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Sindicato de luta, legado de Audálio Dantas

Sindicato de luta, legado de Audálio Dantas

Mais de vinte jornalistas conscientes e corajosos do jornal Correio Popular, de Campinas, publicado pela Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), participam de uma histórica greve que já passa dos 140 dias no fechamento desta edição. O movimento impressiona pela firmeza e pela determinação na luta, tornando-se um exemplo para toda a categoria.

Antes de decidir pela paralisação, os jornalistas demonstraram uma paciência enorme, pois os salários vinham atrasando havia quase um ano e meio. Sempre com o acompanhamento do Sindicato, tentou-se de tudo para chegar a um acordo de normalização dos pagamentos. Cada medida acertada com a empresa, porém, via-se frustrada em seguida por seu não cumprimento.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) buscou, desde o começo, trazer os sindicatos das categorias afins para um movimento unitário, visto que o problema atingia igualmente gráficos e trabalhadores administrativos. Isso reforçou a resistência. Em meados de fevereiro, decidiu-se então pela greve, que contou desde o início com a adesão de pouco mais de metade da redação. Apoiando-se nos que decidiram furar a greve, a empresa manteve o jornal saindo – ainda que com a qualidade bem prejudicada – e apostou na falta de fôlego do movimento. Pois quebrou a cara!

O SJSP organizou coletivamente um fundo de greve, e várias atividades foram realizadas pelos jornalistas para sustentar e divulgar sua paralisação. E a Justiça deu razão integral aos trabalhadores: o TRT julgou a greve legítima, determinando o pagamento dos dias parados e uma multa diária, a ser paga pela empresa, de R$ 500 por trabalhador, caso não pague os atrasados em cinco dias. A sentença está suspensa até a apreciação de embargos judiciais impetrados pela RAC. Ainda assim, a empresa insiste em buscar meios de burlar as determinações legais como, por exemplo, chamar gente ilegalmente para cobrir o trabalho dos grevistas.

Momento é de resistência

O movimento dos trabalhadores da RAC é uma importante expressão de um novo momento vivido por nossa categoria. À precarização e ao desrespeito que já marcavam as relações de trabalho, somou-se a avalanche destruidora da “reforma” trabalhista. As empresas sentem-se em condições de ampliar o desrespeito aos jornalistas. Sabe-se que é obrigação de qualquer empresa pagar os salários em dia, mas, em caso de dificuldade – e se não houver reação coletiva –, alguns empresários consideram mais barato atrasar o que devem aos trabalhadores do que pagar empréstimos bancários para manter os pagamentos em dia.

Outros exemplos da maior pressão sobre a categoria são a ampliação da carga de trabalho sem contrapartida, a redução de escalas, a falta de correção dos salários, a imposição de jornadas extensas com acordos individuais, que atingem diversas empresas. Com tudo isso, nos últimos tempos, greves aconteceram em várias redações paulistas – como o Diário de S. Paulo, o R7, a RTV Cultura e a EBC. O exemplo da RAC é o mais extremo.

Com o aumento da precarização e o desmonte causado pela “reforma”, há um agravamento dos conflitos trabalhistas. Tudo isso chama a atenção para a importância do Sindicato como instrumento de defesa coletiva das condições de trabalho e de luta para a garantia de direitos.

Não é uma coincidência que a “reforma” trabalhista, ao mesmo tempo em que retira direitos, ataca de frente a sustentação das entidades sindicais. Tenta-se desarmar e fragilizar os assalariados diante da piora das condições de trabalho.

Há anos nosso Sindicato tem como prioridade avançar no rumo da autossustentação financeira por seus filiados. Mas continuava dependente das contribuições compulsórias dos não-sindicalizados, como o imposto sindical e a contribuição assistencial, heranças do passado. Um ponto fraco, que a “reforma” atingiu em cheio.

Decisão é coletiva

Agora, nossa categoria encontra-se frente a uma decisão coletiva: se quisermos continuar a construir um Sindicato atuante, forte, combativo e estruturado para enfrentar os enormes desafios colocados para a defesa dos jornalistas e do jornalismo – em um ambiente de mudança tecnológica e redução da proteção legal – é preciso que nos apropriemos amplamente do Sindicato, garantindo sua sustentação material e política, ampliando maciçamente a sindicalização. Esse convencimento tem de ser feito por todos nós, sindicalizados e sindicalizadas, em relação a cada colega, pois os benefícios serão sentidos por todos.

Trata-se de manter o legado do grande Audálio Dantas, cuja perda recente lamentamos profundamente, e cujo extraordinário exemplo nos impulsiona. Maior nome da história deste Sindicato, presente por décadas em nosso cotidiano, tornou-se um dos mais importantes homens públicos do Brasil, destacando-se como jornalista e escritor, sempre ligado à defesa dos direitos humanos. A ele, nossa homenagem. A nós, uma lição de vida e um exemplo a ser seguido.

Direção do SJSP

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