No próximo dia 5 de setembro, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e diversas entidades da sociedade civil realizam dois atos públicos em homenagem ao centenário do jornalista Joaquim Câmara Ferreira, ou comandante Toledo, morto sob tortura pela ditadura militar em 1970. Ele completaria 100 anos exatamente neste dia.
O primeiro ato acontece na rua Joaquim Câmara Ferreira, às 10 horas, no Jardim Tereza, na Vila Brasilândia. Já a partir das 19 horas, ocorre a segunda atividade no auditório Vladimir Herzog do Sindicato (rua Rego Freitas, 530 – sobreloja).
Para os que quiserem participar do ato público na Brasilândia, haverá um ônibus com saída às 9 horas do dia 5, na rua Alfredo de Castro (próximo ao Terminal Barra Funda). As informações deste ato são com o Padre Geraldo (96058 6945) ou Cloves (99210-7376).
Entre os participantes das atividades estarão Roberto Caldieri Câmara Ferreira (filho do homenageado), Rogério Sottili (secretário Municipal dos Direitos Humanos), deputado Adriano Diogo (presidente da Comissão estadual da Verdade Rubens Paiva da ALESP), vereador Gilberto Natalini (presidente da Comissão da Verdade da Câmara Municipal), Comitê Paulista pela Memória Verdade e Justiça, Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça da CUT e o próprio SJSP, entre outros.
Quem foi Joaquim Câmara Ferreira
Joaquim Câmara Ferreira, sócio de número 432 do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) nasceu em São Paulo e foi diretor de vários jornais do PCB, ao qual se filiou em 1933.
Com o início do Estado Novo, em 1937, partiu para a vida clandestina Detido pela polícia política da ditadura Vargas na gráfica do PCB, onde estava trabalhando, ficou vários anos preso e foi muito torturado, a ponto de perder definitivamente as unhas das mãos. Em 1946, Toledo, ou Velho, como também era conhecido, elegeu-se vereador em Jaboticabal, interior de São Paulo, mas perdeu o mandato quando foi cassado o registro do PCB.
Em 1964 foi preso por fazer uma conferência para operários em São Bernardo do Campo sobre “o papel da imprensa na luta pelas reformas de base”. Libertado pouco tempo depois, foi condenado à revelia a dois anos de reclusão. Participou da elaboração do “Manifesto do Agrupamento Comunista de São Paulo” em 1967, que provocaria uma cisão no PCB e a criação da Ação Libertadora Nacional (ALN). Quando Carlos Marighella foi morto pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, em novembro de 1969, em São Paulo, Câmara Ferreira estava em Cuba, mas logo voltou ao Brasil para assumir o comando da ALN no lugar de Marighella.
Menos de um ano depois, no dia 23 de outubro de 1970, por volta das 19 horas, Câmara Ferreira foi preso, também pela equipe do delegado Fleury, no bairro de Moema. A tortura começou já no carro de polícia que o levou para o sítio clandestino de Fleury, onde morreu após algumas horas de maus-tratos. A nota oficial do DOPS paulista atribuiu a morte do dirigente da ALN a problemas cardíacos resultante do fato de ter reagido à prisão e lutado com os policiais.
Essa versão, entretanto, foi desmentida pela presa política Maria de Lourdes Rego Melo, que relatou a prisão de Toledo, a viagem ao sítio de Fleury e a morte sob tortura. Câmara Ferreira chegou a ser atendido por um médico, levado pelo delegado para que o mantivesse vivo por mais tempo na tentativa de conseguir informações relevantes sob tortura. O corpo de Câmara Ferreira foi sepultado pela família no Cemitério da Consolação.