Enfrentamento à violência policial contra jornalistas e a defesa dos direitos trabalhistas marcaram a solenidade
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) foi homenageado pelos 80 anos de fundação da entidade
O Sindicato completou oito décadas no último 15 de abril e a relevância da entidade para defesa dos direitos da categoria e para a democracia do país nestes 80 anos foram destacados nas intervenções dos participantes.
Com o Brasil novamente numa conjuntura de golpe, aumentam os casos de agressões, de cerceamento à liberdade de imprensa e de exercício profissional e, por isso, além de homenagens, a união em torno do enfrentamento da violência contra os jornalistas também marcou a solenidade.
No início da sessão, a Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos no Estado de São Paulo (Arfoc-SP) apresentou um vídeo que documenta vários desses casos de violência e, após a exibição, a repórter Daniella Laso, da Rádio CBN, recordou a apreensão de seu celular pela Polícia Militar de São Paulo, em agosto de 2016. Na ocasião, após ameaçar prender a jornalista, os policiais tomaram o celular e apagaram vídeos que registravam a ação da PM ocorrida na “Cracolândia”, no bairro da Luz.
Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, relatou detalhes da condução coercitiva que sofreu pela Polícia Federal (PF), no último 21 de março. Além do apartamento invadido e vasculhado, o blogueiro teve celular e notebook apreendidos e informações pessoais devassadas pela PF. O intuito era o de violar o sigilo da fonte porque Guimarães havia vazado a informação de que o ex-presidente Lula seria conduzido coercitivamente, o que forçou a PF a adiar a ação no ano passado.
“O que houve comigo foi censura, planejada e autorizada pela Justiça e com aparato. Foi um recado a outros blogueiros que, como eu, têm incomodado essa ditadura”, disse o blogueiro.
Outro golpe e a mesma polícia da ditadura
Na tribuna da Câmara paulistana, Paulo Zocchi, presidente do Sindicato, destacou que a PM é autora da maioria das agressões contra jornalistas no estado de São Paulo e avalia que não se trata de uma agressão dirigida aos profissionais da comunicação, mas que está no contexto de ataque da polícia à liberdade de manifestação e de expressão em geral, como ocorre com os movimentos sociais e sindical.
“É uma PM que atua no sentido contrário à Constituição, pois deveria garantir a realização das manifestações se fosse uma polícia cidadã. Ao atingir esses protestos de maneira arbitrária e violenta, a PM atinge o jornalista porque a corporação não quer que essa ação seja registrada, reportada e divulgada amplamente”, disse o sindicalista.
Desde dezembro passado, a entidade reivindica uma audiência com Geraldo Alckmin (PSDB) para tratar dessa situação de violência e a agenda foi marcada para a próxima segunda-feira (8), depois de três adiamentos a pedido do governador.
De acordo com dados do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil 2016, divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o estado paulista responde por quase 30% dos registros de violência contra a categoria no país – dos 161 casos no Brasil, 44% (71) ocorreram na Região Sudeste e, destes, 27% (44) foram em SP – 70% (31) na capital. O crescimento foi de 83% em 2016 na comparação com o ano anterior e, considerando somente as agressões físicas, o salto foi de 155% – de nove para 23 registros no ano passado.
Segundo Audálio Dantas, que presidiu o SJSP de
Homenagem e defesa dos direitos trabalhistas.
A conjuntura de desmonte dos direitos trabalhistas em meio ao golpe em curso no Brasil também pautou a Sessão Solene. Zocchi destacou as ações promovidas pelo Sindicato antes mesmo da concretização do golpe em 2016, desde a participação em protestos, mobilizações e um abaixo-assinado com mais de dois mil jornalistas contra o impeachment, entregue ao Palácio do Planalto com o posicionamento da categoria.
Para o presidente da entidade, o golpe em curso ultrapassa a questão da democracia porque ele é contra a soberania nacional e contra os direitos trabalhistas que têm sido construídos.
“Não se trata de briga por uma caneta, mas um ataque para desmonte da aposentadoria pública e dos direitos trabalhistas. Vamos continuar na luta independente do que aconteça. Tudo o que eles nos tirarem vamos lutar para reconquistar. Esse é o sentido e a disposição do sindicato”, ressaltou.
No final da solenidade, além do atual presidente do SJSP, foram homenageados os ex-presidentes Audálio Dantas, Everaldo Gouveia, Fred Ghedini, Robson Moreira e José Augusto Camargo, atual vice-presidente da Fenaj.
Pelo Dia do Jornalista, entidades e organizações também receberam homenagem no evento, entre as quais a Arfoc-SP, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Profissão Jornalista (APJ) e a Oboré Projetos Especiais em Comunicação e Artes. A solenidade contou ainda com a presença de representantes da Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos.
Escrito por: Flaviana Serafim – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Foto: Cadu Bazilevski