Nesta quarta-feira, 16 de abril, a jornalista Girrana Rodrigues, da TV dos Trabalhadores (TVT), foi retirada do auditório da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e impedida de concluir o trabalho de reportagem ao vivo sobre o anúncio da identificação, pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), dos restos mortais de dois desaparecidos políticos da Ditadura Militar (1964-1985), Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro, que se encontravam na chamada Vala de Perus.
Uma servidora da Reitoria da Unifesp, que trabalha na equipe cerimonial, recorreu ao toque físico, retirando Girrana do local durante a transmissão ao vivo da atividade. “A cerimonialista me puxou pelo braço enquanto eu estava ao vivo e me fez sair do auditório”, conta a repórter da TVT. “Primeiro ela tentou retirar o cinegrafista e ele argumentou que estava ao vivo. Como não teve sucesso, ela me interrompeu no meio da gravação falando para eu me retirar”. Momentos antes, outro repórter, da TV Globo, havia gravado uma passagem no auditório, sem ser interrompido.
Questionada sobre a interrupção, a servidora da Unifesp alegou que Girrana estava falando alto e assim perturbando o evento. Posteriormente, o chefe de gabinete da Unifesp, Dan Levy, procurou remediar a agressão cometida contra a repórter da TVT, convidando-a a retornar ao auditório para finalizar a reportagem, mas Girrana já não tinha condições emocionais para terminar o trabalho.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiam energicamente a atitude da cerimonialista, tanto por atentar contra a liberdade de imprensa como por constranger fisicamente a repórter.
É lamentável e deprimente que o gesto de covardia praticado contra uma profissional da imprensa tenha ocorrido dentro de uma universidade pública, e pior ainda, durante um evento que desvela os avanços do Projeto Perus, que investiga o DNA das ossadas de dezenas de pessoas enterradas clandestinamente no Cemitério de Perus, e do trabalho da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), tão relevante para o resgate da memória, verdade e justiça.
O SJSP e a Fenaj consideram que jornalistas têm pleno direito de exercer o seu trabalho e que é sua missão informar a população da melhor forma possível. Por isso, solicitam à direção da TVT que tome providências no sentido de proteger sua equipe de jornalismo, cobrando da Unifesp as devidas explicações. “Duvido que, se o meu microfone fosse outro, ela tivesse me retirado. Às vezes, o pessoal esquece quem está realmente preocupado com a defesa da democracia”, desabafou Girrana, que também é diretora do SJSP.
Ademais, o SJSP e a Fenaj cobram enfaticamente da Reitoria da Unifesp que apure o cerceamento cometido por sua assessora contra a equipe de jornalismo da TVT, e especialmente a agressão por ela praticada contra Girrana. E, ainda, que explique se essa infeliz e inaceitável iniciativa partiu da própria funcionária ou se resultou da ordem de algum gestor da universidade. Seja como for, a Unifesp deve explicações pelo ocorrido.
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