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Nosso adeus a Roberto Elias Salomão (1953-2025), jornalista e militante, “um dos imprescindíveis”

Redação - SJSP

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) receberam com enorme tristeza a notícia do falecimento, aos 72 anos, do companheiro Roberto Elias Salomão, ocorrido em Curitiba (PR) no dia 28 de janeiro último.

Salomão graduou-se como jornalista pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA) em 1979. Antes disso, fez parte do processo de unificação de grupos trotskistas que viriam a constituir em 1976 a Organização Socialista Internacionalista (OSI). Tendo participado da fundação do grupo estudantil Liberdade e Luta (“Libelu”), foi um dos dirigentes da greve da ECA em 1975, verdadeiro ponto de virada do movimento estudantil sob a Ditadura Militar (1964-1985), e fator determinante da fundação do Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE-Livre “Alexandre Vannucchi Leme”) em 1976.

Na capital paulista, Salomão atuou profissionalmente na Folha da Tarde e em outros jornais. Participou ativamente da greve dos jornalistas de 1979. Depois, porém, mudou-se para o Paraná, para dedicar-se à tarefa de construir, naquele estado, a corrente política “O Trabalho” e, obviamente, contribuir com a organização do então nascente Partido dos Trabalhadores (PT).

“Sua atuação jornalística também incluiu coberturas emblemáticas, como o artigo ‘Vlado’, publicado na imprensa curitibana e nacional, em que relembrou o assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 1975 e seu impacto no movimento estudantil da USP”, relata, em homenagem prestada no Instagram, o deputado estadual José Rodrigues Lemos, líder do bloco PT-PDT na Assembleia Legislativa do Paraná.

“Hoje todo mundo perde um pouco: a família, os amigos, a política, o PT, todos e todas nós perdemos. Salomão leva consigo um pouco de nós e nos deixa um tanto de si em cada um e cada uma”, escreveu o vereador curitibano Angelo Vanhoni, conhecida liderança do PT paranaense e que, amigo pessoal do jornalista, acompanhou seus últimos dias de vida no hospital em que estava internado.

“Salomão foi presidente estadual do partido entre 1998 e 1999, autor do livro Os Anos Heróicos [Memórias], que conta a história do Partido dos Trabalhadores no Paraná desde seu nascimento. Foi organizador da pequena mas vibrante célula da Libelu, ou Liberdade e Luta, ou OSI, para os mais internacionalistas”, recordou. “Salomão, nosso verdadeiro companheiro, resistiu até o fim de sua vida. Será eternizado em nossas memórias e em nossa luta cotidiana”.

Apesar da histórica vinculação à corrente “O Trabalho”, no final dos anos 1990 ele passou a atuar no grupo “Articulação” (hoje CNB). Depois, retornou à corrente de origem, nela permanecendo até os dias de hoje. Integrou o Comitê Nacional do agrupamento Diálogo e Ação Petista (DAP) e foi o pioneiro da sua comunicação. Embora adoentado, manteve até recentemente a atuação na direção estadual do PT-PR.

Quando jovem, em atividade com o amigo Paulo Leminski. Fto: Reprodução.
Quando jovem, em atividade com o amigo Paulo Leminski. Fto: Reprodução.

“Como um dos coordenadores do Fórum Paranaense pelo Resgate da Verdade, Memória e Justiça, ele nos lembrou constantemente da importância de não esquecermos os crimes e as injustiças do passado, para que pudéssemos construir um futuro mais justo e democrático”, registrou a deputada estadual petista Luciana Rafagnin, que compartilhou uma das reflexões de Salomão sobre o necessário ajuste de contas com a Ditadura Militar: “A busca da verdade, o conhecimento dos fatos reais e o reconhecimento oficial dos crimes, dos criminosos e das vítimas serão a maior homenagem à democracia deste país. O Brasil merece a verdade”. Ele foi membro suplente da Comissão Estadual da Verdade do Paraná, que iniciou suas atividades em 2012 e apresentou relatório final em 2017.

“Figura ímpar. Bondoso, solidário, um ativista incansável. Intelectual do Partido dos Trabalhadores, dedicou sua vida a elaborar discursos, programas de rádio e TV, jornais, comunicados, notas e planos de governo. Um jornalista de escrita impecável, um verdadeiro escriba do idealismo”, comentou o também jornalista Mário Milani.

“Salomão esteve presente em todas as grandes jornadas pela liberdade e democracia: ‘Abaixo a Ditadura’, Diretas Já e todas as eleições em que o PT participou”, destacou Milani. “Em vida, merecia ter sido condecorado por sua bravura”, por haver enfrentado a Ditadura Militar “com coragem e determinação”, enfatizou. “A verdade é que Salomão foi um dos imprescindíveis. Aqueles que nunca se curvaram, nunca desistiram, nunca traíram seus princípios. Seu legado não será apagado, porque sua luta vive na história”.

A direção do PT paranaense também o homenageou em nota oficial: “Como jornalista, teve uma carreira marcada pelo ativismo e por coberturas emblemáticas, sempre tendo compromisso com a verdade. Sua vida é um exemplo de compromisso ideológico e dedicação partidária, valores sintetizados em seu trabalho na redação do livro Memórias, que conta a história do PT-PR”.

Na sua juventude, Salomão foi muito próximo do irrequieto poeta, escritor e músico curitibano Paulo Leminski (1944-1989). A amizade está registrada para a posteridade, em imagens preto-e-branco.

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