O estado de ocupação israelense não parou de mirar nos hospitais palestinos na Faixa de Gaza desde o início da guerra de genocídio, em 7 de outubro passado, ignorando o direito internacional humanitário e os princípios dos direitos humanos.
Com a retirada das forças de ocupação israelenses do Complexo Médico Al-Shifa, no dia 1º de abril, começaram a emergir os efeitos do genocídio, com a revelação do completo desmantelamento dos edifícios do hospital e dos assassinatos sistemáticos, indicativos de um ódio sionista não apenas contra refugiados, equipes médicas e jornalistas, mas também contra os edifícios do hospital, especialmente os prédios de recepção, emergência, cirurgia especializada, nefrologia, maternidade, queimados e clínicas externas, e até mesmo o prédio das câmaras frigoríficas, alvos de incêndio e destruição.
Assim, o maior complexo médico da Faixa de Gaza de serviço foi completamente retirado de serviço. Um membro do comitê de emergência do Ministério da Saúde em Gaza afirmou que todas as instalações do Complexo Médico Al-Shifa não estão mais em condições de operar devido ao incêndio e bombardeio de todos os edifícios do complexo, sem exceção.
Colegas jornalistas relataram que as forças de ocupação israelenses cercaram e invadiram o complexo médico em 18 de março passado com tropas especiais apoiadas por blindados, e prenderam dezenas de refugiados, equipes médicas e jornalistas, levando um grande número de cidadãos palestinos para destinos desconhecidos.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha esclareceu, após a retirada das forças de ocupação do complexo médico, que o hospital foi reduzido a escombros, e os trabalhadores humanitários foram mortos.
A organização acrescentou que menos assistência médica significa menos esperança em Gaza e que cada colapso no sistema de saúde é um desastre para os civis, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que “o Hospital Al-Shifa não é mais capaz de funcionar, e sua destruição significa a remoção do coração do sistema de saúde em Gaza”.
A rádio do Exército israelense revelou que as forças de ocupação mataram 200 palestinos, prenderam outros 500 e detiveram cerca de 900 para interrogatório durante sua operação no Complexo Al-Shifa e arredores, e o correspondente militar do jornal Yedioth Ahronoth (Últimas Notícias), Yoav Zitun, afirmou que instruções foram dadas às forças de ocupação para preferir capturar prisioneiros vivos em benefício do serviço de inteligência para negociar uma troca de prisioneiros, alegando que o hospital foi usado como centro para restaurar o governo civil no norte de Gaza.
As cenas de destruição e assassinato sistemáticos que testemunhamos ultrapassaram todas as expectativas, mostrando um terrível massacre no Complexo Médico Al-Shifa em apenas duas semanas, com corpos de homens, mulheres e crianças espalhados pelos pátios e edifícios do hospital e estradas circundantes, confirmando que Israel, o estado ocupante, continua sua política sanguinária com o objetivo de minar a vontade de nosso povo, e forçar os palestinos a se renderem e aceitarem a derrota, utilizando o desespero para empurrá-los para o deslocamento forçado para fora da Faixa de Gaza.
De acordo com observadores, as forças de ocupação israelenses executaram cerca de 400 palestinos no Complexo Médico Al-Shifa, e seus corpos foram encontrados algemados e com os olhos vendados. Alguns deles foram enterrados e covas de dezenas de mártires foram desenterradas no pátio do complexo médico. As tropas de Israel também executaram famílias inteiras que viviam nas proximidades do hospital, além de destruir e incendiar suas casas.
De acordo com os observadores, as forças de ocupação estão usando o assassinato, derramamento de sangue, fome e sede como passos em direção ao deslocamento forçado do norte do setor para o sul, visando esvaziar o norte de Gaza de seus habitantes, ao mesmo tempo em que confiscam cerca de 16% da área do setor para estabelecer uma zona tampão a uma profundidade de 1 km ao longo das fronteiras norte e leste do setor e a construção da estrada divisória entre o norte e o sul do setor, começando do assentamento de Be’eri a leste até chegar ao mar a oeste, conectando-se ao cais flutuante esperado para ser concluído no final deste mês, dividindo o setor em duas partes e controlando o movimento das pessoas nesta área, impedindo os deslocados de retornarem às suas casas no norte do setor e usando-os como moeda de negociação.
Observadores explicaram que Israel vem empregando as mesmas táticas usadas durante a catástrofe de 1948, embora sejam mais cruéis no extermínio, fome, sede e genocídio, atacando a mídia local e árabe que operava na Faixa de Gaza, visando jornalistas e comunicadores, com mais de 140 jornalistas atingidos, além de visar suas famílias numa tentativa de silenciar e matar a voz da verdade, e impedir jornalistas estrangeiros de acessarem o setor para cobrir os crimes da ocupação.
O estado de ocupação queria que sua máquina de mídia funcionasse na Faixa de Gaza e impediu e bloqueou qualquer mídia local ou estrangeira de trabalhar lá, optando por disseminar a propaganda de acordo com os requisitos da censura militar e espalhar o terror entre o povo palestino, repetindo cenas da Nakba. Na guerra, a primeira vítima é a verdade, como disse o falecido Gerson Knispel.
Israel não se contentou em visar tudo o que é palestino e suas propriedades, roubar e saquear o dinheiro dos habitantes de Gaza, mas também atingiu todas as instituições, incluindo as educacionais e de saúde, e até mesmo os túmulos dos mortos. Desconsidera as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de instituições internacionais e até decisões da Corte Internacional de Justiça que visam evitar crimes de genocídio.
O plano da ocupação é obrigar os cidadãos da região a serem deslocados à força, possivelmente para a cidade de Sinai, no Egito, e para capitais árabes e ocidentais, enquanto Israel ocupa o norte da Faixa de Gaza. Tudo isso é feito com o objetivo de eliminar a questão palestina diante da comunidade internacional.
*Wisam Zoghbour é diretor do escritório da revista Al-Hurriyah em Gaza e do Sindicato dos Jornalistas Palestinos. (Edição do texto: Alexandre Rocha e Pedro Pomar)