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Assembleia Legislativa vai convocar editora

Demissões na Abril: Assembleia Legislativa vai convocar editora

Paulo Zocchi (ao microfone), presidente do Sindicato, pontuou o problema do modelo de negócios que as empresas de comunicação. Foto: Cadu Bazilevski/SJSPA Editora Abril será convocada pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para explicar as demissões em massa e o não pagamento das verbas rescisórias que atingem cerca de 1.200 trabalhadores, dos quais 800 demitidos no início de agosto e os demais demitidos desde dezembro de 2017.

A decisão foi anunciada na noite desta terça-feira (26) pelo deputado estadual Carlos Giannazi (Psol) em audiência pública de iniciativa do parlamentar que reuniu os celetistas demitidos, freelancers dispensados e representantes dos sindicatos dos Jornalistas, Administrativos, Distribuidores e Gráficos.

Outro encaminhamento é acionar as Comissões de Relações do Trabalho e de Direitos Humanos da Alesp sobre o caso, bem como deputados federais e senadores das comissões pertinentes no Congresso Nacional.

Giannazi também afirmou que vai dialogar com sua assessoria jurídica para que seja feita uma avaliação fiscal da empresa com o intuito de conferir se a Abril é devedora de impostos no âmbito municipal, estadual e federal. O deputado ainda se comprometeu a pautar a questão das demissões e do calote da editora em programa da TV Alesp.

No início da audiência pública, Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) destacou que a situação da Abril, apesar das questões de má gestão interna que levaram à recuperação judicial da editora, também é reflexo de um problema mais amplo, que é a crise do modelo de negócios que afeta as empresas de comunicação do país.

O sindicalista recordou que a legislação determina que as empresas de comunicação tenham no mínimo 70% de capital brasileiro por uma questão de soberania nacional, mas que o cenário mudou a partir da internet e das redes sociais:

“A informação foi se transferindo para o ambiente virtual  e mais de 90% dessa informação circula nesse meio que hoje é dominado por empresas multinacionais, sobretudo pelaPatricia Zaidan lamentou o fechamento das publicações e o impacto da medida para o jornalismo feminino do país. Foto: Cadu Bazileviski/SJSPs norte americanas Google e Facebook. Elas dominam o ambiente da comunicação no país, situação que demole as empresas de comunicação, tanto pela receita de circulação com venda avulsa e assinatura, quanto pela verba publicitária que é outro pilar de sustentação das empresas”, criticou o sindicalista.

Zocchi disse que não há uma solução para o problema neste momento, mas a questão precisa ser encarada politicamente. “É uma situação perversa porque as empresas estão sendo demolidas e seus donos são de uma covardia política absurda porque não faltam deputados para as empresas de comunicação para tomar alguma providência política diante dessa situação, mas esses proprietários não se mexem”, completou. 

> Saiba tudo sobre as demissões massa e o calote

Durante a audiência, a anulação das demissões da Abril foi anunciada pelo advogado Raphael da Silva Maia, coordenador jurídico do Sindicato dos Jornalistas. A sentença foi divulgada na tarde desta terça-feira (25) pelo juiz Eduardo José Matiota, da 61ª Vara do Trabalho de São Paulo, que determinou a reintegração imediata dos demitidos desde dezembro de 2017.

Representando o Comitê de Jornalistas Demitidos da Abril, a jornalista Patrícia Zaidan, que foi editora-chefe da revista Claudia e trabalhou por 19 anos na editora, falou das dificuldades financeiras e da depressão que estão sendo enfrentadas pelos demitidos, e também lamentou o fechamento de publicações. Das 11 revistas fechadas, oito eram dirigidas às mulheres, afetando tanto a mão de obra feminina quanto as leitoras.

“A grande desempregada pela Abril nesse momento é a mulher e, se analisarmos mais profundamente, perderam as leitoras brasileiras porque a Editora Abril, com seu jornalismo feminino, cunhou uma forma de fazer a reportagem feminina”, destacou. Patrícia recordou que na década de 1970, quando o senador Nelson Carneiro discutiu a criação da lei do divórcio, ele consultou Carmen da Silva, jornalista histórica na revista Claudia, que “traduzia a discussão do feminismo que se fazia nos Estados Unidos e na Europa e trazia numa linguagem muito simples para a mulher brasileira”.

A jornalista ainda ressaltou a importância da empresa se recuperar “para que devolva ao mercado de trabalho os postos que ela tirou, para retomar para si a missão de ouvir o povo na rua porque ela se apartou da opinião pública. Que ela volte a fazer o que é compromisso do jornalismo, que é ter a transpiração das pessoas nas ruas, nas fábricas, nos rincões perdidos na Amazônia, no nordeste brasileiro, e que traga isso de volta para as páginas dos veículos”, concluiu.

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