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Tony Goes teve vida de luta pelos LGBTs

Após migrar da publicidade para o jornalismo, Tony (1960-2024) tornou-se um dos principais críticos de televisão do país. Também foi roteirista de TV. Ele faleceu em 15/2, devido à metástase de um câncer de intestino

Por Gustavo T. de Miranda*

Trago um relato sobre meu contato com o Tony Goes, e já tem quase 20 nessa conta. Assim que me mudei para São Paulo, em 2003, o conheci, e também a um agitado grupo de blogueiros que se apelidavam de “blogayros”, em torno de uma causa: a da luta pela dignidade entre as pessoas de orientação sexual divergentes.

Recém formado em Jornalismo e iniciando a carreira na Capital, conheci muita gente boa nessa época, no início dos anos 2000. Era gente importante, gente que guardo com muito amor no coração, como o próprio Tony, o jornalista Thiago Lasco, a antropóloga Isadora Lins França, a socióloga Regina Facchini e tantos e tantas que participavam de trocas tão importantes e que me educavam enquanto cidadão gay, enquanto pessoa com direitos e deveres.

Foi um período interessante de transformação da luta das pessoas LGBT no Brasil. Nessa época, ainda não tínhamos nenhum dos ganhos garantidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), havia uma total inércia dos poderes em torno de como lidar com a necessidade de se equiparar direitos, sanar problemas e discriminações. Ainda estávamos saindo do GLS, virando GLBT, até LGBT e todas as posteriores representações de diversidade.

E vivemos tudo ali, no front da coisa. Como comunicadores, criamos “cartilha” para mostrar à população LGBT que ela tinha direitos e que era possível buscá-los. E nesse contexto todo, o Tony sempre foi uma pessoa muito generosa.

Lembro-me de participar de inúmeros destes encontros de blogayros, onde criamos ações não só de conscientização, como de enfrentamento. Fizemos a primeira grande manifestação contra Bolsonaro e suas falas homofóbicas, quando ainda deputado. Ocupamos a Rua da Consolação brigando pelos nossos direitos.

Não estou aqui dizendo que a gente tinha de concordar 100% do tempo com o Tony, ele mesmo saído de um contexto privilegiado e com visões daquele mundo dele. Em muitos momentos, a gente não concordava e estava tudo bem. Sem crises, sem caças às bruxas e com muita elegância.

Ao longo dos anos, nos acompanhamos e Tony puxava papo para celebrar conquistas, para compartilhar também. Fui vendo essa transformação dele também, de publicitário a crítico de televisão de um dos maiores jornais e um dos maiores sites do país, a Folha de S.Paulo e oUOL. Tony era muito especial. Por isso mesmo, gostaria de celebrar sua memória, sua capacidade inventiva e criativa e seu incansável senso de humor e de realização.

Tony celebrava o amor LGBT muito antes de ele virar um direito garantido pela interpretação da Constituição Federal, por parte do STF. Ele era casado com Herbert Richers Jr., com quem formou uma linda família, que sempre dava muito apoio nessa luta pelo direito de sermos quem somos, LGBTs com muito orgulho. Tony Goes, presente.

*Jornalista e diretor de base do SJSP.

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