A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) repudiam a atuação da Polícia Militar no tratamento a profissionais da imprensa nesta quinta-feira, dia 08, na segunda manifestação contra o aumento da tarifa dos transportes públicos, realizada pelo Movimento Passe Livre (MPL), no centro da cidade de São Paulo. Assim como na primeira manifestação, terça-feira (7), a PM paulista reprimiu ativistas, e impediu o livre exercício do trabalho jornalístico, agindo com hostilidade contra repórteres e repórteres fotográficos, com revistas e agressão.
A intimidação a jornalistas teve início logo na concentração do ato, na Praça da Sé. O repórter Arthur Stabile, da Ponte Jornalismo, e o repórter fotográfico Lucas Martins, dos Jornalistas Livres, registravam uma abordagem da PM a manifestantes, quando policiais anunciaram que iriam revistar os jornalistas. Foi feita revista corporal e das mochilas dos profissionais. Segundo relato dos jornalistas, os policiais questionaram se havia algum ilícito na mochila, se eles eram usuários de drogas, e se tinham algum problema com a Justiça. Recolheram os RGs dos profissionais para consulta no sistema online da polícia, e os devolveram depois de alguns minutos. “Foi um cerceamento de um trabalho de imprensa”, diz Arthur. Dois repórteres fotográficos, Paulo Guereta, da Agência Photo Premium, e o freelancer Rogério de Santis, registraram a abordagem aos jornalistas, e por isso também tiveram que apresentar seus documentos aos PMs. Rogério conta ainda que foi impedido pela PM de fotografar, no final do ato. “Três policiais me cercaram e disseram que eu deveria sair ou descer para os trens”, disse. Ações completamente abusivas e com a intenção de intimidar os profissionais.
Outros dois jornalistas foram vítimas de violência física da PM. Na repressão ao ato, o repórter fotográfico Daniel Teixeira, do jornal O Estado de São Paulo, levou um golpe de cassetete nas costelas, mesmo carregando a câmera nas mãos, e devidamente identificado como jornalista. “Eu estava de costas fotografando quando senti a pancada. Eu não sabia o que tinha me atingido até que um colega me contou que viu um policial me dar um golpe com o cassetete. Como tudo aconteceu muito rápido, do início do confronto até a dispersão, eu sequer olhei para trás pra saber o que tinha me acertado, eu estava muito concentrado no que estava acontecendo”, conta Daniel. Outro repórter fotográfico, freelancer, foi atingido por uma bomba de gás nas costas, mas não sofreu ferimentos.
O SJSP e a FENAJ exigem do governo do Estado, comandando por João Doria, o respeito da PM ao exercício profissional dos jornalistas, que têm se tornado alvos de tratamento hostil. Na terça-feira, o repórter fotográfico Rodrigo Zaim chegou a ser detido por policiais militares, sem qualquer alegação plausível que justificasse a prisão. Os jornalistas denunciam que nesses dois atos a PM vem atuando com especial atenção à imprensa, com abordagens direcionadas especificamente aos profissionais da imprensa, na tentativa de intimidá-los e censurar a cobertura. A hostilidade inclui colocar o cinegrafista da PM para filmar os jornalistas, em vários momentos das manifestações. Não se sabe o que é feito com essas imagens.
As entidades também não deixam de chamar atenção para as ilegalidades da PM ao reprimir o próprio ato em si, ferindo a liberdade de manifestação, com presença ostensiva, bloqueios, e lançamento de bombas de gás e tiros de balas de borracha a esmo. A polícia atirou bombas mesmo dentro da estação, afetando trabalhadores do metrô e passageiros que voltavam para a casa, inclusive idosos e crianças. É mais um episódio de violência estatal contra movimentos sociais, desrespeitando direitos básicos como o direito à manifestação, a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, em claro atentado à democracia.
A Comissão Aberta de Combate à Violência contra o Jornalista, do SJSP, manifestou solidariedade aos profissionais agredidos pela PM, e orienta os jornalistas que, em caso de violência, registrem Boletim de Ocorrência em uma delegacia da Polícia Civil próxima ao local da agressão. O registro possibilita a reponsabilização dos autores, a documentação da agressão contra o trabalho da imprensa, e dá mais elementos para cobrar dos órgãos competentes a garantia do direito ao trabalho dos profissionais de imprensa. As empresas jornalísticas também devem priorizar a proteção a seus empregados, e proporcionar a devida assistência jurídica em casos de violência e outros abusos.
Para acessar a cartilha “Violência em manifestações: guia para jornalistas”, clique aqui.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) noticiou o caso. Para ler, clique aqui.