Antônio Epifânio de Moura Reis, um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro, nasceu em Oeiras, no Piauí, em 7 de abril de 1939, e faleceu em São Paulo no último dia 9 de agosto. Sua brilhante carreira incluiu passagens pelos principais jornais do país em mais de 50 anos de atividade profissional.Teve a felicidade, por sua inteligência e competência, de atuar nos tempos áureos do jornalismo e também nos tempos difíceis da Ditadura Militar (1964-1985), quando havia perseguição a todos que se opunham ao autoritarismo e à violência praticados pelos ditadores.
Moura Reis, como era conhecido, foi um defensor da democracia, atuando sempre no jornalismo sem se pautar por opções políticas mas devotado à causa da liberdade de imprensa. Possuidor de grande cultura literária e histórica, dono de notável memória, era apaixonado por cinema e atuou em várias publicações como crítico cinematográfico. Paixão que começou em Belo Horizonte, onde foi trabalhar no Correio de Minas (1962-1964). Ali fundou o jornal Claquete e a Revista de Cinema, inspirada na atuação do Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais.
Décadas depois, escreveria uma obra hoje referência sobre o cinema da época da chamada “Boca do Lixo” em São Paulo — Ozualdo Candeias: pedras e sonhos no Cineboca (Imprensa Oficial do Estado, 2010). Apesar de poucos recursos, mas com muita criatividade, desenvolveu-se em São Paulo um cinema desafiador, considerado marginal por críticos que torciam o nariz para os temas então abordados pelos estúdios enfileirados na rua do Triunfo, no bairro de Santa Ifigênia, em São Paulo: prostituição, cangaço, moradores de rua. Um cinema corajoso, sem financiamento, independente, em plena Ditadura (1960 a 1980), que Moura Reis resolveu celebrar na figura do cineasta Candeias.
Moura Reis atuou também no jornal Última Hora, nos tempos do grande jornalista Samuel Wainer, de quem se tornou amigo e admirador. Homenageou Wainer, décadas depois, em exposição realizada em 2015 no Arquivo Público do Estado. Escreveu um texto dedicado a esse jornal que revolucionou o jornalismo brasileiro tanto no aspecto editorial como gráfico e visual.
No Rio de Janeiro ele trabalhou no Correio da Manhã e na Tribuna de Imprensa (onde atuou como crítico de cinema). Passou por outras grandes redações: foi chefe da sucursal do jornal O Globo em São Paulo e também trabalhou em O Estado de São Paulo, Diário do Comércio e Diário de São Paulo, bem como na revista Manchete, segundo informa o Portal do Jornalista. Foi diretor da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Ao analisar as características da sociedade brasileira, destacou em um texto a marca multirracial da sociedade brasileira: “Não somos e jamais fomos e nunca seremos o grande barco a deslizar sereno em mar revolto. Convivemos com desigualdades e outros males crônicos e, tão grave quanto, avançamos muito lentamente no encontro de soluções efetivas. Mas avançamos”.
Quem conviveu com ele no trabalho ou foi seu amigo ou amiga sabe que Moura Reis sempre esteve sintonizado com o contemporâneo, atento às mudanças sociais. Mas tinha momentos de nostalgia pela sua Oeiras natal, e o olhar brilhava ao falar da infância, da vida e paisagem da cidade de origem. Já aposentado, certa vez convidou amigos para que, quando estivessem conversando sobre cinema e literatura, todos brindassem com uma cajuína, lembrando de sua terra natal. Mas não houve tempo, Moura Reis se foi. Aqui retratamos um pouco apenas de sua larga e rica trajetória de vida.


