Morreu Milton Coelho da Graça, aos 90 anos, vitima da Covid.
Carioca, foi editor-chefe de O Globo, diretor de redação das revistas Realidade, Placar, Istoé e Intervalo, do jornal Última Hora, no Recife, e correspondente em Nova York da Gazeta Mercantil, entre outros.
Editor do jornal clandestino Notícias Censuradas, foi preso em São Paulo, em 1975, e cumpriu seis meses de cadeia, como havia sido detido em Pernambuco, por nove meses, quando houve o golpe de 1964, ocasião em que foi torturado e perdeu todos os dentes.
Jamais tocava no assunto e nunca perdeu o gosto pela vida, verdadeiro animador de redações, além de ter um extraordinário faro para a notícia.
Ao ser libertado em Pernambuco e voltar para o Rio, ao entrar na redação do Diário Carioca num terno em que cabiam dois Miltons, viu o pessoal entre o assustado e triste e não teve dúvida: bateu palmas e gritou “Vamos começar tudo de novo!”
Ferino, destemido, brincalhão, jogador inveterado de tudo que lhe apresentassem, da sinuca ao carteado, passando pelo loteria esportiva.
Formado em Direito e em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o que o ajudou a escrever sobre tudo que fosse preciso, Fórmula-1, inclusive, que cobriu para o Globo.
Vascaíno, solidário até a medula, curioso como poucos, militante comunista e pragmático gostava de repetir que existem três tipos de pessoas: as interessantes, as interessadas e as interesseiras. E dizia que devemos sempre procurar viver perto das interessantes, atrair as interessadas e saber que quando as interesseiras se aproximam é porque estamos perto da vitória. “Bem-vindos os oportunistas”, pontificava.
Eu o chamava de Miltinho das Candongas e aprendi demais com ele no início de minha vida profissional.
Sua morte faz com que eu reviva o sentimento da orfandade, embora saiba que vá lembrá-lo sempre sorridente.
Órfãos ficam também a filha Djamila e os filhos Flávio e Guilherme.
Viúva fica sua querida Ledinha, companheira de vida quase inteira.
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Milton Coelho da Graça trabalhou na Editora Abril e filiou-se, em dezembro de 1969, ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP). Em sua ficha de filiação, a data de nascimento consta o ano de 1929.