislativo e a sociedade e apontou também a fragilidade do PL 4330.
“A Casa é do povo e podemos fazer uma manifestação pacífica, como todas as outras que fizemos, denunciando os prejuízos que esse projeto traz à classe trabalhadora. O que aconteceu hoje merece nosso repúdio. Por que quem é contratado pelo patrão pode entrar e quem faz a legítima defesa da classe trabalhadora, não? Se os empresários precisam contratar pessoas para tentar fingir que os trabalhadores são a favor da proposta, esse texto só pode mesmo interessar aos patrões”, disse.
Os conflitos não pararam por aí. A truculência ainda alcançou os cutistas que ocuparam a CCJC e foram expulsos durante protesto para mostrar aos parlamentares que estão atentos a qualquer manobra.
Secretária de Relações do Trabalho da Central, Maria das Graças Costa, alertou que a ação de hoje foi apenas um sinal do que a classe trabalhadora fará, se o projeto for aprovado como está.
“A CUT tem 30 anos de história e isso deve ser respeitado. Não vamos nos intimidar, continuaremos com nossa mobilização e a palavra de ordem é que se tire da pauta de vez o PL 4330 para fazermos a negociação. Dia 30 vamos parar o Brasil e os deputados que se preparem para 2014. Quem votar contra nós, quem for a favor de escancarar a terceirização em nome do lucro, para ter mais morte, mais adoecimento dos trabalhadores, será lembrado”, destacou
Pressão dos patrões – Secretário de Organização da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Miguel Pereira, também citou a necessidade de maior transparência na discussão sobre a proposta.
“Quando você chega democraticamente para acompanhar uma comissão e é impedido, há problemas com o cumprimento das regras democráticas. Ninguém estava agredindo ninguém e nem quebrando nada. O que estavam querendo esconder? O debate deve ser transparente.”
Dirigente do Sindicato dos Bancários de Guarulhos, João Cardoso disse que conversou com alguns “militantes” que passaram pela mobilização da CUT e ouviu deles que tiveram o ponto abonado e foram incentivados pelos patrões a irem à Câmara.
“Falamos com aqueles que passavam timidamente por nossa manifestação e, depois que entenderam o processo, disseram que estavam conosco. Explicamos que queremos dignidade e igualdade de direitos e isso não é ser contra o trabalhador terceirizado, ao contrário, é ser contra a precarização que a terceirização representa”.
Texto – CUT/SP
Foto – Divulgação/ CUT Nacional