Morre o religioso e símbolo progressista da luta pelos Direitos Humanos
Faleceu na quarta-feira (14), aos 95 anos, o arcebispo emérito de São Paulo e cardeal dom Paulo Evaristo Arns. Chamado de Cardeal da Liberdade devido à longa vida de luta pelos Direitos Humanos no Brasil, especialmente durante a ditadura militar, o religioso estava internado desde o último dia 28 com problemas pulmonares.
Com passagens marcantes na jornada de luta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), dom Paulo foi lembrado com carinho e admiração pelo ex-presidente do SJSP, Audálio Dantas, que contou como o cardeal se opôs publicamente contra as prisões arbitrárias nos anos de chumbo.
“Muitas vezes bati à porta de Dom Paulo. Principalmente nos momentos de aflição, quando a violência da ditadura militar atingia os jornalistas, como aconteceu nos dias de tensão e medo de outubro de 1975, quando o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado numa dependência do II Exército.
Ele sempre me recebia com uma palavra: “Coragem”. Vinham-me à mente os versos do Salmo:
“Ainda que eu ande por um vale tenebroso, não temo mal algum, porque tu estás comigo”.
Dom Paulo estava comigo, assim como estava com todos os que batiam à sua porta.
Ou com os encarcerados, nas prisões da ditadura.
Ou com os operários, nos piquetes das fábricas.
E com todos os que clamavam por justiça, onde quer que fosse.
E com as famílias dos mortos e desaparecidos.
Em muitos desses encontros eu estive com ele. Como num ato público em que o clamor das famílias estava estampado numa faixa:
“Onde estão nossos familiares mortos e desaparecidos?”
Dom Paulo não tinha a resposta, mas tinha uma palavra de incentivo à luta por Justiça: CORAGEM.”
Apesar do tempo que amarelou matérias históricas com registros de momentos marcantes vividos por dom Paulo, como a missa póstuma do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no DOI-Codi de São Paulo, os jornalistas ainda hoje lembram das palavras firmes e solidárias de Arns que romperam o silêncio na Catedral da Sé em 31 de outubro de 1975: “Ninguém toca impunemente no homem!”.
Ao final da vida, quando lhe perguntavam como gostaria de ser lembrado pela história ele dizia “amigo do povo”. O SJSP lamenta profundamente a partida de dom Paulo Evaristo Arns. “Vá em paz, amigo”.
São Paulo, 15 de dezembro de 2016
Direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo