Cerca de 200 trabalhadores, entre jornalistas, gráficos e administrativos, realizaram nesta quarta (8/5) um ato de protesto que começou na frente da Editora Abril, realizou uma passeata na Marginal Tietê e terminou com uma concentração na frente da sede da Polícia Federal, na Lapa.
A manifestação reuniu os trabalhadores demitidos e jornalistas freelancers que sofreram calote do Grupo Abril quando este entrou em recuperação judicial em agosto de 2018, em unidade com os gráficos da multinacional RR Donnelley, que também tiveram seus direitos trabalhistas subtraídos quando a gráfica pediu autofalência e fechou suas unidades no Brasil em 1º de abril último.
Em frente à sede da Editora Abril, na Freguesia do Ó, os participantes expressaram sua indignação pelo fato de a empresa não pagar as verbas trabalhistas às quais têm direito, mesmo tendo recursos para isso, e que deveriam ter sido quitadas na íntegra há nove meses. Durante seu desenvolvimento, inicialmente na portaria da gráfica, e em seguida em frente ao prédio principal da Abril, o ato contou com a atenção e a participação de trabalhadores da empresa.
Em seguida, os trabalhadores fizeram uma passeata pela Marginal do Tietê até a ponte do Piqueri, chegando ao prédio da Polícia Federal, onde foi protocolado documento a respeito da saída da RR Donnelley do Brasil, com pedidos de investigação por parte dos órgãos responsáveis e de tomada de providências contra a multinacional, visando garantir o pagamento dos direitos trabalhistas. Foi também incluída no ofício a demanda dirigida ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, da elaboração de um projeto de lei que criminalize o calote de verbas rescisórias em casos de comprovação de que o grupo empresarial ou seus sócios possuem patrimônio para quitar essas verbas de caráter alimentar.
Os manifestantes prestaram homenagem aos jornalistas Fábio Sasaki e Dagmar Serpa, que perderam a vida em março. Nossos colegas morreram sem receber seus créditos da Abril.
Entenda os dois casos
Dois fatores principais são comuns aos mais de 2 mil ex-funcionários das duas empresas. Primeiro, o fato de que todos ficaram na mão, sem receber as verbas trabalhistas as quais têm direito após anos de dedicação às empresas, enquanto os empresários puderam preservar os lucros bilionários que obtiveram com o trabalho de seus funcionários.
No caso da Abril, os antigos donos, os irmãos Civita, têm patrimônio estimado em U$ 3,3 bilhões, segundo a revista Forbes de 2014. Menos de 1% desse valor seria suficiente para pagar todos os 1.254 demitidos, conforme denunciou a carta de 243 ex-profissionais da empresa enviada em apoio ao ato. O Ministério Público do Trabalho mostrou que, em cinco anos (de 2013 a 2017), os acionistas sacaram da Editora Abril e levaram para casa quase R$ 118 milhões (o que supera em muito o valor da dívida com os demitidos), e também embolsaram os valores da venda da Abril Educação em 2015, que gerou cerca de R$ 1,3 bilhão.
Já a RR Donnelley, conhecida no Brasil por ser a gráfica que imprimia as provas do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, pediu autofalência no início de abril, e cerca de mil funcionários diretos ficaram sem emprego e sem receber suas verbas. Enquanto isso, a multinacional teve faturamento global, só em 2018, de US$ 6,8 bilhões!
O segundo fator em comum é que ambas as empresas realizaram uma manobra jurídica para blindar seu patrimônio e dar o calote nos trabalhadores e fornecedores. Elas fizeram uso da lei 11.101/2005, que regula tanto a recuperação judicial (situação usada pela editora) quanto a autofalência (situação usada pela gráfica), e protege os empresários e acionistas.
A manifestação foi organizada pelos Sindicatos dos jornalistas, dos trabalhadores administrativos em empresas de jornais e revistas, pelos gráficos da cidade de São Paulo, gráficos de Barueri, Osasco e região, além da Federação dos Gráficos. Estiveram presentes, em solidariedade, representanes da federação sindical internacional UNI Global Union e do Sindicato dos Gráficos de Jundiaí.
Editora Abril apresenta nova proposta
O próximo passo para jornalistas (celetistas e freelas) e demais trabalhadores da Abril é uma assembleia unitária nesta sexta-feira, às 11h, na sede de nosso Sindicato. A empresa apresentou nova proposta de pagamento nesta semana. O SJSP estuda o documento detalhadamente e vai prestar mais informações em breve.
O sucesso do ato reforça o poder de negociação dos trabalhadores. A demanda segue a mesma: pagamento integral das verbas trabalhistas, o mais rápido possível. Como expressaram a plenos pulmões os participantes do protesto e passeata: “Paga Abril! Paga Donnelley!”