No último dia 29 de julho, o deputado federal bolsonarista General Girão (PL) prestou homenagem, nas suas redes sociais, à memória do infame torturador coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), conhecido por sua atuação como comandante do principal centro de torturas da Ditadura Militar (1964-1985): o DOI-CODI do II Exército, localizado na rua Tutoia, no bairro do Paraíso, na capital paulista. Por ali passaram e foram torturados milhares de presos políticos, dos quais mais de 50 foram assassinados.
A sigla DOI-CODI remete a “Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna”, nome dado pelo Exército brasileiro às macabras estruturas repressivas que montou no início da década de 1970, em diferentes pontos do país, com a finalidade de perseguir, sequestrar, torturar e, frequentemente, executar oponentes do regime instaurado pelo golpe militar que derrubou o presidente João Goulart.
A participação direta do coronel Ustra no DOI-CODI do II Exército e seu envolvimento pessoal em dezenas de casos de tortura e covarde assassinato de presos políticos estão fartamente documentados, a tal ponto que ele se tornou o primeiro militar reconhecido e declaramente oficialmente, pelo poder judiciário, como torturador durante a Ditadura Militar. Seu nome também é fartamente citado pelo Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Girão, que é general de brigada da reserva, compartilhou um vídeo do vereador Marcelo Ustra (PL), parente do coronel, que exalta o torturador. Compartilhou ainda vídeo contendo o voto repulsivo do então deputado federal Jair Bolsonaro (PL) durante o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, quando o então deputado federal exaltou Ustra por ser “o pavor de Dilma Rousseff”, em referência explícita ao fato de a ex-presidenta ter sido torturada pelo militar.
“Homenagem em memória do herói do nosso Exército, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que completaria 93 anos nesta terça-feira (29). Nossa continência”, perpetrou Girão ao indicar a seus seguidores o motivo de sua postagem.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiam enfaticamente a manifestação sórdida do deputado federal General Girão, que deve ser entendida como um gesto inaceitável e abjeto de apologia da tortura e da morte. Ustra nunca foi “herói”, muito ao contrário era um criminoso contumaz e sádico, que se dedicou ao encarceramento, ao suplício, e por muitas vezes à eliminação física de de pessoas que não tinham sequer como se defender.
Assim, o SJSP e a Fenaj cobram da Câmara dos Deputados e do Ministério da Defesa todas as providências cabíveis para punir esse parlamentar e general da reserva por sua iniciativa desqualificada, torpe, totalmente merecedora de repúdio, ofensiva às vitimas e às suas famílias, de homenagear a memória de seu colega torturador.
Ademais, o SJSP e a Fenaj lembram que, em última instância, o que Girão fez foi seguir os passos de seu “líder” Bolsonaro, ao exaltar a Ditadura Militar e questionar as liberdades democráticas. Algo, portanto, igualmente inaceitável e que deve ser alvo da indignação da sociedade brasileira, especialmente no momento em que o Supremo Tribunal Federal conduz o julgamento de generais, coronéis e civis que tramaram, em 2022, para assassinar o presidente eleito Lula da Silva, o vice-presidente Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Ditadura Nunca Mais!
Punição para os torturadores de ontem e de hoje!
SJSP
Fenaj


